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Julho é o mês mais quente registado na História

Dados divulgados nesta quinta-feira pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, confirmam que este Julho está prestes a tornar-se o mês mais quente já registado. As altas temperaturas estão relacionadas com ondas de calor em boa parte da América do Norte, Ásia e Europa.

29/07/2023  Última atualização 07H55
As altas temperaturas estão relacionadas com ondas de calor em boa parte da América do Norte, Ásia e Europa © Fotografia por: DR
De acordo com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, "as consequências são claras e trágicas: crianças arrastadas por chuvas torrenciais, famílias fugindo de incêndios e trabalhadores a desmaiar no calor escaldante.” As temperaturas globais da superfície do mar atingiram um recorde em Maio e Junho de 2023.

O líder da ONU disse que a mudança climática "já está aqui”, é "assustadora” e que o que estamos a ver é "apenas o começo.” Incêndios florestais em países como Canadá e Grécia têm um impacto enorme na saúde das pessoas, no meio ambiente e nas economias.

Guterres lembrou que tudo que está a acontecer é "inteiramente consistente com previsões e alertas repetidos diversas vezes.” Enfatizou que o "nível dos lucros com combustíveis fósseis e da falta de acção climática são inaceitáveis.” Embora reconheça alguns progressos com energia renovável, o líder das Nações Unidas considera que isso ainda não é suficiente.

Responsabilidade do G20

Guterres destacou que existem "diversas oportunidades críticas” chegando para mudar este quadro. Dentre elas as Cúpulas Climática da África, do G20, da Ambição Climática da ONU e a Conferência sobre Mudança Climática, COP28, marcada para os Emirados Árabes Unidos. 

As 20 maiores economias do mundo, que compõem o G20, o grupo que inclui o Brasil, são responsáveis por 80 por cento das emissões globais de gases do efeito estufa. Por isso, o secretário-geral afirmou que essas nações "devem intensificar acções climáticas e reforçar a justiça climática.”

Respondendo a jornalistas, ele disse que a próxima Cúpula do G20, em Setembro, na Índia, será decisiva, pois nenhuma outra nação tem como compensar as consequências "caso o G20 não actue com seriedade para reduzir de forma dramática as emissões.” 

Guterres também cobrou planos factíveis para acabar com o uso de carvão até 2040 e uma actuação firme das instituições financeiras para encerrar empréstimos e investimentos em combustíveis fósseis.

Planos de adaptação insuficientes

Antes da divulgação do relatório, o climatologista Álvaro Silva, da OMM, contou à ONU News, de Lisboa, que além da mitigação é importante melhorar os planos de adaptação. "Estamos cada vez mais a experienciar aquilo que foi antecipado há muitos anos do ponto de vista de mudança climática. É importante não esquecer que temos que acelerar a adaptação, porque muitas vezes a adaptação pode não ser suficiente do ponto de vista das medidas que estão actualmente em vigor e dos planos de acção.”

Segundo a OMM, em 6 de Julho, a média diária da temperatura global do ar ultrapassou o recorde estabelecido em Agosto de 2016, tornando-se o dia mais quente já registado, com os dias 5 e 7 de Julho logo atrás.  

As três primeiras semanas de Julho foram o período de três semanas mais quente já visto. Desde Maio, a temperatura média global da superfície do mar está bem acima dos valores observados anteriormente para esta a época do ano, contribuindo para o Julho excepcionalmente quente de 2023.

Então, o que  podemos fazer?

Os líderes mundiais terão que agir rapidamente nas cimeiras do G20 e da COP28 para reduzir as emissões de CO2 e metano na atmosfera o mais rápido possível. Isso diminuirá a percentagem de aquecimento. Mas não há remédio imediato. O calor e os extremos climáticos que estamos a enfrentar permanecerão connosco nas próximas décadas.

  Anúncio partiu de um climatológo da Universidade de Leipzig, na Alemanha

O climatólogo Karsten Haustein, da Universidade de Leipzig, na Alemanha, foi o primeiro a chegar à conclusão de que o sétimo mês de 2023, já marcador por diversos recordes de temperatura alta em várias cidades do mundo, pode ser também o mais quente dos últimos 120 mil anos.

Alguns dos máximos que foram registados este mês: 52,9 graus Celsius na China, 48,2 graus Celsius na Sardenha, 39,6 graus à noite na Argélia e a temperatura do mar de 37,2 graus na Flórida.

 Há algum tempo que este processo está em crescimento. Se se usar um gráfico, pode-se observar que as temperaturas diárias da superfície global este ano, desde Janeiro, estão acima da média durante todo o ano e atingem um pico em Julho.

Este novo recorde histórico é, na verdade, o ponto culminante das ondas de calor que vimos em terra e também nos oceanos. De acordo com a directora-adjunta do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, Samantha Burgess, "Todo esse ar quente adicional e a água quente da superfície estão a retro-alimentar-se. Portanto, estamos a ver temperaturas recordes mais quentes do que nunca".

Apesar de haver quem considere que 2023 será mais quente porque o fenómeno El Niño está de volta ao Pacífico - parte de um ciclo natural do nosso planeta - os cientistas dizem que é muito cedo para isso.

"Ainda não é o El Nino. Portanto, a expectativa é que, com o desenvolvimento do El Niño, tenhamos temperaturas ainda quentes. E a expectativa é que as temperaturas para 2024 possam ser ainda mais quentes," explica Samantha Burgess. De facto, a previsão sazonal para o resto do ano mostra que as temperaturas terrestres continuam acima da média.

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