Sociedade

Abril Jovem: Ajudar os necessitados dá sentido à vida

Rui Ramos

Jornalista

“Vivi na Samba até 2014. Desde muito cedo, comecei a frequentar a igreja católica em companhia da minha mãe e com sete anos de idade pertencia ao Movimento da Infância e Adolescência Missionária e posteriormente à catequese no Centro de Nossa Senhora do Rosário, na Kinanga, onde fiz os sacramentos, dei catequese, canto e participo”, assim se apresenta Nazaré Maria Vidal Kilulo “Naza”nascida na Samba, bairro Mutudi, em Luanda, no dia 8 de Outubro de1992.

29/04/2024  Última atualização 10H30
© Fotografia por: DR

Filha de Alberto Gonga António e de Maria Vidal NGola Kilulo, Nazaré Kilulo recorda: "Mesmo antes disso, vi tanto sofrimento e dor, digo dor, pois a fome dói, a falta de um tecto condigno machuca o frio e achuva.” E acrescenta: "Essa dupla é invasiva demais e até hoje os traumas da casa de barro e madeira ainda assolam a minha mente todas as vezes que cai uma chuva, sinto medo..., contudo, quem me ensinou a ser solidária foi a minha a mãe.”

No meio de imensas dificuldades e necessidades, perdas humanas, ao longo dos anos, Nazaré Maria Vidal Kilulo, esclarece, entendeu e aprendeu com clareza e leveza que "independentemente das nossas lutas e batalhas a solidariedade aprende-se, aperfeiçoa-se e ensina-se”.

"Tive uma infância e adolescência de muita fome e sofrimento, faltava-me de tudo, inclusive um tecto condigno, olhando para o sofrimento e sacrifício feito pela dona Maria, a minha mãe, para não me faltar ao menos o alimento e dinheiro de táxi para ir à escola, eu estudei com o dinheiro da venda ambulante”, prossegue.

"A casa de madeira sem segurança, sem energia, saneamento, era tudo que ela me podia dar, mas nunca faltaram anjos na minha vida, pessoas essas que não sabia eu de onde vinham, mas me deram oportunidade de ingressar na escola onde fiz o primário, o secundário e até a universidade (Universidade de Belas) onde carrego Gestão de Recursos Humanos.”

A partir de 2017, começou a receber histórias de vida e pedidos de ajuda de toda a natureza, "quer fossem gritos de socorro para alimentação, ajuda médica e medicamentosa, por pessoas ligadas ao grupo virtual Prendados da Castro”.

"Fomos acudindo a algumas situações, devolvendo assim a esperança a quem nos solicitava.”

Em 2020, o país e o mundo ficaram cercados pela pandemia da corona vírus e nessa altura ela perde a irmã mais velha de 42 anos de idade. "Vi a minha vida acabando, olhando para tamanha dor que tomou conta da minha família e feriu até, hoje, o coração da minha mãe, que teve de cuidar dos netos tão pequenos, pois essa dor jamais passará”, lembra.

"Mas a vida para muitos ou quase todos ficaram apertada, os pedidos de ajuda foram-se multiplicando de forma assustadora, infelizmente o numero de desempregados cresceu e a fome assolava muitas famílias, daí surgiu a ideia da criação do "Perfildas Oportunidades”, que tem sido a ponte para a busca de oportunidades de empregos.”

E Nazaré Maria Vidal Kilulo realça: "Sem margem de erros, mais de 200 pessoas conseguiram emprego pelo "Perfil das Oportunidades”, viram os seus principais problemas resolvidos, quer seja escolar, saúde, moradia, documentação e tantos outros.”

Muitos perguntam – prossegue - de onde vem tanta vontade para ajudar as pessoas que nem conheço. "A resposta é simples, vem do amor ao próximo, vem do sofrimento, da fome extrema que passei, da vontade de não mais ver pessoas a chorar e a lamentar por não terem solução nem pão, vem daquelas pessoas que eu não conhecia, mas me ajudaram um dia, como o Sr. Manuel que em 2017 salvou a minha vida quando eu padecia de uma pneumonia extrema, sem sequer me conhecer custeou todo o meu tratamento, pessoa essa por quem eu oro para que viva muitos anos e que um dia ele permita que eu o conheça e o abrace.”

"Se as redes sociais têm capacidade para fazer chegar o mais longe e inimagináveis lugares ou pessoas a fim de ver uma situação resolvida, porque não o fazer?”, questiona. "Essa é a minha influência, é o meu propósito ver a satisfação estampada nos rostos de quem cruza o meu mundo virtual e não só, graças à repercussão positiva que cada situação reportada no meu perfil dá, posso garantir que o amor ainda não esfriou, e por mínima que seja a chama é possível propagá-la dando esperança.”

Nazaré Maria Vidal Kilulo diz ter grandes projectos e anseios em busca de oportunidades para continuar com essa corrente solidária em busca de soluções para a vida de muitas famílias que recorrem ao seu perfil, lembrando que todas as vagas de emprego que ajuda a disponibilizar é uma gentileza e parceria de empresas, pessoas singulares com capacidade para empregabilidade que se juntaram a ela, e a quem agradece pela confiança no "Perfil das Oportunidades”

E conclui: "Dou um conselho do padre Reinaldo Domingos Bento, quando o outro estiver a pular, você se arraste porque não sabes até que ponto os ossos dele estão fortes e os seus não, podes-te magoar.”

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