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África do Sul prepara novo escrutínio eleitoral em Maio

A África do Sul prepara-se para novo escrutínio, com o Congresso Nacional Africano (ANC) em rota descendente depois de, nos primeiros anos, parecer querer construir o país sonhado por Mandela, informou, ontem, agência Lusa.

27/04/2024  Última atualização 12H20
Militantes do ANC realizam acto de massas em preparação para o pleito de 29 de Maio © Fotografia por: DR

Quando votou, a 27 de Abril de 1994, Nelson Mandela, que se tornou então no primeiro Presidente da era democrática do país, confessou tratar-se de "uma ocasião inesquecível", a "realização de esperanças e sonhos" acalentados ao longo de décadas: "Os sonhos de uma África do Sul que represente todos os sul-africanos".

Libertado em 1990 pelo então Presidente William de Klerk, após 27 anos de prisão, o líder histórico da luta contra o 'apartheid' queria uma "nova África do Sul", onde "todos os sul-africanos fossem iguais e trabalhassem em conjunto para trazer segurança, paz e democracia" ao país.

"Mas também estamos preocupados com as minorias do país, especialmente a minoria branca", frisou, na altura, Mandela, afirmando que a liderança do partido "estava preocupada" em "dar confiança e segurança" aos que estavam preocupados com o facto de, com as mudanças, ficarem "numa posição de desvantagem".

"Lutei com muita firmeza contra a dominação branca. Lutei com muita firmeza contra a dominação negra", vincou então Mandela.

Em 1994, o partido Congresso Nacional Africano, de orientação marxista-leninista, liderado por Mandela, foi eleito com 62,65% dos votos para governar a economia mais desenvolvida do continente como parte de uma "Aliança Tripartida" formada com o Partido Comunista da África do Sul (SACP) e a Confederação Sindical da África do Sul (COSATU).

Nas primeiras décadas, até cerca de 2008, a África do Sul -- um dos principais produtores mundiais de ouro, diamantes, platina, e carvão -, implementou com sucesso políticas de habitação, energia eléctrica, água e saneamento, nomeadamente para a população de maioria negra, tendo conseguido também, através da política de Crescimento, Emprego e Redistribuição (GEAR, na sigla em inglês), controlar a dívida pública e gerar mais emprego, segundo a directora do Instituto de Relações Raciais da África do Sul (SAIRR, na sigla em inglês), Anthea Jeffery à Lusa.

"Infelizmente também houve más políticas implementadas pelo ANC e as suas consequências negativas tornaram-se cada vez mais evidentes, especialmente depois de 2008, quando o Presidente Thabo Mbeki deixou a Presidência da República, sendo substituído no cargo, interinamente, por Jacob Zuma, que foi eleito Presidente em 2009", frisou.

  O "efeito Jacob Zuma”

Jacob Zuma, de 81 anos, governou o país entre 2009 e 2018, tendo sido também afastado pelo seu próprio ANC devido a inúmeros escândalos de alegada corrupção pública, tendo acusado este mês o seu sucessor Cyril Ramaphosa de ser "um problema para o país".

Após o novo ciclo sob a liderança de Zuma, actualmente candidato às eleições gerais de 29 de Maio com um novo partido político, o ANC enfrenta também nos últimos anos a quase falência das empresas públicas.

A economia sul-africana, a mais desenvolvida no continente, encontra-se numa trajectória de baixo crescimento de emprego, com pobreza persistente desde a crise financeira mundial de 2008 e 2009, a taxa de criminalidade é das mais altas do mundo, sendo o impacto do crime estimado em pelo menos 10% do PIB anual, segundo uma avaliação do Banco Mundial em 2023.

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