Nos tempos que correm, na abordagem sobre a importância da liberdade de imprensa na construção da democracia, é incontornável que se fale e se discuta sobre o papel e o impacto das redes sociais na facilitação do acesso à informação por parte do público. Do mesmo modo que com o surgimento da imprensa, entendida em sentido lato, assistimos a uma maior difusão de ideias, de cultura e de conhecimentos, com o aparecimento das redes sociais a divulgação de factos e acontecimentos ganhou outra dimensão.
Para uma melhor compreensão deste artigo de opinião, afigura-se forçoso um recuo histórico, ainda que telegráfico, à Guerra Civil chinesa, que decorreu entre 1927 e 1949, entre comunistas sob a liderança do Chairman Mao Tsé-Tung, que defendiam uma revolução socialista, o fortalecimento do poder dos trabalhadores e camponeses, contra os nacionalistas sob a liderança de Chiang Kai-Shek, que defendiam a ditadura burguesa do proprietário e capitalismo, onde os primeiros venceram a guerra e os segundos foram forçados a se refugiarem na ilha de Taiwan.
Assinala-se hoje o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, num contexto de crescentes inquietações face às ameaças aos valores do Jornalismo, ameaças que têm origem nas disputas geopolíticas e no uso das redes sociais para a construção de narrativas que fogem à verdade dos factos.
As guerras na Ucrânia e de Israel contra o Hamas deram-nos a ver os desafios que a imprensa enfrenta para manter uma posição de equilíbrio numa situação de conflito político-militar. Com o eclodir da guerra na Ucrânia, o panorama da media no Ocidente mudou radicalmente. A Rússia seguiu o exemplo. Órgãos de comunicação social que estavam representados de um e de outro lado da barricada viram as portas fechar. As hostilidades no campo político estenderam-se às redacções.
Em Gaza, em particular, tal como não houve diferenciação entre a população civil e os guerrilheiros do Hamas, Israel não fez distinção e os jornalistas, mesmo com os coletes a identificá-los como tal, também engrossaram o número de vítimas mortas de forma indiscriminada.
Este breve relato serve apenas para mostrar para onde o Jornalismo está a ser empurrado. Muito antes, diferentes eventos políticos concorreram para cercear a lucidez com que o Jornalismo é obrigado a actuar, por força das suas regras de mando.
Em Março de 2003, Estados Unidos e o Reino Unido invadiram militarmente o Iraque, sob a alegação de que o regime de Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa. A imprensa ocidental deu ampla cobertura a esse argumento e à operação militar. Ao fim de oito anos de guerra, Saddam Hussein foi apanhado, enforcado, e, mais tarde, chegou-se à conclusão que as ditas armas de destruição em massa nunca existiram. Não foram encontradas! O Jornalismo caiu num embuste.
Em 2017, com a construção da narrativa da "pós-verdade” ou verdade alternativa, que Donald Trump inaugurou enquanto 45º Presidente dos Estados Unidos, começa outro grande repto lançado ao Jornalismo, que se vê obrigado a desconstruir essa teoria para repor a verdade dos factos.
Desafortunadamente, em 2020 o mundo mergulha na pandemia da Covid19. Outro evento, desta vez sanitário e não político, que obriga os poderes políticos a nível mundial a redobrar cuidados e a impor restrições que, em alguns casos, colidiram com a vocação jornalística de informar o público sobre o que realmente estava a acontecer.
Mal saímos da pandemia, a guerra russo-ucraniana passa a dominar o rumo dos acontecimentos… As ondas de choque desse conflito continuam a espalhar-se pelo mundo, como um terramoto em que as diferentes camadas ou placas tectónicas procuram ajustar-se às alterações que estão a ocorrer…
Olhando mais para dentro, para nós, e a propósito da data que hoje se celebra - o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa -, dizia-me, em tempos, uma pessoa amiga, o seguinte:
- Vocês (a Comunicação Social) têm um papel muito importante na sociedade. Vocês devem "ajudar o Governo a governar”. Vocês devem falar das coisas boas que o Governo faz, e que não são poucas, na Habitação, na Agricultura, na Energia, na Educação, na Indústria, na indústria espacial, que é muito importante, na Saúde, dar a conhecer ao público os serviços, e por aí fora…
Todavia, depois de elencar todas essas coisas positivas, com a convicção de quem acha que a imprensa pode fazer muito mais, pode desempenhar melhor o seu papel em prol do país, acrescentava:
- Mas devem também escrutinar mais, falar das coisas que estão mal. Das estradas esburacadas, dos serviços mal prestados. Dos hospitais. Alguns são novos, de construção recente, mas vai ver como estão as casas de banho destinadas ao público! E isso não tem nada a ver com a ministra ou o ministro, tem a ver com o gestor do hospital, que tem de ser responsabilizado.
E prosseguia:
- Estamos na era da Internet. Muitos serviços agora são prestados via online. Há uns que funcionam e outros não. Aqui em Luanda, se eu chamar um táxi através do aplicativo, é rápido. Não demora ele aparece. Mas, já aconteceu, eu procurar, através do aplicativo, um remédio, obter a indicação de que existe em três farmácias e, posto lá, depois de gastar tempo e gasolina, nenhuma delas tinha.
Aliás - disse -, como esse, há outros serviços online que não funcionam. Até mesmo de algumas instituições aparentemente insuspeitas, o que leva a concluir haver fortes indícios de, nalguns casos, o sistema estar corrompido.
E terminava a conversa alertando: "Se a Imprensa não fizer o seu papel, o deixa andar e o rolo compressor da corrupção vão tomar conta de muitos sectores da vida do país. E vai ficar mais difícil endireitar."Seja o primeiro a comentar esta notícia!
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