Especial

Famílias no Lóvua prometem aumentar produção agrícola com dinheiro do Kwenda

Armando Sapalo| Lóvua

Jornalista

Apesar de ser a primeira vez que beneficiou das Transferências Monetárias, uma das quatro componentes do Programa de Fortalecimento da Protecção Social (Kwenda), Miguel Mutambuleno, 56 anos, residente no bairro Munguindo, município do Lóvua, na Lunda-Norte, quer deixar de depender do dinheiro que o Executivo está a atribuir às famílias em situação de pobreza , apostando em actividades geradoras de rendimento e se tornar autónomo.

27/09/2023  Última atualização 11H40
Beneficiários pretendem comprar sementes, equipamentos de trabalho de campo como enxadas, catanas, machados, facas e outros meios, bem como apostar na criação de animais © Fotografia por: Benjamin Cândido | Edições Novembro
A iniciativa do Executivo que, além dos recursos  provenientes do Tesouro Nacional, conta também com o financiamento do  Banco Mundial, para o  apoio às famílias  em situação de pobreza e vulnerabilidade, marca o ponto de partida  para a integração social e  produtiva dos beneficiários seleccionados,  cujo nível de vida é precário,  reconheceu.

 Falando em língua Cokwe à  reportagem do Jornal de Angola , disse que a  actividade de agricultura de subsistência a que se dedica há mais de 30 anos, com a esposa, carecia de apoio  para  ampliar as áreas de cultivo e aumentar a produção de mandioca, hortícolas, inhame, abóbora, ananás e banana.

Além do consumo de casa,  parte da produção  que sai da  lavra é comercializada ao longo da Estrada Nacional 225, onde está localizada a residência, para o sustento do agregado familiar, composto por cinco membros.

Miguel Mutambuleno foi um dos beneficiários no acto público  que marcou o início do processo  de   pagamento do dinheiro do Kwenda, no bairro Munguindo, município do Lóvua.O beneficiário afirmou que o dinheiro que recebeu  do FAS-Instituto de Desenvolvimento Local, entidade responsável pela execução do Kwenda, vai fazer muita diferença na sua vida.

Além de comprar  sementes,  equipamentos de trabalho de campo como enxadas, catanas, machados, facas  e botas de protecção às picadas de  serpentes, a família  ambiciona apostar na  criação de animais.

Apelo para o uso racional do dinheiro

A governadora da Lunda-Norte, Deolinda Vilarinho, que testemunhou o acto público de início das Transferências Sociais Monetárias no município do Lóvua, disse  que no quadro das acções tendentes à redução da fome e da pobreza, as autoridades esperam que as famílias beneficiárias tenham a possibilidade de  começar com pequenos negócios, fomento à agricultura, incluindo a criação de animais  para  mitigar os  efeitos da vulnerabilidade.

Apelou ao uso racional dos recursos, com vista à melhoria das condições de vida das famílias que ainda vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade.

Deixar património para os filhos

O sonho de Miguel Mutambuleno e   esposa  é deixarem um legado de  património para os dez filhos, por considerarem que a criação de gado caprino, suíno e galinhas é rentável.

"Queremos deixar alguma coisa   para os nossos dez filhos. Aqui no Lóvua as pessoas que criam cabritos, porcos e galinhas conseguem  dinheiro porque  há sempre pessoas interessadas em comprar esses animais. Por isso eu  e a minha esposa entendemos que temos de apostar no projecto de criação de animais”, disse Miguel Mutambuleno.

Caxala Songuessa, 48 anos,  mãe de seis filhos,  outra beneficiária  no bairro Munguindo, referiu que os 66 mil Kwanzas que recebeu,  há muito que eram esperados pela família. O   dinheiro, disse,  ajuda na aquisição de sementes,  sobretudo de frutas, como ananás, banana,  abacate, mamão,  tangerina, laranja e limão, com vista a aumentar a  produção.

A agricultura de subsistência tem sido a única fonte de rendimento  do agregado familiar, composto por cinco pessoas, entre as quais, o esposo  e três filhos.

A actividade inclui também o cultivo da mandioca, milho  e ginguba, cuja produção tem sido comercializada por via da venda ambulante por uma das filhas na cidade do Dundo, capital da Lunda-Norte.

"O  milho, a mandioca e a ginguba que produzimos na  nossa lavra, temos  estado a vender  na zunga no Dundo.   Uma das minhas que estuda lá, é a responsável pela venda  dos nossos produtos de campo e tem ajudado muito nas despesas dela para a escola e para nós aqui ", explicou.

 Considera oportuna a atribuição dos recursos, uma vez que parte  dos mesmos, vão servir para a compra de material para  o fabrico da   porta  da casa que já não oferece  condições.

Para ela, a segurança e  o bem-estar da família, constituem a prioridade, daí que  os 66 mil kwanzas   concedidos  no âmbito do Kwenda vão ajudar na resolução  das preocupações mencionadas.

O apelo aos outros beneficiários vai no sentido de  aplicarem os recursos em  pequenos negócios e  a resolver os problemas que assolavam  os respectivos agregados,  tendo em conta o índice de vulnerabilidade  no bairro Munguindo.

Os valores podem parecer poucos, mas  ressaltou que se forem  racionalmente  utilizados,  vão ser determinantes na redução da pobreza extrema que   muitas famílias ainda enfrentam. 

 O Kwenda, disse Caxala  Songuessa,  é  uma iniciativa louvável do Executivo,  porque contribui significativamente  na redução do índice de ociosidade de muitas  famílias  em situação de pobreza e vulnerabilidade.

 As pessoas  beneficiárias, segundo  Caxala Songuessa, devem  ao máximo envidar esforços para evitarem  o consumismo,  com  esbanjamento do dinheiro  em álcool  e outras necessidades supérfluas.

  Comprar nova residência

Chinguinheca Lumbimbo, é outra  beneficiária do Kwenda, que espera ver melhoradas as condições de vida do seu agregado, com o dinheiro que recebeu.

Camponesa e mãe de dois filhos, Chinguinheca Lumbimbo, 54 anos,  vive numa casa construída de pau-a-pique. À  reportagem do Jornal de Angola, adiantou que o sofrimento de viver numa  casa pequena e sem qualquer segurança vai acabar. Com o dinheiro que  lhe foi atribuído vai comprar uma  nova residência que já foi negociada  ao preço de 60 mil kwanzas.

A  casa oferece melhores condições e mais compartimentos (dois quartos e uma sala)  em relação a actual onde vive.  Os seis mil  kwanzas que  restarem vão servir para outras necessidades. O próximo pagamento, previsto para 2024, vai  aplicar  na compra de sementes, instrumentos agrícolas para a pequena lavra  onde cultiva  milho, mandioca e banana.

 Agostinho Caquesse,  42 anos, vai investir todo o dinheiro que recebeu em obras de restauro da sua residência  onde vive com um agregado de 11 pessoas,  nomeadamente, a esposa e nove filhos.

A  casa já não está em condições para viver em segurança com a família , disse,  avançando que os recursos do Kwenda chegaram  na altura certa, pois, vão servir para a aquisição de chapa de zinco  e outros materiais para  melhorar as condições da habitação que comporta   cinco quartos, uma sala e uma copa.

"Kwenda não é propaganda política”

O soba Bernardo da Silva Sakinga denunciou a existência de grupos devidamente organizados que transmitem  às  pessoas, no bairro Mungundo, que  o Kwenda é  uma estratégia de propaganda política.

O membro do poder tradicional naquela localidade disse ao Jornal de Angola que com o  acto público de início de pagamento do valor referente a seis meses aos  agregados familiares seleccionados , estão dissipadas todas as dúvidas, trazendo a certeza de que a iniciativa do Executivo visa  apoiar as   famílias em situação de pobreza.

 De acordo com o soba,  as autoridades tradicionais foram  sempre apelando às pessoas para que tivessem paciência,  reforçando a  mensagem de  que o "Kwenda não é  propaganda política”,  mas, sim,   um programa do Governo para as famílias carenciadas  em todo o país.

"O Kwenda não é propaganda política. Eu sou uma autoridade tradicional e sei o que é uma propaganda política e o que é  um programa do Governo para resolver  os problemas dos cidadãos. Isso é um direito que o Governo está a cumprir. Isso que está a ser feito acontece em muitos países do mundo”, sublinhou.

A população do bairro Munguindo está   feliz porque o Kwenda vai ajudar a  reduzir a pobreza em muitas famílias, uma vez que algumas vão apostar em negócios, outras vão reabilitar as casas  e  apostarem na criação de gado, sobretudo o caprino, afirmou  o soba Bernardo da Silva Sakinga.

Os  habitantes do Munguindo dedicam-se à agricultura,  através do cultivo da mandioca, milho,  frutas, cana-de-açúcar, inhame  e a   criação do gado caprino, explicou o soba, reconhecendo que o programa vai ter um impacto positivo na  comunidade.

O apelo, acrescentou,  tem sido no sentido de os beneficiários aplicarem  o dinheiro em acções que possam, futuramente, contribuir no aumento da renda familiar, para criarem bases que levem à redução da  fome e da pobreza. 

Apelo para uso racional do dinheiro

A governadora da Lunda-Norte, Deolinda Vilarinho, que testemunhou o acto público de início das Transferências Sociais Monetárias no município do Lóvua,  disse  que no quadro das acções tendentes à redução da fome e da pobreza, as autoridades esperam que as famílias beneficiárias tenham a possibilidade de  começar com pequenos negócios, fomento à agricultura,  incluindo a criação de animais  para se mitigar os  efeitos da vulnerabilidade.

Apelou ao uso racional dos recursos, com vista a melhoria das condições de vida das famílias que ainda vivem em situação de pobreza e vulnerabilidade.

  O drama da viúva  Mwetxa Zango

Aos 24 anos de idade, Mwetxa  Zango, uma jovem camponesa do bairro Munguindo, município do Lóvua, perdeu o  esposo,  que faleceu este ano, vítima de doença prolongada. O infortúnio foi um grande choque para a família, pois  o malogrado, apesar de desempregado, tudo fazia para  cuidar da família, segundo a própria viúva, em declarações ao Jornal de Angola.

A  tristeza foi maior ainda pelo facto de  Mwetxa Zango ter   perdido o  esposo numa altura em que se encontrava grávida de seis meses da última filha do casal, que tem mais dois rapazes, menores de idade.

  A única esperança da jovem  estava no Kwenda, que esperou com muita ansiedade, mas finalmente chegou, com a atribuição dos 66 mil kwanzas, dinheiro que, segundo Mwetxa Zango, vai fazer toda a diferença.

Mwetxa Zango tem uma pequena lavra, que a sogra ofereceu, onde cultiva mandioca, hortícolas, milho, ginguba, banana e inhame. A  jovem  contou que precisa de duas folhas de chapa de zinco  para melhorar a cobertura da casa de dois quartos em que  vive com dois dos três filhos. O terceiro está  com a  avó  paterna, no Dundo, onde foi matriculado.

 Por isso, além de comprar sementes  e duas folhas de chapas de zinco para  o tecto da casa, vai também apostar na venda  de peixe seco, com o objectivo de alargar as fontes de rendimento.

"O meu sofrimento finalmente vai acabar. Com  este dinheiro que recebi vou fazer coisas que já esperava há muito tempo. Vou comprar sementes para a minha lavra que a mãe do falecido marido ofereceu.  Vou também comprar duas folhas de chapa para o tecto da casa porque há uma parte que está a entrar a água da chuva.  Pretendo também começar a vender peixe seco para sustentar os meus filhos”, disse.

No princípio, contou, muitas  pessoas do bairro Munguindo estavam cépticas quanto à seriedade do  Kwenda, com grupos organizados que faziam passar a mensagem de que se tratava de uma agenda de propaganda política para enganar as pessoas.

Estado quer famílias autónomas na geração de renda

O  director  provincial do FAS-Instituto de Desenvolvimento Local na  Lunda-Norte, João do Nascimento,   disse que o compromisso do  Estado é fazer com  que as comunidades abrangidas pelo Kwenda se tornem autónomas , em termos de rendimentos para as respectivas famílias.

 Explicou que  após as fases do mapeamento, selecção dos bairros e aldeias, seguiu-se o cadastramento das famílias e posteriormente  a confirmação dos nomes, o que assegurou a fiabilidade dos dados dos beneficiários,   em cinco regedorias do município do Lóvua.

João do Nascimento informou que, para o município do Lóvua, foram inscritos 4.198 agregados familiares.

 Na Lunda-Norte, o Kwenda tem,  neste momento,  intervenção nos municípios do Cuango, Cambulo,  Caungula, Lubalo e Lóvua.   À excepção do Lubalo, onde decorre o processo de cadastramento dos agregados,  as Transferências Monetárias foram feitas até ao momento em quatro   municípios.

O responsável   esclareceu que do  ponto de vista de  implementação, na Lunda-Norte, o Kwenda  já chegou a 672 bairros,   tendo sido cadastrados 63 mil agregados familiares.  "Trata-se de um  programa de contribuição,  cuja incidência está  voltada no reforço da protecção social dos mais desfavorecidos, conforme estabelece a Constituição da República”, sublinhou.

 João do Nascimento  referiu que o FAS conta com o envolvimento de mais de 180 Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECOS), que trabalham  no  processo de cadastramento das famílias e respectivos pagamentos.   Estão igualmente envolvidos 25 estagiários, estudantes de distintas unidades orgânicas da Universidade Lueji A´Nkonde.

Dentro de alguns meses começa o processo de pagamentos nas comunidades seleccionadas do município do Lubalo  onde, à semelhança de outros, cada agregado seleccionado nvai receber 66 mil kwanzas , correspondentes a seis meses.  Com a previsão do lançamento nas circunscrições do Lucapa e Cuilo, vão apenas faltar três dos dez municípios da Lunda-Norte, concretamente o Xá-Muteba, Capenda-Camulemba e o Chitato.

O FAS,  disse, continua a investir na resiliência das famílias, apostando  em valores como disciplina,  transparência, rigor e parcimónia para  que os recursos  cheguem aos destinatários, sem sobressaltos.

Além das Transferências Sociais Monetárias, o Kwenda  comporta outras três componentes, que são Inclusão Produtiva  (apoio às iniciativas económicas das famílias residentes nos municípios alvos do programa), Municipalização da Acção Social, através dos centros de Acção Social ( CASI ) e o Reforço do Cadastro Social Único, uma base de dados que está a ajudar o Executivo a reunir informações sobre a pobreza e vulnerabilidade no país.

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