Cultura

Vida de doação aos outros

Bibiana Daniel dá corpo ao princípio da caridade através da Associação Ndona Charity, que fundou em 2018, em Paris. Ndona é um termo kikongo que significa rainha. Este ano, a Associação Ndona Charity lançou um projecto ligado à prevenção de doenças cardiovasculares.

18/04/2021  Última atualização 07H00
Bibiana Daniel © Fotografia por: DR
Fale-nos da Associação Ndona Charity...
A Ndona Charity é uma associação franco-angolana criada em 2018 em Paris, França, com o raio de acção internacional (Angola, Portugal, Brasil e Moçambique) e tem como objectivos a prestação de assistência aos lusófonos que chegam à França, com realce aos adolescentes, idosos, sem-abrigo e mães solteiras e a prestação de assistência a crianças, adolescentes e jovens em situações de vulnerabilidade em Angola, fornecendo-lhes bens de primeira necessidade. Outrossim, a associação desenvolve também projectos ligados à saúde das populações rurais e periféricas, o combate à prostituição, às drogas, malária, tuberculose e ao tabagismo no seio da comunidade juvenil, além de capacitar e empoderar jovens e adultos, exercer acção solidária e organizar encontros, conferências, workshops, seminários de capacitação e mesas redondas para a promoção do intercâmbio juvenil, com incidência para as meninas e mulheres.


Que apoio a organização presta aos cidadãos lusófonos que vão à França?
Prestamos assistência em todas as áreas, nomeadamente, administrativa, em relação à língua e na integração social.


Que trabalho é que desenvolvem com mães solteiras?

Graças aos nossos parceiros, sociólogos, psicólogos e médicos, damos apoio moral e material.


Antes de ir para França já esteve envolvida, em Angola, em acções de solidariedade. É algo que lhe está na alma?  
Eu nasci para servir. Servir é o meu maior propósito de vida. Faz agora vinte anos desde que comecei a fazer este lindo trabalho. Sou madrinha de duas escolas primárias na província do Bengo; em 2012, fundei o projecto Acção Solidária para apoiar trezentas famílias que tinham ficado desalojadas por causa da chuva, também no Bengo; apoio o Centro Santa Madalena, no Cazenga, um centro de acolhimento de crianças; apoio mães solteiras e hoje sou fundadora e presidente da Associação Ndona Charity.

 
A associação realizou, na segunda semana de Março, na Mediateca do Cazenga, um workshop sobre o impacto das doenças cardiovasculares. O que esperavam dessa actividade, do ponto de vista dos resultados?
Os resultados esperados eram a melhoria do entendimento público sobre o AVC, o reforço do conhecimento científico em matéria de AVC e do seu impacto na qualidade de vida da comunidade. Pensamos que foi mais uma contribuição para a criação de políticas conducentes a mitigação do impacto negativo do AVC.


Qual é a razão do AVC, do ponto de vista da prevenção, ser uma das prioridades do seu projecto?
Segundo a Organização Mundial da Saúde o AVC é a segunda doença mortal no mundo. Após a morte da minha mãe, a associação lançou o projecto "Ongani, Saber, Prevenir e Cuidar” em homenagem a ela, que foi vítima de um AVC no dia um de Janeiro deste ano. O projecto tem como objectivo principal reforçar a consciência pública sobre as formas de prevenção e diagnóstico da doença em Angola, através de seminários, palestras, workshops e mesas redondas nas comunidades. Não tive a oportunidade de ajudar a minha mãe quando ela precisou, mas sou grata a Deus por cada aprendizado. O outro motivo foi saber que, infelizmente, muita gente morre por falta de pessoas preparadas ou com conhecimentos básicos sobre o AVC. Por exemplo, os três sinais do AVC, como se prevenir da doença.


Enquanto a maioria dos jovens está mais envolvida em projectos que geram dinheiro, a Bibiana preferiu dedicar-se mais ao trabalho de servir os outros...
[Risos] Servir é um dom divino. Sou muito grata a Deus por me escolher para realizar estas obras. Eu não nasci num berço de ouro, mesmo assim, tirava sempre alguma coisa para dar a quem precisava. Sou muito sensível e não aguento ver pessoas a sofrer. Nos meus 14 anos, lembro-me que houve um tempo em que não tínhamos nada para comer. Sobrevivemos graças a uma vizinha e amiga nossa que tinha uma cantina e dava-nos sempre algo para comer.


O espírito de serviço é uma marca da Associação Ndona Charity?
Servir requer entrega de si e às vezes isso pode causar-nos problemas. Cada dia é um aprendizado. Digo sempre que a solidariedade é composta de vários elementos: o amor, a empatia, a disposição, o dom de si, o trabalho, a paciência, a disciplina, a coragem, a determinação e muita fé em Deus. Sinto-me como instrumento de Deus. Termino dizendo que existe magia quando nos sacrificamos pelos outros.


Que impacto a solidariedade pode ter na sociedade?

Grandes mudanças. A solidariedade é capaz de transformar a nossa sociedade. Seja praticando actos de bondade, tendo empatia, doando seu tempo e/ou recursos financeiros. O importante  é fazer o bem sem olhar a quem. O amor ao próximo é o princípio da caridade. Existe milagre quando ajudamos os outros.


Angola é um país com muita gente carenciada. Qual deve ser o papel da sociedade na minimização do problema?
Implementar acções que façam com que os pobres deixem de ser pobres. Destinar recursos suficientes para que os pobres avancem a um ritmo mais acelerado que os mais ricos.


Conte-nos como foi o seu encontro com Muhammad Yunus...
Encontrei-me por acaso com o professor e doutor Muhammad Yunus em 2019, no Palácio dos Congressos em Porte Maillot, na décima terceira edição do Fórum Nacional das Associações e Fundações, um evento anual de dirigentes e responsáveis associativos. Sendo fundadora e presidente de uma associação tive a sorte de receber por quatro vezes o convite para participar neste evento e Muhammad Yunus era um dos convidados de honra da edição de 2019. No momento em que fazia a visita para conhecer alguns projectos das associações, havia muita gente à sua volta, entre seguranças e agentes da organização e outros que queriam fazer com ele uma fotografia. Eu estava a conversar com um expositor e foi na altura que ele passava que os nossos olhos se bateram, e, como ele parou, aproximei-me dele, então ele pegou na minha mão e disse em inglês: "Tu és um ser da luz. Permaneça neste caminho para que Deus a abençoe”. Foi nesse momento de emoção que tiramos uma fotografia juntos.

Perfil
Nome :Bibiana Daniel
Idade:35
Signo:Capricórnio
Naturalidade: Luanda
Ocupação social: Empreendedora e fundadora da Associação Ndona Charity
Filhos :Uma (Princesa)
Estado civil :Solteira
Religião :Evangélica
Virtude.Carismática
Defeito: Exigente
Perfume :Guerlain, Mon Parfum
Hobby :Fotografia  
Cidade :Paris
Livro .A Bíblia
Música: Louvor "Mon Meilleur Ami”
Filme :Filmes de Natal
Conselhos :"Busquem outras fontes de conhecimento. Provoquem as coisas para que aconteçam. Façam as coisas com o coração. Nós somos os responsáveis pela mudança da nossa nação, que começa em casa, nas pessoas próximas”. 

António Capapa

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