Sociedade

Vacina renova esperança de idosos no Lubango

Arão Martins | Lubango

Jornalista

A chuva “miúda”, que caiu na manhã de terça-feira, 30 de Março, foi incapaz de impedir Kinanga Sofia, 22 anos, de levar a avó Malenko Elizabeth, 90 anos, ao Pavilhão Multiusos da Nossa Senhora do Monte para receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19.

06/04/2021  Última atualização 08H13
© Fotografia por: Arão Martins | Edições Novembro
A anciã, natural da província do Uíge, reside no bairro Comandante Nzaji, vulgo Casa Pato, na cidade do Lubango, há 30 anos. Sentada numa cadeira de rodas, empurrada pela neta, Malenko Elizabeth manifestou alegria por ter sido imunizada à Covid-19. "Essa vacina renova a minha esperança. Não podia perder esta oportunidade”, disse, demonstrando que, apesar da idade avançada, ainda goza de alguma lucidez. 

Feliz pela imunização da avó, Kinanga Sofia frisou que a vacina representa um sinal de dias melhores, principalmente para os idosos, que são pessoas de risco. "Por causa da idade de risco da avó, mudamos o modo de vida. Ficámos felizes quando foi anunciado o início da vacinação no Lu-bango. Depois de ter sido imunizada, ela está mais animada”, disse, revelando que a anciã padece de outras comorbilidades, como hipertensão e diabetes. "Os conselhos dos técnicos de Saúde foram úteis e serão cumpridos na íntegra”, assegurou.

À semelhança de Kinanga Sofia, a paciência de António João, que levou o avô, de 69 anos, à vacinação contra a Covid-19, começa logo no parque de estacionamento. Ao descer da viatura, os cuidados aumentavam para não tropeçar, já que o avô apoiava-se a uma bengala para caminhar."O meu avô é uma pessoa de risco, por isso foi priorizada a receber a vacina. Não podia perder esta oportunidade”, disse António João, que a passos lentos, devido à idade do avô, fez todo o percurso do parque de estacionamento até à mesa onde este foi imunizado.

"Esta pandemia colocou o mundo de joelhos. Parecia que estávamos condenados, mas esta vacina é uma luz no fundo túnel e a esperança de voltarmos à normalidade”, referiu.
Residentes no município da Humpata, a 22 quilómetros da cidade do Lubango, o casal José Rodrigues Andrade, 76 anos, e Maria Baptista Andrade, 75, não quiseram perder a oportunidade de serem imunizados contra a Covid-19.

Para chegar ao posto de vacinação, o casal viajou durante 50 minutos, a bordo de uma viatura de marca Toyota Corolla. No local, José Rodrigues e Maria Baptista Andrade caminharam de mãos dadas até às mesas de vacinação, onde foram imunizados.   
Feliz por receber a primeira dose da vacina, José Rodrigues Andrade enalteceu a iniciativa do Executivo de imunizar a população da província, principalmente os idosos. "Estou satisfeito com o Governo, porque, desde o surgimento dos primeiros casos no país, não baixou os braços, no sentido de garantir a segurança dos angolanos perante este inimigo invisível”, disse.

À semelhança do esposo, Maria Baptista Andrade também manifestou satisfação com a organização, rapidez e simplicidade dos vacinadores. "O processo é tão rápido que nem damos pelo tempo”, realçou.
Depois de vacinados, ao casal foi recomendado a evitar o consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco, durante três dias. "São vícios que nunca praticámos”, garantiram.


"Tenho mais medo da Covid-19, que da vacina”

Fernando Moutinho, 60 anos, morador nos arredores do Complexo Turístico da Nossa Senhora do Monte, não vacilou ao tomar conhecimento do início da campanha de vacinação contra a Covid-19. Foi o primeiro a apresentar-se na área de pré-cadastramento. Depois da pré-triagem, Nando Moutinho, como é tratado pelos mais próximos, foi imunizado.

Segundo ele, o processo foi fácil, seguro e rápido. "Em cinco minutos recebi a vacina”, disse, admitindo que "tenho mais medo da Covid-19, que da vacina, que é fácil e eficaz”.
Tranquilo, Nando Moutinho aconselhou toda a gente a seguir o mesmo exemplo. À reportagem do Jornal de Angola lembrou que o primeiro ano da pandemia foi terrível. "Foi caótico. Felizmente, o Executivo tomou medidas mais eficazes que ajudaram a salvar muitas vidas”, disse.

O anúncio do início da vacinação contra a Covid-19 foi, também, comemorado pelo idoso António Paulo, um dos moradores do bairro Chioco, que recebeu a primeira dose da vacina, logo no primeiro dia.

        
Sexo só depois
de três dias

Eduardo Manuel, vacinador, é o coordenador da mesa nº1. Explicou que, antes de aplicar a vacina, são transmitidos conselhos úteis aos utentes, que durante três dias devem abster-se de relações sexuais, consumo de bebidas alcoólicas e de tabaco. "Os estudos não indicam exactamente o que pode acontecer com quem infringir essas regras. Porém, é melhor cumprir as recomendações”, aconselhou.

Eduardo Manuel alertou que, depois de ser imunizado, podem surgir pequenas dores nas articulações, ligeiras febres, náuseas e outras reacções adversas. "São sintomas normais e passageiros. Quem tiver ligeira dor de cabeça pode tomar um analgésico (Paracetamol ou Dipirona)”, orientou.

As mulheres em período de gestação, explicou, não podem fazer a vacinação. "E aquelas que não estejam grávidas, depois de serem vacinadas, durante 30 dias, não podem engravidar, porque pode afectar o desenvolvimento do feto”, alertou.
"Durante a vacinação, alguns interrogam se a pica dói. Outros têm medo de possível reacção adversa. Como técnicos temos tido o cuidado de preparar psicologicamente o utente. É uma vacina boa”, assegurou.

Questionado sobre a falta de uso de luvas na vacinação, Eduardo Manuel respondeu: "na técnica aprendida, só se usa a luva durante a injecção endovenosa, que é administrada na veia, onde há sangramento. Para os casos extra-musculares não se exige o uso da luva”, esclareceu.


Rápido e seguro
O governador da Huíla, Nuno Mahapi Dala, e o delegado do Ministério do Interior e comandante provincial da Polícia Nacional, comissário Divaldo Martins, estavam entre aqueles que foram vacinados um pouco depois do processo ter arrancado na cidade do Lubango.

Ambos consideraram "simples, rápido e seguro” o processo e encorajaram todos os profissionais da linha da frente, idosos e pessoas com comorbilidades a aderirem à campanha de vacinação.
Nuno Mahapi Dala foi o primeiro a ser vacinado. Depois dos 15 minutos de repouso, garantiu sentir-se bem, tal como quando saiu de casa. "Até agora não tenho qualquer complicação. Estou aqui. A vacinação é rápida e segura. Todos devem apanhar a vacina para podermos ter uma província livre do vírus”, apelou.

Por seu lado, o comissário Divaldo Martins reconheceu que as acções do Executivo, de cuidar bem a população, surtiram efeitos positivos. "Temos apenas o dever de aderir à campanha e ser vacinados”, defendeu.

Adesão positiva
A directora do Gabinete Provincial da Saúde garantiu que a adesão de  idosos, educadores de infância, professores e técnicos de Saúde tem sido positiva. Luciana Guimarães destacou o papel dos órgãos de comunicação social públicos e privados na sensibilização e mobilização da população para acorrer em massa à vacinação.

"Continuamos à espera de todas as pessoas consideradas prioritárias para serem vacinadas”, disse, assegurando que "a vacina é segura e eficaz”.
A directora do Gabinete Provincial da Saúde referiu que continua a busca activa de possíveis casos de Covid-19. Acrescentou que, tirando um ou dois, todos os municípios da Huíla já registaram casos da pandemia.

"São situações pontuais que foram identificadas e estancadas. É normal por causa da mobilidade das pessoas”, disse, apelando ao uso contínuo da máscara.
Luciana Guimarães salientou que toda a pessoa que recebeu a primeira dose, quando decidir viajar, deve obrigatoriamente fazer o teste à Covid-19.

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