O continente africano tem sido palco de inúmeras transformações políticas. Entre estas, destaca-se a “Era dos Presidentes fardados em África”, marcada por uma série de golpes de Estado que resultam na ascensão de líderes militares ao poder.
A primeira nação negra independente, o Haiti, é hoje uma amálgama de ingovernabilidade e criminalidade urbana sem precedentes, uma realidade que lembra não apenas os efeitos da miserável colonização francesa, os anos que as sucessivas administrações americanas faziam daquele país “quintal dos Estados Unidos”, as décadas de ditaduras vividas, mas também alguma falta de solidariedade da parte da União Africana.
Li no semanário português Expresso: Marcelo Rebelo de Sousa está preocupado com o recente acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia e disse (cito de cor) que quer “muito” conhecê-lo.
Aproveitando a deixa, comentou, em tom lamuriento, que os países africanos de língua portuguesa têm tido posições diferentes nas reuniões da ONU sobre a guerra na Ucrânia.
Não posso deixar de evocar o "compromisso” do anterior presidente da Assembleia da República portuguesa, Santos Silva, no início dessa guerra (melhor, no reinício, pois ela já vem, pelo menos, desde 2014), quando prometeu a Zelensky usar da influência lusitana junto desses países para que os mesmos condenassem a invasão russa.
Ao que parece, o saudosismo colonial português une direitistas e "neoliberais de esquerda”.Não discutirei, obviamente, o acordo santomense-russo, por desconhecer o seu conteúdo.
Como defensor do pan-africanismo e do não-alinhamento africano (sim, sei que tais valores estão pelas ruas da amargura, pelo menos entre a maioria das actuais lideranças políticas do nosso continente, mas deixem-me insistir neles), sou mesmo, em princípio, contrário a acordos dessa natureza seja com quem for, a não ser em contextos especiais, como guerras, o que não parece ser o caso de São Tomé e Príncipe.
Mas há algo que não podemos deixar de discutir: a persistência da mentalidade neocolonial portuguesa, europeia e ocidental em geral.
Essa realidade não pode ser negada sequer pelos antigos colonizados que sonham em se converter na sexta quina da bandeira lusitana ou por aqueles que confundem o desencanto com a maioria das elites no poder em África, assim como a legitimidade e a necessidade de criticá-las, com a negação de que o neocolonialismo continua a ser um dos fatores do nosso atraso comum. Ambas as realidades são verdadeiras e – vou dizê-lo – coexistem. A cumplicidade, para não dizer aliança, entre as forças neocoloniais e as elites no poder na maioria das nações africanas é um facto irrefutável, que as primeiras mascaram com as suas críticas bem pensantes, nomeadamente através da mídia e da academia, às "autocracias africanas corruptas”, e as segundas com as suas lamúrias por causa das "ingerências do Ocidente” e inflamados discursos "identitários”.
Por vezes, quando as lideranças subalternas se tornam incómodas e ameaçam expor essa cumplicidade, o democrático Ocidente não hesita em recorrer à "queima de arquivo”, como fez a França com o antigo líder líbio, Muammar Kadhafi. Ultimamente, parecem estar a emergir em África novas lideranças dispostas a quebrar esse autêntico círculo vicioso. Algumas delas têm chegado ao poder pela força e outras pelo voto.
Em relação às primeiras, recuso-me a alinhar incondicionalmente na crítica abstrata ao modo como elas têm chegado ao poder, pois a História está cheia de exemplos de mudanças positivas alcançadas pela força, quando os sistemas vedam, igualmente pelo uso da força, qualquer possibilidade de mudança interna (portanto, é fundamental analisar caso a caso e não generalizar); só para dar um exemplo, o 25 de Abril, cujo cinquentenário se comemora este ano, começou por ser um golpe de estado militar, embora sem sangue (todo o sangue já havia sido vertido em África).
Quanto às segundas, é de realçar o exemplo do Senegal, um país onde já houve quatro transições de poder sem qualquer comoção nacional.
Para terminar, acrescente-se outro facto: até agora, a cooperação com o Ocidente não tem contribuído para o real desenvolvimento de África, o que, como se conclui do que que foi escrito acima, se deve ao mesmo tempo às elites africanas que têm governado até agora (nas quais me incluo, com a dose de autocrítica que me cabe) e à persistência da mentalidade neocolonial do Ocidente em geral, que tem sido o principal parceiro do continente; por isso, algumas das novas lideranças que começam agora a surgir têm buscado outras parcerias, como a China ou a Rússia (é nesse quadro que se deve inserir, talvez, o acordo militar entre São Tomé e Príncipe e a Rússia).
O futuro dirá qual o resultado dessa aparente inflexão estratégica. No caso do referido acordo, o presidente Marcelo de Sousa pode – acredito eu – ficar tranquilo: os russos não partirão de São Tomé e Príncipe para atacar as costas do Algarve.
Os turistas ingleses continuarão a afluir sem qualquer risco àquela simpática região.
*Jornalista e Escritor
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LoginEm qualquer Estado moderno, com uma natureza pós-conflito, exactamente como o nosso, em condições normais e sem quaisquer exageros, os antigos combatentes e deficientes de guerra, bem como os familiares de combatentes tombados ou perecidos, deviam ser parte de um segmento especial em matéria de tratamento social.
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