"Destaca-se pelo prestígio e fortuna crítica que a sua obra possui, bem como o seu pensamento de valor heterogéneo, pelo modo como aborda as problemáticas das culturas em Angola, especificamente kimbundu, umbundu e cokwe, e as memórias do conflito armado no pós-guerra, a cosmologia bantu e a questão da mulher”, apontou a presidente do júri.

A artista Ana Suzana David "Kiana” venceu na categoria de artes visuais e plásticas, cuja qualidade o júri justifica por apresentar "uma obra é baseada constantemente em experimentações de materiais sustentáveis que não prejudicam o meio ambiente, com um traço fino é forte no desenho e pintura, mas é na escultura que se destaca”.

Na categoria de música, o prémio recaiu a Miguel Francisco dos Santos Rodolfo, conhecido nas lides artísticas por "Kituxi”.

Pontua o júri que a distinção é atribuída pelo seu percurso e contributo na preservação dos estilos e instrumentos musicais angolanos nos mais de 50 anos de carreira, salvaguardando a puita, o hungu, a dikanza, mukindu e ngoma, como elementos de afirmação da cultura nacional.

Por sua vez, o cineasta Carlos Conceição venceu na categoria de cinema e audiovisual, pelo conjunto da sua obra, na qual se destaca o filme "Nação Valente”.

 "Pela abordagem estética e cultural, bem como pela dimensão internacional que atingiu o filme, estando em cartaz em salas de cinema na América e na Europa, incluindo em festivais”, avança o júri.

A categoria da dança foi atribuída à companhia Palasa Dance Company, pelo destaque e excelência na última exibição, em Julho deste ano, dos espectáculos "Se esses Pés Falassem” e "Itanda”.

"Apresenta qualidade de produção e excelência, fazendo recurso a linguagens populares, aos factos históricos e aos acontecimentos do quotidiano, incorporados no contexto artístico cultural angolano. Apresenta propostas criativas reflectidas a uma dramaturgia que privilegia a expressividade corporal, que se distingue na concepção cénica dos espectáculos como um todo”, avalia o júri.

Na disciplina de teatro venceu o projecto Amostra Nacional de Teatro, uma ideia do dramaturgo e actor Maieno António Zambo, director do grupo de teatro MZ, que organiza amostra. A amostra é um evento que visa promover o teatro angolano com acções formativas, turismo e espectáculo, bem com incentivar a unidade entre os grupos teatrais de Angola e mostrar o teatro que é produzido na província do Uíge.

Para finalizar, na categoria de Ciências Sociais e Humanas foi distinguido o colectivo de autores do projecto "Várias Línguas, Uma Nação: Construindo o Futuro”.

Trata-se de um conjunto de cidadãos nacionais, dentre investigadores, professores, jornalistas, entre outros, que produziram uma colecção de nove títulos indissociáveis entre si, no domínio da Linguística Aplicada, Lexicologia, Lexicografia, Terminologia, Literatura, Jornalismo, História e Matemática.

Para além da presidente, Maria José Faria Ramos, o júri desta edição foi constituído por Manuel Mwanza e Abreu Paxe na disciplina de Literatura, Maria Gumbe e Edna Neto em Artes Visuais e Plásticas, José Silvestre e Óscar Gil em Cinema e Audiovisual, Monerva Jacas e Nelson Augusto em Dança, Aníbal Simões e António Quino em Ciências Humanas e Sociais.

Para a Música foram escolhidos Carlos Lopes e Maria José Faria Ramos, e no Teatro Francisco Teixeira e Orlando Sérgio. Igualmente integrou o júri o investigador José Octávio Serra Van-Dúnem, na qualidade de secretário.   

O Prémio Nacional de Cultura e Artes foi instituído em 2000 e é o maior reconhecimento do Estado pelo trabalho desenvolvido pelos artistas angolanos nas mais variadas formas de expressão artística.

Criado em 2000, sob Decreto Presidencial nº 31/00, de 30 de Junho de 2000, a edição passada distinguiu os artistas Fernando Alvim (Artes Visuais e Plásticas), Armando Rosa (Teatro), Jean Michel Mabeko Tali (Investigação e Ciências Humanas e Sociais), Agostinho Neto (Literatura), Geração 80 (Cinema e Audiovisual), Companhia de Dança Contemporânea da Zap (Dança) e Mário Rui Silva (Música).

Percurso dos premiados

Ana Suzana David "Kiana” vive e trabalha em Luanda. É uma artista que tem desenvolvido um trabalho em escultura com diferentes materiais inseridos na contemporaneidade.

 Participa, desde 2013, em várias exposições colectivas em Angola e no estrangeiro. Kiana é uma das mais promissoras escultoras angolanas, com carreira internacional, e vários prémios. Formada no ex-Instituto Nacional de Formação Artística e Cultural, tem no seu percurso o Grande Prémio de Escultura, do Ensa-Arte, pela obra "Angola em movimento”, o Prémio Sona, entre outras distinções. É uma das poucas mulheres artistas que trabalha a escultura. Tem obras em colecções institucionais em Angola e no estrangeiro.

Filho de Francisco Rodolfo e de Maria Justino Dias dos Santos, Manuel Francisco dos Santos Rodolfo "Kituxi” nasceu em Luanda, no bairro Marçal, no dia 4 de Junho de 1940.

Figura emblemática do cenário cultural luandense, Kituxi começou a sua carreira artística no princípio dos anos cinquenta, com participações em grupos emblemáticos: "Feitiço Negro”, "Fogo Negro” e o Conjunto Músico Teatral "Ngongo”, grupos de grande prestígio, nos quais Kituxi teve participação activa. No entanto, só em 1975,  decide enveredar por uma carreira a solo. Cria no dia 13 de Maio de 1980 o grupo "Kituxi e seus acompanhantes”, tendo se revelado uma das mais importantes formações musicais que tem preservado, pela interpretação e pesquisa, o espólio do cancioneiro da música tradicional da região de Luanda.

João Tala nasceu em Malanje, em 1959, onde frequentou o ensino primário. Em 1974, passa a viver em Luanda, onde continua os seus estudos. Ingressou nas Forças Armadas num contexto de guerra, tendo sido enviado para o Huambo em 1980. Aqui,  participa na formação da Brigada Jovem de Literatura Alda Lara e começa a estudar Medicina, que conclui em Luanda. É médico especialista em Medicina Interna.

Pertence à União dos Escritores Angolanos desde Dezembro de 1997, ano em que lançou a sua primeira obra intitulada "A Forma dos Desejos”, poesia (Prémio Primeiro Livro da UEA). Entre outros prémios, em 2021 foi distinguido com o Prémio Literário Guerra Junqueiro, do Município de Freixo de Espada À Cinta, em Portugal.

Carlos Conceição nasceu em Santa Clara,  província do Cunene, e cresceu no Lubango, província da Huíla, onde se licenciou em Inglês pela Universidade Agostinho Neto, em 2002.

No mesmo ano, iniciou o curso superior de Cinema em Lisboa, onde tem trabalhado desde então, sem nunca ter perdido a ligação ao Lubango, onde a família reside.

A sua primeira curta-metragem, "Carne” (2010), foi vencedora do ambicionado prémio Novo Talento no Festival IndieLisboa. Em 2022, serviu para a produção de "Nação Valente”, segunda longa-metragem do realizador e segundo filme ambientado em Angola, tendo estreado na competição oficial do Festival de Locarno, na Suíça. O filme obteve críticas entusiásticas e dois prémios: Melhor Longa-Metragem europeia (Europa Cinemas Label) e Prémio do Júri Jovem.

A Palasa, do kimbundu Esperança, é uma companhia de dança angolana em ascensão fundada em 2018 por Miguel Carlos, que tem o intuito de acolher jovens talentos angolanos que busquem uma carreira na dança, dando-lhes a oportunidade de aprender, crescer e desenvolver as suas capacidades artísticas. A companhia comemorou os seus 5 anos de existência no passado mês de Fevereiro do ano em curso.