À semelhança do que acontece noutras ciências, a medicina está em constante evolução e, com o advento das tecnologias digitais, esse progresso vem acelerando cada vez mais.
Nos dias 4 e 5 de Junho terá lugar, em Seul, a 1.ª Cimeira Coreia-África. Prevê-se que a Cimeira, com a particularidade de ser a inaugural, seja a maior reunião internacional da actual administração coreana. Isto reflecte o empenho do Presidente Yoon Suk-yeol em promover uma parceria mutuamente benéfica, sustentável e estratégica a longo prazo com África, em consonância com a visão da Coreia de se tornar um Estado Global Pivotal, por um lado.
Quando falamos de memória, as pessoas são lestas a associa-la à imagem de um computador ou de um smartphone. Memória que até pouco tempo atrás era quase exclusivamente uma função biológica, passou por um processo de ressignificação que somente uns quantos teimosos insistem em entendê-la como recordação de experiências e de factos vivenciados no passado.
Hoje, a memória está mais para capacidade de armazenamento e processamento de dados, transformados em conhecimento disponível para tomada de decisões no dia-a-dia, do que para qualquer processo biológico momentâneo ligado ao imaginário interior de alguém. Qualquer definição que não refira as palavras armazenar e processar, arrisca-se a ser considerada incorrecta, desajustada ou mesmo em desuso. De igual modo, os que teimam em humanizar a memória, os que buscam nela qualquer sinal de virtude humana, habilitam-se a rapidamente integrarem a categoria dos tecnologicamente inaptos, uma subespécie humana indigna de pertencer ao mundo civilizado e a quem será dirigido todo o ódio e o desprezo da sociedade moderna.
Vivenciamos uma anulação consentida de uma característica que já foi, curiosamente, motivo de orgulho (diria mesmo, vaidade) da espécie humana, porque a poucas ou a nenhuma outra lhes era reconhecida e cientificamente provada a capacidade de recordar experiências próprias, o dom da memória, no momento da tomada de uma decisão, da mais simples à mais complexa e arrojada.
Até me ocorreu o filme Robocop – O Polícia do Futuro (1987), em que um agente da polícia é assassinado e depois transformado em uma espécie de máquina de combate ao crime em Detroit. Era suposto ser a máquina perfeita. Indestrutível, letal e desprovida de sentimentos. Só que as coisas começam a correr mal quando se descobre que afinal os cientistas, por algum descuido, mantiveram a memória do agente, que em vez de combater o crime,conforme programado, partiu para uma espécie de saga pessoal de eliminação dos seus algozes.
A vingança do Robocop, que no final até pisca o olho e diz o seu nome (Murphy), era o grande momento do filme. Recordo-me que no "velho” Cine Atlântico, onde assisti pela primeira vez, a sala veio abaixo, quando o Robocop fez de cowboy girando a arma no indicador direito antes de recolhê-la para o coldre, um compartimento sofisticado no interior da coxa. Hééééééééééé!!!! Era a multidão extasiada com a eliminação dos bandidos. Mortos, um a um. Cada cena mais violenta que a outra, mas não fazia mal. Era o bem a triunfar como de resto devia ser sempre. Até porque, naquela altura, não havia assim tanto espaço para corações sensíveis.
Apesar de ser classificado como acção e ficção científica, o filme de Paul Verhoeven, com Peter Weller no papel principal, teve como pedra de toque a memória e o papel que ela desempenha na construção de uma sociedade ordeira, mais justa e feliz, porque sensível e… humana.
Quem diria que a mensagem de Verhoeven (na realidade a história foi escrita a quatro mãos, por Edward Neumeier e Michael Miner),só ficaria completa mais de 30 anos depois. No mundo actual só vale o presente e o futuro. Do passado vivem os museus. O que passou só serve para processar, quanto mais rápido melhor, e produzir conhecimento para agora e para o futuro. Tudo tão rápido que não dá tempo para nada, sequer para um simples piscar de olhos.
Na lógica actual, o agente Murphy estaria ao serviço dos mesmos malfeitores que um dia eliminaram, a ele e à sua família. Está aí o quadro perfeito do quão perigoso é,para uma sociedade, sonegar as suas próprias memórias.Semana passada os angolanos celebraram o 22º aniversário do Dia da Paz e da Reconciliação Nacional. Várias iniciativas marcaram as celebrações desta efeméride, que é um pedaço importante da nossa memória colectiva.
Essa paz que tanto nos orgulha (e envaidece, no melhor dos sentidos) deve ser protegida, não apenas daqueles que se incomodam com a felicidade e a prosperidade alheia, mas daqueles que, acreditando numa equivalência perfeita dos conceitos de modernidade e digital, atacam ferozmente os pedaços de história que permitem compreender o nosso presente e idealizar o futuro.
O 4 de Abril de 2002 é um desses pedaços da nossa história. Devemos blindá-lo, nos manuais escolares, no debate público, na comunicação social e nos media em geral. Não pode haver espaço para dúvidas sobre o seu significado. Como o 11 de Novembro de 1975, em que o saudoso Presidente Neto proclamou a Independência Nacional, o Dia da Paz e da Reconciliação Nacional também teve os seus protagonistas, um deles é o Presidente José Eduardo dos Santos, mas nada que faça de qualquer um destes dois grandes nomes da vida nacional, donos do que quer que seja. A Independência e a Paz, os dois grandes marcos da história de Angola, são pertença do Povo angolano.
A paz em Angola é o resultado de uma combinação de factores, desde a liderança sábia e visionária à capacidade técnica e de interpretação dos comandos e estratégias, do espírito de sacrifício à coragem e doação individual e colectiva, da solidariedade nacional e internacional à vontade genuína dos angolanos de abraçarem a oportunidade de um novo começo.
Por cá, não faltam iluminados que decidem tentar brilhar com a sua própria ignorância. Outro dia, um deputado que até parecia estar sóbrio, decidiu ignorar Agostinho Neto, desvalorizando-se a ele próprio e à bancada que integra. Só não se sabe se a Assembleia Nacional lhe mimou com alguma penalização, só para deixar claro que liberdade não se confunde com libertinagem, e as instituições republicanas são para ser respeitadas. Goste-se ou não Agostinho Neto é o Pai da Nação angolana. Foi ele quem proclamou a Independência de Angola. Os angolanos deixaram de ser cidadãos portugueses de um distrito do ultramar português chamado Angola, para serem cidadãos da República de Angola. Tentar anulá-lo, ou ao momento único da história a que está associado, é anular-se a si próprio.
A melhor forma de proteger esses pedaços da nossa história é partilhá-los, como factos, tal como eles são, sem paixões ou paternalismos. É também a melhor forma de contribuirmos para um presente estável e um futuro verdadeiramente próspero, para todos os angolanos. Essa é a nossa memória, nossa história, a História de Angola. Por favor, protejam-na!
*Jornalista
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