Reportagem

Fazenda de Sangju: uma forma inteligente de fazer agricultura

Augusto Cuteta

Jornalista

A cerca de 170 quilómetros de Seul, a capital da Coreia, fica Sangju, uma cidade da província de Gyeongsang do Norte. A região, com uma população estimada em 103.950 habitantes, ocupa uma superfície de 1.254,69 quilómetros quadrados e clima continental húmido.

09/07/2023  Última atualização 10H22
© Fotografia por: Augusto Cuteta | Edições Novembro- Sangju

É, em Sangju, que nasceu mais um projecto de criação de um Vale de Inovação de Smart Farm, ou seja, o desenvolvimento de uma Fazenda Inteligente, com 42.7 hectares de extensão.

Esta Fazenda Inteligente, a maior do país, funciona como uma espécie de escola de formação de jovens agricultores. Mas, não é a primeira da Coreia, uma vez que existem outros três vales, instalados em Gimje, com 21,3 hectares, Goheung, com 33 hectares, e Miyang, com 22,1 hectares.

O Vale de Inovação de Sangju, visitado a 5 de Outubro de 2022, pelo Presidente sul-coreano, Yoo Suk-yeol, está a ser desenvolvido para criar jovens que possam assegurar e liderar o futuro da agricultura do país, como realçou Ryu Gyo-jeong, responsável da Equipa de Planeamento Inteligente do Departamento de Agricultura Inteligente.

Durante a visita ao espaço, Ryu Gyo-jeong explicou a um grupo de jornalistas africanos que o projecto, lançado, há dois anos, pelo Ministério da Agricultura, Alimentação e Assuntos Rurais, visa melhorar o crescimento do Smart Farm da Coreia, através da introdução de tecnologia de ponta como robôs e outros equipamentos.

A responsável ressaltou, ainda, que a criação de Smart Farm é um serviço que tem como objectivo controlar o nível de envelhecimento de agricultores e prevenir os efeitos na agricultura das alterações e desastres climáticos.

Tendo em conta que a Coreia tem a agricultura como um dos sectores-chaves para manter o desenvolvimento alcançado pelo país, referiu que o país usa a sua grande capacidade tecnológica para fomentar a produção nos campos agrícolas.

"O Governo coreano fomenta a criação de fazendas inteligentes, a fim de melhorar a produtividade e reduzir os custos de insumos, com foco, principalmente, na disseminação de fazendas inteligentes com base em subsídios governamentais”, disse.

Por isso, o Estado sul-coreano investiu na construção deste vale de inovação, desde 2021, um total de 166.2 biliões de won (moeda coreana), o equivalente a 127,85 milhões de dólares. Porém, a fazenda começou a operar apenas no ano passado.

Uma das áreas mais importantes da fazenda é o Centro de Incubação de Startups de Negócios para Jovens, onde são instalados as estufas, num espaço de 2.27 hectares.

Quanto à gestão da educação, em que os agricultores têm direito à formação e espaço para a criação de Smart Farm, nesta fase, a instituição escolhe apenas cidadãos coreanos dos 18 aos 39 anos, sendo que 30 por cento deles são de Sangju.

Por ano, as autoridades seleccionam 52 jovens, que são formados num período de 20 meses, sendo que nos dois primeiros se faz a introdução do programa, com abordagens sobre gestão do negócio e da Fazenda Inteligente e Fisiologia das culturas, o manuseio do cultivo por item, a viagem de campo, as palestras especiais dos especialistas.

Nos seis meses seguintes, os jovens seleccionados partem para educação prática, através da utilização da estufa prática do Centro de Incubação e a estufa líder da Fazenda Inteligente, entre outras actividades.

Por fim, na última fase de formação, constituída por 12 meses, os jovens são submetidos à prática de gestão. Aqui, eles experimentam o manuseio agrícola sob sua própria responsabilidade, com a disponibilização de uma estufa prática, assim como a educação prática prossegue por todo o período da lavoura.

Por exemplo, o arroz continua a ser um dos produtos agrícolas mais importantes da Coreia. Mas, o Estado quer diversificar a produção. Neste sentido, os jovens da Fazenda Inteligente apostam na plantação, com recurso a novas tecnologias, do pepino, tomate, morango e melão.

Neste momento, apesar de a Fazenda Inteligente acolher apenas nacionais, a sua responsável assegurou que o país está a exportar equipamento e tecnologia a outras nações, como ocorreu com a Holanda.


Serviços do Centro de Inovação

Além do Centro de Incubação de Startups de Negócios para Jovens, o espaço de formação tem uma Vila Agrícola Jovem, Centro De Apoio Do Vale Da Inovação, Lagoa de Detenção, Complexo de Demonstração, Fazenda Inteligente (do tipo arrendamento) e a Rua Cultural.

Durante o período em que ficam a usar esses serviços, os jovens agricultores aprendem a criar projectos empreendedores, para que possam futuramente montar, em três anos, suas fazendas e negócios, num espaço concedido de três hectares.

Assim, são seleccionadas equipas de 12 pessoas, divididas em quatro, e cada uma delas é orientada a produzir durante três anos. O custo anual de operação é de 2.150 dólares. Essa produção é acompanhada por 21 empresas.

As referidas empresas actuam por meio do Complexo de Demonstração. É aqui onde essas e os institutos de pesquisa estão instalados para testar equipamentos agrícolas inteligentes e verificar a segurança dos mesmos. Juntamente com elas, o Centro de Dados da Fazenda Inteligente de primeira linha da Coreia também opera no espaço.

O centro tem um acolhimento de agricultores, com 28 residências para jovens e formadores. Neste momento, as mesmas estão ocupadas por 76 pessoas.

Quanto à Rua Cultural, a responsável explicou que se trata de um espaço de cultura, lazer e descanso, usado por residentes do centro e por pessoas próximas à instituição. Tem cafés de estufa, parques de piquenique, locais de encontro, entre outros.

Até finais do próximo ano, o Centro de Agricultura e Inovação vai contar com novos serviços ou compartimentos.


Vantagens do uso do Smart Farm

Os jornalistas visitaram vários pontos do Centro de Inovação, onde constataram uma forma diferente de se fazer a agricultura, tendo em conta o recurso de novas tecnologias na produção.

Por isso, perguntou-se à Ryu Gyo-yeng a diferença entre a agricultura tradicional e a Smart Farm. A resposta foi célere: esta última é virada na optimização da produção, para trazer mais eficiência e diminuir desperdícios.

A responsável referiu-se à tecnologia Big Data, para explicar que a mesma permite calcular a situação meteorológica e o estado dos solos, com vista à recepção ou não de um determinado tipo de plantas.

Outra grande característica que diferencia os dois tipos de agricultura, destacou, é que a mais moderna consegue determinar a temperatura, sendo que se pode criar o ambiente para a plantação de determinadas espécies, mesmo em períodos não considerados apropriados.

Se a estufa era vista com a quantidade de sementes e calculadas por homens, na agricultura inteligente ou inovada, os aparelhos electrónicos exercem essa função.

"As tecnologias avançadas possibilitam que se analise a plantação, cultivo, colheita e muito mais”, disse Ryu Gyo-jeong, para acrescentar que estes métodos diminuam os recursos e desperdícios, bem poupa os esforços dos agricultores e retarda o seu envelhecimento.


Por dentro do smart farming

Quando se refere à expressão Smart Farm, o mesmo que "agricultura inteligente”, em português, é um conceito popularizado nos últimos anos, para dar conta do recurso de mudanças tecnológicas/digitais na agricultura.

A agricultura inteligente surgiu para aumentar a eficiência agrícola, uma vez que abre a possibilidade de a plantação mecanizada substituir a mão-de-obra tradicional.

Essa adopção permite que os produtores rurais possam elevar a produtividade, optimizar o tempo de colheita e reduzir os gastos com a contratação de mais pessoas para trabalhar no campo.

Na agricultura inteligente, os equipamentos digitais, também, permitem que se tenha informações sobre o estado da temperatura/clima, a qualidade das terras/solos, período de irrigação de plantas, controlo de possíveis pragas e prevenir ameaças ou desastres naturais.

Por isso, a responsável do Vale de Inovação referiu que países como a Coreia, que despertaram para as suas vantagens, adoptaram a agricultura inteligente.


Big Data e o controlo da produção

São várias as tecnologias mais modernas levadas aos campos de produção agrícolas, nas Smart Farm. Entre essas está a Big Data.

Além da Big Data, os agricultores também fazem recurso à Internet of Things (IoT), inteligência artificial, drones ou veículos autónomos, imagens via satélite e sistemas automatizados, cloud computing, blockchain, sensores e GPS.

Na Fazenda Inteligente de Sangju, os jovens agricultores usam, entre outras, a tecnologia Big Data, que auxilia outros mecanismos de funcionamento mais modernos.

A tecnologia Big Data, explicou a responsável do centro, permite que se controle os dados e se enviem de forma contínua e em tempo recorde.

O sistema é uma estratégia importante para colecta, organização e interpretação de informações, tendo em conta a velocidade, volume, veracidade, variedade e valor.

No fundo, o Big Data é um sistema inteligente de armazenamento e análise de dados, sendo que uma das suas grandes vantagens está no facto de dispor de uma capacidade de tratar qualquer tipo de registo digital de diversas fontes.

Por exemplo, no trabalho do campo, informações relacionadas com geolocalização, características do solo e os históricos de consumo de água e rotação de culturas são extremamente importantes. E o Big Data ajuda nesta tarefa, rematou Gyo-jeong.

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