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Vila de Palma em risco de um novo ataque

A consultora Pangeas-Risk considerou, ontem, que os insurgentes no Norte de Moçambique estão a preparar um ataque a Pemba e deverão, nas próximas semanas, insistir no controlo de Palma, que está “vulnerável a novos ataques”.

12/04/2021  Última atualização 02H00
Forças de Defesa e Segurança moçambicanas dizem estar atentas às acções de grupos armados © Fotografia por: DR
"Vai haver um vazio de segurança em Cabo Delgado no próximo mês, o que deixa quer Palma, quer outras localidades na província, expostas a mais ataques dos militantes”, escreve a consultora numa nota dedicada à violência no Norte de Moçambique a que a Lusa teve acesso.

"As nossas fontes locais temem um ataque à localidade de Quitunda, perto da zona do projecto de Afungi, nas próximas semanas. Um ataque destes colocaria pressão para que a guarnição de Afungi saísse da zona de segurança à volta do local da construção do projecto de gás natural liquefeito e se mobilizasse para proteger as comunidades deslocadas e vulneráveis em Quintunda, talvez violando o acordo de segurança entre o Governo e a petrolífera Total”, escrevem os analistas.

Na nota enviada aos clientes, estes analistas afirmam que "mais ataques a Palma devem ser esperados nas próximas semanas, já que os insurgentes procuram recuperar o controlo do território e estender o seu controlo a Norte de Mocímboa da Praia”.
Na análise, estes consultores lembram que em Outubro e em Março, juntamente com outras consultoras de risco, alertaram para a probabilidade de um ataque a Palma e dizem que não foram ouvidos.

"A Pangeas-Risk escreveu dois avisos detalhados antes da ‘Batalha de Palma’ no Norte de Moçambique, um em Outubro e outro 12 dias antes do ataque, mas os alertas foram ignorados nas vésperas de um dos piores actos de militância islâmica na África Austral”, lê-se na nota, que alerta que "o vácuo de segurança na região deixa a capital provincial, Pembra, e a cidade costeira da Tanzânia Mtwara expostos a mais ataques dos militantes nos próximos meses.

Para esta consultora, o ataque de 24 de Março a Palma não teve a ver com o recomeço das actividades da Total, "foi sim o resultado de meses de preparação durante os quais houve amplos avisos sobre os ataques iminentes”.
"A batalha em Palma e nos arredores durou doze dias e as operações de contra-insurgência ainda decorriam à hora de fecho desta edição, e estima-se que mais de 100 civis tenham morrido e 35 mil outros tenham sido deslocados das suas casas”, apontam ainda os consultores no relatório que apresenta também a história dos ataques desde 2017, encontrando em Agosto de 2020 um ponto decisivo.

"Em Agosto de 2020, os militantes capturaram a cidade de Mocímboa da Praia e controlam-na até hoje; de uma perspectiva estratégica, o controlo de Mocímboa da Praia deu aos insurgentes uma base para lançar ataques a outras cidades” e a 7 de Março capturaram Nonje, o posto fronteiro com a Tanzânia, "isolando efectivamente Palma a Norte, Sul, Leste e a Oeste, passando o barco de Pemba a ser o único caminho possível”.

Em meados do mês passado, lembram, a cidade "enfrentava fome e via ataques diários aos postos de defesa, com infiltrações de militantes e sabotagem das provisões das forças militares”.
Nesta altura, concluem, "vários analistas de segurança dentro e fora de Moçambique já tinham emitido alertas de um ataque iminente à cidade de Palma, isolada e cercada, apesar de não haver nenhuma indicação de que as evacuações tenham sido lançadas pelo Governo, embaixadas estrangeiras e empresas que operam na região”.

PAM estuda nova forma de levar ajuda

O Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciou, ontem, à Lusa, que está a procurar formas seguras de assistir a população em redor de Palma e do projecto de gás do Norte de Moçambique, onde se estima que permaneçam refugiadas milhares de pessoas sem comida.

"Há pessoas com necessidade urgente de assistência humanitária em Palma, Quitunda e Afungi” e o PAM "está a conduzir avaliações de segurança e a procurar canais humanitários seguros para poder fornecer assistência que salva vidas às pessoas nessas áreas”, acrescentou fonte da instituição.
Segundo dados divulgados pela OIM, estima-se que haja 23 mil pessoas na área em redor do recinto da Total, mas "não há um número exacto, confirmado, nesse local”, disse fonte da agência humanitária. A equipa da OIM "não é capaz de avaliar a situação” devido "a questões de segurança”, esclareceu.

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