O continente africano tem sido palco de inúmeras transformações políticas. Entre estas, destaca-se a “Era dos Presidentes fardados em África”, marcada por uma série de golpes de Estado que resultam na ascensão de líderes militares ao poder.
A primeira nação negra independente, o Haiti, é hoje uma amálgama de ingovernabilidade e criminalidade urbana sem precedentes, uma realidade que lembra não apenas os efeitos da miserável colonização francesa, os anos que as sucessivas administrações americanas faziam daquele país “quintal dos Estados Unidos”, as décadas de ditaduras vividas, mas também alguma falta de solidariedade da parte da União Africana.
A forma como os grandes conflitos são resolvidos, como são geridas as grandes tensões ou como determinados países, cujo hard e o soft power acabam por ter neles uma palavra dizer, acaba, também, indicar o poder crescente, estacionário ou decadente que certas potências têm no cenário mundial.
Quando o mundo olha para a guerra na Ucrânia, o conflito na Faixa de Gaza, a refrega no Sudão, a instabilidade no Leste da República Democrática do Congo (RDC), em Moçambique, a tensão no Médio Oriente em geral, há sempre uma tendência natural para se encararem os países, grupo de Estados, organizações regionais ou internacionais com capacidade de intervenção determinante.
Embora a hegemonia americana seja ainda incontestável, em termos económicos, militares e sobretudo do ponto de vista do apelativo soft power do país do Tio Sam, não há dúvidas de que em pequenos detalhes começa a espelhar-se um certo declínio no que à influência, capacidade e determinação para resolver ou ajudar a resolver certas crises diz respeito.
Sendo parte quase que directa do conflito na Ucrânia e na Faixa de Gaza, na medida em que abertamente fornece armas a um dos lados dos referidos conflitos, os Estados Unidos perdem qualquer papel, eventualmente até mesmo credibilidade, para influenciar na resolução pacífica dos dois problemas. Mesmo quando olhamos para o contencioso militar entre as duas Coreias, tecnicamente em guerra desde 1953, quando tinha terminado a histórica Guerra da Coreia, setenta anos depois dificilmente se pode contar com os Estados Unidos para uma eventual mediação.
O desastre do que tem sido a política externa americana em determinadas zonas do planeta, interferências em conflitos onde acaba por se tornar parte interessada, entre outros passos erráticos, de sucessivas administrações
Começa a emergir, ainda que timidamente, a projecção do soft power chinês para ajudar a resolver problemas geopolíticos, corroborados pela forma como os Estados Unidos interpretam o papel que o gigante do Extremo Oriente pode ter na guerra da Ucrânia. Repetidas vezes, os Estados Unidos encaram a China como país que pode ter uma influência significativa junto de países com os quais anda em rota de colisão ou, nalguns casos não tenha poder de influência, tais como a Rússia, Irão, Síria, Venezuela, Cuba, etc.
Até em África, a forma como os americanos procuram recuperar o tempo perdido com a Administração Trump, que permitiu aos seus principais rivais, China e Rússia, ocupar o vazio que se agudiza hoje com o movimento anti-Ocidente que se regista sobretudo em países francófonos.
Há dias, Antony Blinken foi à China, onde manteve encontro com o Presidente Xi Jinping e o seu homólogo, Wang Yi, sem qualquer sucesso, para dissuadir a China de repensar o apoio que presta à Rússia, sobretudo com o fornecimento de material de uso duplo, civil e militar, além de reafirmar a visão de que a China pode ter a chave do conflito por via do seu plano de paz.
A China, encorajada por muitos países, está a jogar um papel até então impensável e com sucessos que representam uma amostra do que pode fazer, atendendo ao seu papel equidistante dos conflitos ou tensões que tende a mediar.
Em Março de 2023, o mundo foi surpreendido pela forma como a China conseguiu levar a Arábia Saudita e o Irão a se reconciliarem, depois do corte das relações diplomáticas, um passo gigantesco que serviu para desanuviar o ambiente regional.
Até os média na América abordaram a questão do ponto de vista do declínio que representava o papel dos Estados Unidos no Médio Oriente e a ascensão da China como um peace broker (mediador para paz) honesto e credível.
A China pode preencher o vazio que tende a existir com o aparente declínio dos Estados Unidos no que à mediação de conflitos diz respeito, sobretudo porque a sua equidistância, a neutralidade e obviamente a sua ascensão à potência global começam a se tornar uma realidade inegável. Num outro passo interessante, mais complexo e quase impossível, que a China está a dar neste momento, é tentativa de reconciliar grupos políticos e armados palestinianos. Se for bem-sucedida a levar o Hamas e o Fatah, de Mahmoud Abbas, à reconciliação, outros grupos, tais como a Jihad Islâmica, Frente Popular para a Libertação da Palestina, Brigadas de Al-Nasir Salah al-Deen, entre outros, vão seguir a mesma passada.
É verdade que estamos ainda longe de ver o poder político e diplomático dos Estados Unidos, traduzido na capacidade que sempre demonstrou de moldar os grandes conflitos e diferendos internacionais em função da chamada "pax americana”, de ruir por completo e dar lugar a um novo player. Mas não há dúvidas de que o mundo começa a assistir a uma realidade nunca antes vista, baseada no facto de um actor mundial que parece ascender, em termos económicos, tecnológicos, político-diplomáticos e militares na mesma proporção em que, também, parece declinar o poder americano. É óbvio que os americanos estão preocupados com o actual contexto de desacreditação em algumas regiões do mundo, com a crescente incapacidade para mediar conflito e o desafio que enfrenta com os seus principais rivais, ansiosos por uma Nova Ordem Mundial.
Trata-se de uma realidade com a qual estão habituados e basta recordar o descalabro e legado da Administração Bush, de 2001 a 2009, cuja imagem e credibilidade, pela forma como geriu o "11 de Setembro”, com as invasões ao Iraque e Afeganistão, acabaram reabilitadas pela Administração Obama. Resta saber se o presente quadro de declínio na influência americana para com os grandes dossiers mundiais, na proporção directa em que cresce o ainda desconhecido soft power chinês, vai ser algo reversível pela resiliência a que América habituou o mundo ou se estaremos em presença de uma irreversibilidade de factos que moldarão o planeta nos próximos tempos.
* Jornalista
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LoginEm qualquer Estado moderno, com uma natureza pós-conflito, exactamente como o nosso, em condições normais e sem quaisquer exageros, os antigos combatentes e deficientes de guerra, bem como os familiares de combatentes tombados ou perecidos, deviam ser parte de um segmento especial em matéria de tratamento social.
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