É verdade que, normalmente, na prática não é possível o mesmo grau de êxito relativamente a todos os alunos visto que existem factores individuais que nem sempre se conseguem ultrapassar, ou ainda, que os objectivos atingidos podem não ser os mesmos para o conjunto de alunos.
Comecei a lidar com livros ainda em tenra idade, em Malanje. Minha memória conserva um episódio doméstico bastante curioso: meu pai, professor do ensino primário, armazenava na estante da sala obras de diversos géneros, dentre elas um antigo livro:“O Nosso Dicionário”. Do outro lado estava uma tarimba de alimentos.
Nunca quis revelar os mistérios à volta da mítica figura que contra a natureza de todos os gostos foi obrigada a se tornar, tampouco os vendavais que impedema motorizada de dezoito escapes de pegar logo no primeiro arranque (a cidade velha está desguarnecida de um Goodzila do Game).
Mas o seu perfil de apressar os passos ambulantes por toda extensão da geografia, queviu pela primeira vez oseu umbigo a ganhar dimensão decrosta,é um remédio contra o entusiasmo vitoriano que não foi feito à medida da sua banheira prenha denecessidades.
Não basta a chave estar na ignição,a motorizada de dezoito escapes tem necessidade de um Goodzila do Game, mas a figura mítica perdeu a libido pela cidade velha, a sua maior preocupação é com a fartura na sua santa kinda.
O entusiasmo vitoriano coabita arrojadamente com tudo, menos com a sua santa bacia de produtos diversos que coroam a sua cabeça cheia de cãs.
Acto a continuar - o entusiasmo vitorianonão afaga as suasmãos, sequer apresenta soluções clínicas para a sua voz fónica reproduzida pelo megafone da vida de cadela que leva.
Por isso desde cedo, embora inocentemente, ou pelo instinto de sobrevivência, levanta barricadas contra todos os acordos extra-muros que não se consubstanciamnos cacarejos da ave madrugadora, única testemunha com óculos de ver. Acompanha secretamente os seus passo que fazem cortes profundos na face do asfalto.
Todo ser, quando nasce, é-lhe atribuído um nome, uma identidade. E com a figura mítica não foi diferente.
O nome, ou melhor, a identidade que lhe fora atribuída, é depreciativa, toda sua família persegue a mesma sina, teme que os seus filhos vislumbrem também essa cruz de pedra que martiriza o seu dorso.
Se auto-tortura quando pensa subitamente em coisas do género.
Chamam-lhe zungueira, mas não tem a mesma sorte da Alice no país das maravilhas. Qualquer destino que não lhe leva para a mecanização do pãonão serve.
Quem lhe dera que a dignidade dapessoa humana fosse garantida pelo baralho magno e não reduzida pelo "arreiou-arreiou” ou ainda pelo pregão da avó Ximinha, a sua antecessora mais distante.
A mítica figura vem dos arrabaldes, o seu bairro é o sexto da lista da indigência, a sua colega ao lado vem do Malueka, aqueloutra vem das catacumbas de um Paraíso que mais se parece com o inferno.
Juntas rasgam o céu da cidade velha, as suas banheiras com produtos essenciais são uma forma atípica de protesto. Uma forma de estar ou de costurar a vida.
São inadaptadas às normas, às convenções, ao status quo reinante.
Ao seu nível levantam barricadas contra todas acções psicológicas, violências simbólicas perpetradas pelos iluminados que impedem a lavoura de ser lavoura.
Há sempre um pregão que lhe atesta: "tákibanané ééé, tá kiabacaté ééé, tá kilimão ééé, tá kilaranjaéééé, compra mó filho de home, tó a dispaxa... os teus irmão lá imcaza precizam mintiabarriga”.
Não quer ser levada à categoria de heroína, de guerreira, a sua coroação como sobrevivente da guerra quotidiana não cabe na extensão de um largo. O suor que escorre em toda parte do seu corpo não é fruto de um romantismo, é tão real, tão vivo como os ossos do seu surrado ofício.
Tem poucas chances para mudar a rota da sua vida, já se lhe tornou numa canção que conhece como a sua chinela gasta que lhe calça os pés, mas o que importa é que não falte lápis, um caderno e uma côdea de pão para os seus filhos. Só a lucidez os levará à emancipação.
A mítica figura parasita sonhos por via dos seus filhos.
Colocaram-lhe pulseira electrónica na mente e nos pés, sente que a sua liberdade de sonhar saltos altos como as empoderadas foi cerceada, está em constante estado de sítio, até parece ironia, mas ela ficou reduzida à fruta-pinha do Sô Santo ou do SôDiabo dia.
Juli, a sua colega de banheira impediram-lhe de ser Ana, cafricaram-lhe os suspiros todos. Não teve a mesma sorte.
Sente tanto medo, amanhã poderá ser ela ou uma outra colega de bacia.
A solidez da sua"chapa ganha, chapa gasta” depende da boa vontade e do estado de ânimo dasua principal opositora, vulgo operadorae fiscalizadora do resgate engatatão.
O seu capital social é irrisório, é um sopro, não chega a estar no mesmo pedestal que ascestas que impedem outros sobreviventes de terem uma prazerosa sexta.
Basta um pontapé de arrogância para ir tudo por ralo abaixo, para voltar à estaca zero.
Nem sempre chega sã e salva à sua choupana.
Nem sempre lhe permitem afagar os seus filhos e o seu adorável mata-kassumuna.
Um chocolate meio azulado ou um chassi de alta cilindrada silencia para sempre o seu pregão.
Mas pede aos seus carrascos para não se esquecerem de escrever na suacampa a seguinte mensagem:
"Aqui jazem os restos mortais da figura mítica”.
"Aquela que em vida vos importunou com o seu pregão característico”.
Feita essa sua vontade, quem sabe assim poderá ter finalmente a paz que a vida lhe roubou descaradamente!
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