Cultura

Vida e trajectória literária de Lopito Feijó

Adriano Mixinge

Escritor e Jornalista

Se a poesia é um lugar, então, é nele que Lopito Feijó habita há muitos anos: não sei se será, exactamente, desde o dia em que nasceu, mas sei que é desde o dia em que decidiu que a poesia formaria parte da sua vida.

25/04/2021  Última atualização 09H12
© Fotografia por: DR
Começou, nos idos anos 80 do século passado, a actuar e a viver em correspondência com a complexidade de um mundo em que a linha divisória entre a lucidez e a ebriedade, entre a claridade e a escuridão, entre a ideologia e o bem se foi tornando mais difusa, menos drástica, mais confusa, menos definida: mas, ele sobreviveu e conseguiu conservar a réstia de pureza que o permitem, dia após dia, viver na poesia, pela poesia e em poesia.

Mesmo tendo bebido parte do veneno, entre as benesses da época, ele sobreviveu àqueles anos de ferro, de pedra e de vaidade, onde a fealdade (o oportunismo e a corrupção) de uns era o pretexto para assumir que todos deveriamos abdicar do desejo e da vontade de viver belamente, na justa medida dos resultados do nosso trabalho e dos nossos sonhos, alguns concretizados e outros para os quais restou, apenas, o olvido.
Se a poesia é um rio, cada verso que ele escreve é uma parte da correnteza e da história: foi a outros poetas angolanos buscar o que lhe interessava, depois, para poder então inventar uma saída para as suas paixões e, principalmente, um poiso para a sua criatividade.  
Se a poesia é um altar, então, cada gesto do poeta, cada livro e cada experiência é um objecto de culto: a certeza de que ele existe, porque ele vive, também, através deles num ritual que seguramente nunca terminará enquanto a poesia que Lopito Feijóo escreve for recitada, nas próximas gerações: é para eles que o poeta dedica actualmente a maior parte do seu tempo, um tempo que passou a ser de todos, porque ele partilha, nas redes sociais, - a vitrina do tempo em que vivemos -, cada detalhe da sua vida em poesia.
Se a poesia é um compromisso, então, é indispensável hoje, no dia em que se outorga o Prémio Guerra Junqueiro ao poeta Lopito Feijó, ler e analisar o que ele nos diz no seu "Poema primeiro da causa”  - é o título deste que, considero, é um dos poemas que sintetiza melhor o que ele fez e continua a fazer ao longo de todos estes anos.
E o poeta, na sua voz programática, nos diz:

"Não importa a cor não importa a dor / - viva a maciez do oiro // Não importa a voz não importa a foz / - viva o caudal do riso. // Não importa o berço não importa a bênção / - viva a escavação do incauto. // (Extrair do humano o jorro bicôncavo do bicho-da-seda. / Assumir a sede de um outro irmão canalizar o milho en- / tre nós abundante reconduzindo à lavoura a idade leal) // Não importa a malha não importa a falha / - importa a função do lema / Não importa o galardão não importa a geração: / - importa a assumpção da causa!”

Se a poesia é uma causa, esta é, seguramente, aquela causa que salvou o poeta de todos os perigos com que se confrontou na vida: é ela que faz que hoje ele escreva, respire e cante para, de certa forma, também, salvar-nos.
Independentemente deste e de outros prémios que, porventura, venha  a receber, a poesia de Lopito Feijó tem tudo para assumir-se, também, como um vector de transformação da história da poesia e da literatura angolana: experimentação, oportunidade, ousadia, humor, boémia, sensualidade, sensatez, crítica social e doutrinas são os ingredientes que  a compõem.

Sendo como já é uma parte integrante do canône da poesia angolana moderna e contemporânea, dos anos 80 do século XX, seguramente, as gerações vindouras a revisitarão para compreender melhor os tempos em que hoje nós vivemos: elas, as futuras gerações lerão a poesia de Lopito Feijóo, para salvar-se individual e colectivamente.
Se a poesia é um lugar, rio, altar, compromisso e causa: é nela que Lopito Feijóo terá mais oportunidades para ficar e a habitar, para sempre.

* Historiador e Crítico de Arte. Texto lido na cerimónia de entrega do Prémio Literário Guerra Junqueiro, na sede da UEA, no dia 21 de Abril de 2021


SÃO DE TIRAR O FÔLEGO
As palavras mais longas

Sabe o leitor qual é a maior palavra da língua portuguesa registada em dicionário? Então, respire fundo, prenda o fôlego e diga:  "pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico”.
Com 46 letras, a palavra foi registada em 2001 no dicionário Houaiss e descreve o indivíduo que possui doença pulmonar causada pela inspiração de cinzas vulcânicas.
Mas apesar do tamanho essa está longe de ser uma das maiores palavras do mundo. Isso se deve ao facto de que o português é uma língua flexiva (também chamada flexional ou fusional), diferentemente do húngaro, por exemplo, que é uma língua aglutinante, ou seja, que tende para a aglutinação.
Algumas palavras bastante longas, contudo, não estão dicionarizadas, sendo restritas à literatura médica. É o caso do nome químico da maior proteína do mundo, mais conhecida como titina. A palavra possui 189.819 letras. São necessárias cerca de 3,5 horas para pronunciá-la.
No Reino Unido, uma das maiores palavras registadas é o nome de uma estação de comboios numa cidade do País de Gales: "Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch”.
Veja algumas das maiores palavras do mundo noutros idiomas:
Alemão: "Donaudampfschifffahrtselektrizitätenhauptbetriebswerkbauunterbeamtengesellschaft” (Associação dos Funcionários Subordinados da Construção da Central Elétrica da Companhia de Barcos a Vapor do Danúbio)
Dinamarquês: "speciallaegepraksisplanaegningsstabiliseringsperiode” (Período de estabilização para a prática médica de um especialista)
Espanhol: "electroencefalografista” (quem estuda e pratica a Eletroencefalografia)
Francês: "anticonstitutionnellement” (algo que vai contra a Constituição)
Grego: "λοπαδο¬τεμαχο¬σελαχο¬γαλεο¬κρανιο¬λειψανο¬δριμ¬υπο¬τριμματο¬σιλφιο¬καραβο¬μελιτο-κατακεχυ¬μενο¬κιχλ¬επι¬κοσσυφο¬φαττο¬περιστερ¬αλεκτρυον¬οπτο¬κεφαλλιο¬κιγκλο¬πελειο¬λαγῳο-σιραιο¬βαφη¬τραγανο¬πτερύγων” (A palavra é mencionada na comédia As Mulheres na Assembleia, escrita por Aristófanes - 447-385 a.C.)
Holandês: "Kindercarnavalsoptochtvoorbereidingswerkzaamheden” (Preparação para um desfile infantil de carnaval)
Húngaro: "Megszentségtelenithetetlenségeskedéseitekért” (descreve o comportamento de alguém que não pode ser desacatado)
Sueco: "Nordöstersjökustartilleriflygspaningssimulatoraeistoa doanläggningsmaterielunderhållsuppföljningssystemdiskussionsinläggsförberedelsearbeten” (trabalho preparatório de contribuição para a discussão sobre o sistema de manutenção de suporte do material do dispositivo de inspeção do simulador de aviação da artilharia de costa do norte do Mar Báltico).
(Fonte: BBC-Brasil)

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