Cultura

Vladimir Prata romanceia sinistralidade rodoviária

Manuel Albano

Jornalista

O romance “Um Assassino na Estrada”, do jornalista Vladimir Prata, lançado na última quarta-feira no CEFOJOR, em Luanda, vem premiar o público leitor com uma temática bastante actual

18/04/2021  Última atualização 18H47
© Fotografia por: DR
Longe de qualquer comparação, Vladimir Prata faz-nos pensar que estamos diante da "crónica de uma morte anunciada”, pelo facto de a personagem principal, Alberto de Carvalho Sousa e Silva, começar a arquitectar a morte de Carlinhos uma semana antes da madrugada fatídica de um de Setembro, em que foram vitimados a sua mulher, Tina, e a filha Nzagi. Vladimir Prata foi perspicaz e criativo na composição estética da sua obra, e na forma como procurou abordar questões sensíveis  como a sinistralidade rodoviária no país.

De acordo com o jornalista Teixeira Cândido, que escreveu o prefácio, o romance "Um Assassino na Estrada” é uma proposta de reflexão sobre uma realidade muito presente na vida de muitos.  Trata-se de uma obra em que "a única fixação assenta no nome do personagem principal, tresloucado pela brutalidade contra a sua família. E pela insensibilidade do motorista, que o tornou num ‘caçador’ de homens, confirmando deste modo o prognóstico filosófico de que o homem é o lobo do próprio homem”.

Teixeira Cândido aborda ainda a narrativa do autor nos seguintes termos: "é um romance cruel, pela vontade férrea de Alberto Silva, inconformado com a morte da sua família, mergulhado por isso na vingança, e ainda por vasculhar a memória de quem já arrumou os seus traumas. Uma proposta de reflexão que o escritor nos coloca em mãos, mais do que uma simples leitura. É o nosso quotidiano, contado com estética, na expectativa de suavizar a sua dureza. Alberto Silva podia ser qualquer um que vê partir a sua família, sem apelo nem agravo, por negligência de um motorista, ou por conta das condições das estradas do país”.

Para o prefaciador, também secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas, mais do que um romance, o livro de Vladimir Prata "é uma proposta de debate, de reflexão sobre os efeitos do comportamento de um motorista negligente, de uma vítima incapaz de conter o sofrimento, e da qualidade dos serviços prestados por quem devia oferecer estradas iluminadas, sinalizadas e com tapete asfáltico”.


Aprisionar o leitor

O escritor e sociólogo John Bella, vice-presidente da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), que fez a apresentação do romance, argumentou que Prata explora os espaços internos do enredo com uma probidade natural. "Vladimir Prata preocupa-se em não deixar o mínimo detalhe na apresentação dos pormenores de cada acontecimento, assim que num misto de realidade e ficção indica as datas, horas, anos, os minutos, os segundos e aprisiona os leitores a cada passo do olhar”. 

De acordo com John Bella, terão sido os conhecimentos adquiridos em torno da vivência jornalística e do consumo da arte que fizeram Vladimir Prata desenvolver as capacidades que apresenta no seu livro.  
O lançamento do livro, segundo o presidente da BJLA Joāo Mwanza, esteve inserido no programa de revitalização da associação literária, de que Vladimir Prata é membro. 


Ponto de partida

Vladimir Prata, na sua intervenção, começou por agradecer a todos os que tornaram possível a materialização do projecto literário, que, segundo informou, começou a ser idealizado em 2014. "A falta de um mercado aberto e de oportunidades para os jovens que começam a lançar-se no mundo das letras é um  entrave ao desenvolvimento literário nacional”, disse, acrescentando que a fraca participação dos mecenas "tem desanimado e desincentivado a criação artística, o que pode provocar o desaparecimento de muitos talentos que procuram uma oportunidade para mostrar o potencial, nos mais variados domínios das artes”.

O romance, explicou o autor, que tem como palco da acção os bairros, ruas e avenidas de Luanda, foi idealizado com base nos dados estatísticos de 2014 sobre os acidentes na estrada. Impresso na Gráfica Popular, com acabamentos na Tipografia Corimba, o livro tem ilustração de capa do artista Raffa Invencible. Está inserido na colecção "Quem Ama Não Dorme”, da BJLA.

Comentários

Seja o primeiro a comentar esta notícia!

Comente

Faça login para introduzir o seu comentário.

Login

Cultura