O Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, e altos funcionários da Administração aperceberam-se da forma detalhada que, entre outros,  os três ramos das Forças Armadas estavam envolvidos e que, por volta das 7 horas, seria lida uma declaração na Rádio.  

O objectivo era a deposição do Presidente socialista, Salvador Allende, num país que já tinha uma invejável tradição democrática, em toda a América Latina, e níveis aceitáveis de crescimento económico.

Diz-se que a data, 11 de Setembro de 1973, tinha sido escolhida pelos golpistas por causa das festividades das Glórias ao Exército, uma tradicional parada militar que reuniria naquele dia, na capital chilena, grande número de militares de todo o país, seguramente, um evento que serviria como rampa de lançamento para o acto. 

Consta do Site "AH-Aventuras na História” que, na "madrugada anterior, na residência oficial da Presidência, Salvador Allende tinha ido dormir por volta das duas da manhã, com informações difusas e vagas sobre as movimentações de tropas no litoral. Dormiu pouco. Antes das 6 horas, foi despertado por um dos seguranças que, assustado, informou que o general carabineiro, Jorge Urrutia, tinha telefonado para alertar que a Marinha havia se rebelado, em Valparaíso, e camiões cheios de soldados estavam a caminho para depor o Governo”.

"Calmo, o Presidente tentou falar com os chefes militares, entre eles Pinochet, sem sucesso. Decidiu então partir para o La Moneda, na sua última investida para preservar, nem que fosse com a própria vida, o Governo que há dois anos promovia mudanças sociais profundas na sociedade chilena”.

No Palácio La Moneda, Salvador Allende tinha-se entrincheirado, ante às investidas de tanques e aviões Hawker Haunter da Força Aérea chilena, recusando-se a renunciar, até às 11 horas daquele dia, tal como imposto pelos militares.

Tudo quanto se passou pouco depois traduziu-se na rapidez e violência com que o acto surpreendeu os chilenos.

O sonho de Allende

Ao contrário de numerosos países, em que o sonho de uma sociedade socialista ocorreria por via acção de massas, revolução ou luta armada, como sucedeu em Cuba, em 1959, e cujo Efeito Dominó preocupava Washington, Allende acreditava que seria possível transformar o Chile numa nação socialista por via eleitoral.

Apoiado por uma coligação de partidos de esquerda e de centro, a Unidade Popular, o ex- senador marxista e candidato, três vezes à Presidência, chegou ao poder em Outubro de 1970, com uma agenda marcadamente de esquerda.

Em 11 de Julho de 1971, o Governo de Allende conquistou uma de suas maiores vitórias, com a aprovação da emenda constitucional que possibilitou a nacionalização de toda a indústria e exploração do minério de cobre, uma das maiores fontes de riquezas chilenas. Com esta realidade, obviamente que as sirenes começavam a apitar na região e em Washington.

Efeitos da ditadura de Pinochet

"A ditadura chilena foi uma das mais agressivas de toda a América Latina e responsável por cerca de 40 mil casos de tortura em 17 anos de regime. Locais como o principal Estádio de Futebol da cidade de  Santiago, foram transformados em prisão e local de tortura. Heraldo Muñoz, político chileno, citado pela BBC afirmou que, desde o primeiro dia da ditadura, Pinochet autorizou a perseguição de marxistas, defensores de Allende, opositores dos militares etc.

Um dos casos significativos do modo de operação da ditadura chilena deu-se contra a estudante Lumi Videla. Ela foi presa pelo Dina, o serviço de inteligência da ditadura chilena, em 1974, por ser membro de um grupo de esquerda revolucionário.

Busca pela verdade, reconciliação e perdão

Em 2003, criou-se a "Comissão Valech”, uma iniciativa do ex-Presidente chileno, Ricardo Lagos, para identificar pessoas detidas e torturadas por agentes ou sujeitos ao serviço do Estado sob o regime militar, incluindo vítimas de privação de liberdade ou torturas por razões políticas, desaparecimentos e execuções políticas, sequestros e atentados com motivações políticas, desde que o caso tenha ocorrido entre 11 de Setembro de 1973 a 10 de Março de 1990. A ex-Presidente Michelle Bachelet, entre 2006 e 2010, deu sequência à segunda comissão que, em 18 de Agosto de 2011, reconheceu um total de 40.018 vítimas, sendo 3.065 mortas e/ou desaparecidas, adicionando mais de 11.000 casos de prisioneiros políticos e de torturas do  que  primeira versão.

O Governo do actual Presidente chileno, Gabriel Boric, pôs em marcha um plano para buscar os desaparecidos durante a ditadura de Augusto Pinochet, que vai ser executado pelo Ministério da Justiça, chefiado pela ministra Marcela Ríos, um gesto que visa atenuar as críticas e saldar uma das maiores dívidas da sociedade chilena.

Sociedade dividida

À BBC News Mundo, Hugo Rojas, doutor em Sociologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e professor de Direitos Humanos da Universidade Alberto Hurtado, em Santiago do Chile afirmou que, relativamente ao que se aprendeu, reflexões em torno da data, 50 anos depois, explica assim: "infelizmente, esta comemoração não está a ser aproveitada como um momento propício para reflectir sobre a nossa história recente, nossas dores, aprendizados, lições, recomendações e propostas para o futuro”. Para o cientista social, 50 anos após golpe militar, a sociedade está desorientada, numa altura em que a direita festeja e celebra o golpe como alegada tentativa bem-sucedida da salvação do país do comunismo, enquanto os partidos de esquerda lamentam as mortes e desaparecimentos, muitos até hoje não explicados.

Trajectória  de Pinochet

Augusto José Ramón Pinochet Ugarte nasceu em Valparaíso, no Chile, em 25 de Novembro de 1915. Após concluir seus estudos na Academia Militar de Santiago, assumiu o posto de segundo-tenente, dedicando-se totalmente a essa carreira, na qual obteve grande sucesso.

A prova do seu crescimento na carreira militar veio com o grande reconhecimento de ser promovido, em 1969, a general de brigada e, em 1971, a general de divisão; até que, em 1973, foi nomeado comandante chefe do Exército chileno, alcançando a posição mais elevada da instituição.

A referida posição foi uma espécie de viragem chave para os desdobramentos políticos  na História do Chile, já que, assumindo essa posição, coordenou as ações para o golpe militar.

Tubo de ensaio  para a Escola de Chicago

O Chile, da era Pinochet, serviu, assim apontam muitos historiadores, como uma das primeiras experiências para a implantação do neoliberalismo, baseado na chamada escola de Chicago em que despontavam as ideias de Milton Friedman. Contrariando tudo quanto Allende visionava, nomeadamente a estatização da economia, Pinochet adoptou medidas agressivas em que diminuía o papel do Estado, viabilizando o controlo da economia por sectores privados, nacionais e estrangeiros.

Durante a década de oitenta, fruto de desgaste, redução do apoio americano e crescentes denúncias internacionais de graves abusos dos direitos humanos, os chilenos foram chamados às urnas para plebiscitar o mandato da ditatura militar.

O poder militar recebeu um chumbo de 56 por cento dos votos que favoreciam o fim da ditadura e a convocação de novas eleições no ano seguinte.

Depois de deixar o poder em 1991, Pinochet manteve a chefia do Exército e a condição de senador até 1998, quando foi detido e se deu início a uma longa batalha campal judicial, cujo desfecho ocorreu no dia 10 de Dezembro de 2006, quando morreu em consequência de um ataque cardíaco, aos 91 anos.

A sua morte e o escape às condenações e às punições ainda são, até hoje, uma causa de muita revolta entre os chilenos.

Perfil de Allende

Salvador Guillermo Allende Gossens foi um médico e político social-democrata chileno. Fundador do Partido Socialista local, governou o seu país de 1970 a 1973, quando foi deposto por um golpe de Estado, embora algumas fontes apontem para o suicídio como forma em que Allende pôs termo à vida.