Entrevista

Adérito Areias: “As empresas de pesca estão a viver uma fase muito difícil”

Arão Martins / Benguela

Jornalista

O presidente da Aliança Empresarial de Benguela (AEB), Adérito Areias, valoriza as acções de incentivo aos empresários da província, que o Governo provincial tem vindo a promover na região. Em entrevista ao Jornal de Angola, o empresário, líder na produção de sal e no sector agroindustrial e pescas no país, com uma quota de 80 por cento do mercado e mais de cinco mil trabalhadores, reconhece que Benguela regista actualmente um bom ambiente de negócios, mas lamenta o facto de as empresas de pesca estarem a viver uma fase difícil.

24/06/2023  Última atualização 08H45
Presidente da Aliança Empresarial de Benguela (AEB), Adérito Areias © Fotografia por: Arão Martins | edições novembro
O empresário Adérito Areia é uma figura incontornável quando se fala de Benguela. A minha pergunta é muito simples: Benguela é uma boa província para investir?

Hoje, a realidade da província de Benguela é bastante boa e o ambiente de negócios é muito favorável. Acho que é importante, neste momento, convidar as pessoas do país e não só para virem ver a nossa realidade e investirem nesta província. Benguela tem condições favoráveis, quer no sector da agricultura, quer nas pescas ou na indústria transformadora. Temos alguns aspectos que são importantes. Em quase todos os municípios temos água e luz. Tendo esses elementos, temos as condições para fazer negócios. O ambiente é bom. Portanto, neste momento, Benguela tem as portas abertas para o investimento nacional e estrangeiro.

Que oportunidades existem no sector das pescas?

Nas pescas, neste momento, temos dois aspectos importantes: fazer pesca sustentável, que existe ainda e que estamos à espera que as leis saiam e possamos, efectivamente, ter uma pesca sustentável. Além disso, temos a piscicultura e a maricultura. Temos condições para isso, porque temos rios, lagos e podemos fazer bastante piscicultura e maricultura. Na zona de Benguela temos a baía dos Elefantes, dos Pássaros e da Equimina. São zonas onde podemos fazer maricultura de qualidade. Mas além das condições existentes de maricultura, podemos pensar, igualmente, na pesca continental. As condições são favoráveis.

Sei que também investe forte nas pescas. Quais são os níveis de captura?

Neste momento estamos a viver uma crise muito grande nas pescas. Este ano, praticamente, não tivemos captura. As empresas de pesca estão a viver uma fase muito difícil. Penso que vamos ter, brevemente, falências graves a nível da pesca marítima.

O que defende para alterar este cenário?

Não permitir que os sítios de reprodução do peixe sejam atacados. Tivemos excesso de arrastões e fez-se uma captura não controlada e isto obrigou a que a reprodução das espécies não se fizesse. Temos problemas graves de biomassa. A nossa biomassa foi seriamente atacada. O que nos conforta é saber que o Ministério das Pescas já está a fazer um estudo. Mas penso que a situação está catastrófica a nível da pesca marítima.

Com isso, quais foram os níveis de captura do grupo?

Este ano, se calhar, na pesca marítima, principalmente, na semi-industrial, não pescamos 5 por cento daquilo a que estamos habituados. Isto pode dar origem a graves problemas de desemprego e de falência a nível da pesca marítima. Por isso é que defendo que temos que nos virar um bocado para a pesca continental para não morrermos todos na praia, como se diz na gíria.

Pode quantificar o nível das vossas capturas?

Estamos no meio do ano e devíamos ter pescado, no mínimo, cerca de mil toneladas de peixe, mas de Janeiro a Maio conseguimos pescar apenas 140 toneladas. Isso representa uma situação extremamente grave. Neste momento estamos a financiar as pescas com o sal. Se não tivéssemos o sal já teríamos posto no desemprego cerca de 500 pessoas. Mas temos fé e vamos ver como gerir. Agora vamos entrar na veda do carapau. Espero que seja cumprida e que se proteja essa espécie para que, quando acabar a veda, a nossa situação melhore e no último trimestre do ano possamos realizar alguma coisa.

O que é que deve ser feito em relação à pesca continental?

Repara que temos muitos rios e lagoas. Então, temos que fazer a piscicultura com força. Temos que colocar no mercado espécies boas. Não podemos estar a pensar só na tilápia. Há outras espécies que podemos e temos que fazer porque o nosso povo gosta. Temos que olhar para isso.

Há zonas com condições favoráveis para o fomento deste tipo de pesca?

Temos boas condições nos municípios do Cubal, Balombo, Ganda e outros. Temos que olhar para o interior da província e fazer piscicultura com força. Não podemos nos esquecer que 1 hectare de piscicultura dá 60 toneladas de peixe por ano. Vamos para isso. Se fizermos cinco mil hectares dá-nos 300 mil toneladas de peixe. Além das capturas, a piscicultura cria muitos empregos. Temos que olhar para esses números e virarmos a realidade. Acho que neste momento o foco tem que ser este.

Como é que o grupo está posicionado no sector do sal?

Nas salinas está tudo bem, apesar de termos tido um ano de muita chuva, o que fez com que o nosso índice de produtividade não fosse fácil. No primeiro trimestre deste ano choveu 400 milímetros, o que é muito para uma zona onde estamos habituados a ter à volta de 150 a 200 milímetros o ano inteiro. Mas os níveis de produção do sal estão bons e recomendam-se. Aí estamos bem. É do dinheiro que estamos a tirar do sal que conseguimos manter a pescaria funcional. De contrário, já teríamos parado a pescaria.

Quais são as metas para este ano?

Para 2023, a perspectiva é de chegarmos entre 250 a 300 mil toneladas de sal. Não temos problemas neste domínio.

Qual é o número de trabalhadores?

Nas quatro salinas que temos empregamos cerca de três mil pessoas. Além dos efectivos, temos muitos trabalhadores eventuais. As salinas trabalham com muita gente eventual, principalmente mulheres. Empregamos muitas mulheres no trabalho eventual em diversas tarefas.

Em que localidades estão situadas as salinas?

Estamos, fundamentalmente, no município da Baía Farta.

Qual é o mercado de venda desse sal?

 O nosso mercado é toda Angola e estamos já a exportar, porque o nosso sal é bom. O único problema sério que estamos a ter neste momento é ver o sal que não é nosso a ser colocado em sacos nossos. Isso está a criar-nos alguns problemas porque parte desse sal é roubado e está a aparecer em sacos nossos e sem qualidade. Já tivemos um problema com uma salina numa outra província, e tivemos que pedir a intervenção da Polícia, porque estavam a colocar nos sacos. É um constrangimento que estamos a viver e vamos tentar resolver com a ajuda da Polícia. Neste momento abastecemos Angola inteira e o nosso produto já está a ser exportado para a República Democrática do Congo.

Até que ponto este comportamento pode prejudicar o Grupo Adérito Areias?

Pode prejudicar por causa da qualidade. Nós primamos pela qualidade. Não sai sal nenhum nosso sem ser iodizado, sem ser esterilizado ou ter o mínimo de garantia. De dois em dois meses mandamos fazer análise ao nosso sal. Defendemos a qualidade do sal para melhorar a vida das populações e garantir confiança dos nossos clientes. Quando aparece esse sal que não é nosso dentro dos nossos sacos cria-nos instabilidade com os nossos clientes. São os nossos clientes mesmo que vêm trazer esses sacos a dizer que estão a criar problemas.

Como é que estão os vossos investimentos no sector pecuário?

Este ano foi bom de chuva. Há muito gado que está bonito. O rebanho da província está a aumentar.

Benguela é uma boa terra para se investir no sector agropecuário?

Benguela é uma boa província para se investir na criação de gado. Há bons lugares. Felizmente, actualmente, terminou a ideia de se criar gado com amadorismo. Quando se fala em gado é preciso fazer gado a sério. O gado não pode andar muito, tem que estar quieto e confinado. Felizmente, o amadorismo acabou. Hoje temos que olhar para o profissionalismo e fazer as coisas com sustentabilidade.

Quantas cabeças de gado é que o grupo tem?

Neste momento temos cerca de duas mil cabeças no Caviombo (Chongoroi) e Catumbela. Na Catumbela só temos gado de leite. No Chongoroi temos outras espécies, como Simbra, Bonsmara e Nelore.

Em termos de pastos como estamos?

Não temos muitos problemas com a alimentação porque o gado está confinado. Na Catumbela estamos a plantar e no Chongoroi temos bastante capim e estamos a instalar mais um pivot com capacidade de irrigar mais de 20 hectares, para termos comida para o gado. O gado tem que comer. Um boi come 50 quilogramas de capim e bebe 50 litros de água por dia. Se tivermos água e capim vamos ter bois com mais valor.

Que avaliação faz da Feira do Gado e do Mercadão realizada recentemente em Benguela?

A feira do gado deve ser feita permanentemente. Devia acontecer de três em três meses para habituar as pessoas a comprar gado e podermos, também, diversificar o gado que temos. Mas acho que foi muito bom e correu bem. Contudo, devíamos fazer acontecer esse tipo de certame com regularidade para aproveitar, também, da melhor forma a estrutura que foi criada para o efeito. Também é urgente - e a Cooperativa dos Criadores de Gado e o Governo de Benguela já estão a tratar disso- pensar na construção de um matadouro com o mínimo de condições para que a nossa carne tenha melhor qualidade.

Qual deve ser o local da construção do matadouro?

O matadouro deve ser construído na Catumbela, com capacidade de abater 100 cabeças de gado bovino/dia. Não precisamos fazer muito. Às vezes queremos fazer coisas megalómanas e depois não funcionam. Mas é urgente construir um matadouro com qualidade para que possamos ter carne com qualidade. Hoje abate-se gado em todo lado, quer nos bairros e não só, o que pode criar graves problemas à saúde das pessoas.

É possível contar com o contributo dos empresários de Benguela para que o país deixe de importar carne?

Há um compromisso dos empresários angolanos nesta direcção. Acho que é urgente começarmos a fazer a criação de gado. Há coisas que temos que ser independentes. Há coisas que não precisamos de importar. Não podemos importar cabrito, carne de porco, bovino ou galinha. São coisas que podemos e temos que fazer e está nas mãos dos angolanos resolver isso. Temos que nos virar para isso. Sei que pode surgir a preocupação das rações, mas temos que fazer isso. Temos que fechar o círculo.

Quer dizer que há muita coisa que pode deixar de ser importada?

Não posso aceitar que o nosso país continue a importar essas coisas que me referi. Não. É claro, pode se importar. Quem quiser pagar caro que pague. Mas são situações que temos que resolver urgentemente. Temos que resolver o problema da carne. Temos muito espaço e muita coisa para fazer. É uma questão de ver bem como vamos fazer bem o maneio, como é que vamos fazer com a raça que temos. Há coisas que não podemos mais importar. Temos que olhar, também, rapidamente para a indústria de curtume.

É possível fabricar sapatos em Angola?

Temos que fazer os sapatos e botas militares em Angola. Já temos fábricas. É preciso ter, igualmente, estatística do número de animais que são abatidos no país, onde é que estão as peles, como é que vamos transformar essas peles em couro que sirva para fazer sapatos. São coisas que temos que olhar.

É possível contar com a juventude nesse tipo de negócio?

Neste momento a juventude tem que pensar em lançar-se nesses negócios. Não é preciso começar com um negócio muito grande. Vamos começar pelo pequeno. Ao invés de fazer uma fábrica de 1.000 peles, faz 10 fábricas de 100 peles e já são mais de 10 famílias que vão ver a sua condição social melhorada.  Temos que fazer a economia de mercado rapidamente para fazer a mola deste país avançar. São situações que temos que resolver. Não podemos continuar a pensar que vamos viver toda vida do petróleo e sentados à sombra da bananeira e esperar que o Estado resolva todas as coisas. Nós é que temos que resolver e eu defendo que devemos começar com coisas pequenas.

Existem acções realizadas pelo grupo para o fomento do negócio nas famílias?

Em Benguela, nos últimos dois anos, distribuímos cerca de 250 mil galinhas. As famílias têm galinhas. Há muita gente que tem ovo e galinha. Temos que olhar para isso. Temos que fazer o fomento da suinicultura urgentemente. Não interessa fazer pocilgas monstruosas porque depois pode vir a peste e mata tudo e fica complicado.

É preciso incentivar as famílias a fazerem pequenas culturas de produtos que sirvam para a ração. São essas mesmas famílias que podem fazer a criação de pequenos animais (porcos, cabritos, galinhas e outros). É isso que vai permitir criar riqueza. Temos que ir para o país real e o país real passa por desenvolver a agricultura, a pecuária e a pesca continental. É isso que temos de fazer. São esses aspectos que tenho aconselhado aos jovens. É verdade que os bancos, às vezes, não nos ajudam. Mas vamos fazer com pequenas coisas e nisso há pequenos fundos que o Estado tem e pode dar e podemos começar a criar riqueza para os jovens.

Qual deve ser o papel do Executivo?

O Executivo é um regulador. Não podemos olhar para o Executivo como o papá. Ainda continuamos a ver situações em que queremos casa, luz e outros serviços e vamos ao Executivo. Passamos a vida de mãos estendidas. Não. Nós é que temos que nos virar.

Existem exemplos de jovens de sucesso neste sentido?

Sim. Aqui mesmo em Benguela há jovens que se viraram e devo tirar o chapéu. Devo referir o caso do Samy, que trocava dólares na rua. Actualmente tem uma pastelaria e já está a entrar na indústria salineira com força. Temos outros jovens que são empreendedores, como é o caso do actual presidente do Nacional de Benguela. Conheci aquele jovem a vender gás e hoje é um empresário de sucesso. O outro exemplo positivo é do jovem Zeka Sequila, do Lubango, província da Huíla, que começou do nada com a enxada e hoje tem, praticamente, um império na mão. Há jovens que devemos tirar o chapéu. São esses exemplos que temos de fomentar e promover. Temos que continuar a mostrar aos nossos jovens que é preciso foco e vontade de lutar.

Decorreu de 24 a 27 de Maio último a Feira Internacional de Benguela (FIB). Com que impressão ficou?

O lema foi o "Corredor do Lobito”. Para mim, há dois aspectos importantes a ter em conta no Corredor do Lobito. O primeiro é o da importação de mercadorias, criando riqueza para o Porto. Ainda assim, um dos aspectos importantes é a dinamização do comércio por onde a linha passa. Temos que olhar e ver a história que se repete. No passado, havia o chamado comboio-mala, que parava em todos apeadeiros e estações e trazia os produtos da produção do interior para as cidades e vice-versa.

Sugere que esse formato seja retomado?

Sim. Se o comboio funcionar, efectivamente, vamos conseguir dinamizar a circulação mercantil dos produtos do Bié, Voga, Nhareia, da Chicuma, Ganda, Caimbambo e outros, que vão ser vendidos nos principais centros de consumo e criar renda. Se o comboio cumprir com essa missão histórica vai ser positivo para o país. Vai criar desenvolvimento e riqueza. Toda essa gente que produz tem de vender as suas mercadorias. No passado havia o grémio do milho, da cera e exportávamos essa produção toda.

Quais são as vantagens do Corredor do Lobito para a vosso grupo?

O comboio pode criar esta mais-valia para o interior do país, independentemente de ser uma via importante. O nosso sal vai chegar ao Congo a preços mais acessíveis. Vamos ganhar a concorrência. O sal é uma commodity. O nosso preço vai ficar muito melhor em relação aos da Namíbia e do Egipto, que são os nossos concorrentes porque o sal vai chegar ao Congo, via comboio, além do peixe.

E o que tem a dizer em relação à feira em si?

Temos que pensar na Feira Internacional de Benguela como um sítio de negócio.

Quando vamos para a FIB vamos para vender e mostrar aquilo que produzimos. Temos que começar, cada vez mais, a fazer das feiras centrais de negócios. Independentemente de mostrarmos, é neste local onde podemos vender e mostrar coisas.

O que de positivo colheu da FIB-2023?

Na última feira, eu estava com problemas de vasilhames para o leite e consegui encontrar vários produtores que têm vasilhames e neste momento já estamos a negociar como é que vamos criar vasilhas para comprar leite. Já estamos neste negócio. Vimos mais embalagens para o sal, discutimos com os seguros, apesar de termos todos os seguros. Hoje há concorrência nos seguros. A feira é sempre boa para criar oportunidades de negócios. Não podemos olhar para a Feira como instrumento de mostrar, mas como um instrumento de negócio. O que eu levo para vender. É essa mentalidade que devemos ter.

O governador de Benguela gaba-se de ter muito apoio da classe empresarial local, onde o senhor é o "coração”. Qual é o apoio que tem sido prestado ao governador Luís Nunes?

Por isso é que digo que temos um bom ambiente de negócios. O governador Luís Nunes é daquelas figuras que tudo aquilo que vamos lá pôr como preocupação e pode resolver assim o faz. Temos um óptimo relacionamento com o governador de Benguela. Tudo aquilo que nós, a nível da Associação, vamos pôr como preocupação atende-nos e o que ele precisa de nós, atendemos.  Por isso, temos um óptimo ambiente de negócios em que o governador nos ajuda naquilo que precisamos. Ele conhece bem o ramo, sabe o que é ser empresário e também está nessa luta de nos ajudar. Benguela está a crescer. Podemos falar muita coisa, mas, Benguela, de facto, tem muitas coisas novas e nós temos que tirar o chapéu ao Governo Provincial de Benguela, neste momento.

Quando diz que Benguela tem muitas coisas novas e deve tirar o chapéu ao governo provincial, a que se refere?

Nesta altura ninguém tem moral de falar mal do Governo Provincial de Benguela ou do  governador Luís Nunes. A nível da cidade de Benguela, temos toda a via da Max reparada. Para quem tem o Museu Nacional de Arqueologia e a Praia Morena requalificados, que são tidos como espelho da província, é motivo de alegria. Há uma série de coisas que foram e continuam a ser feitas e, isso para mim é cinco estrelas. Estamos a construir pólos desportivos nos bairros de maneira a ocupar o tempo livre da juventude.

As acções cingem-se apenas à cidade de Benguela?

Não. Se formos às capitais dos restantes nove municípios da província, vamos ver todas as capitais asfaltadas e com água e energia eléctrica. É claro que ainda não está a 100% mas tem muita coisa feita e com muita água e luz. O aspecto que o governador pode fazer, como escolas e hospitais, está a fazer.

O que é que falta?

Claro que faltam médicos, mas é com muito gosto que ficamos a saber que a província de Benguela recebeu, há dias, mais médicos e enfermeiros que estão a reforçar diversas unidades hospitalares. Actualmente o indivíduo olha para a província e verifica que está calma. Se calhar queríamos mais, porém, também temos que colaborar e nos virar também. A nível do governador a obra está aí. Só não vê quem não quer. Quem chegar a Benguela e dar a volta pela província vê muita coisa nova. A cidade hoje está mais limpa, tem mais luz. É claro que há apagões. Mas isso acontece em todo lado. Quer dizer que não podemos estar a ver só a parte negativa. Temos que ver, também, a parte positiva.

O que tem a dizer sobre as obras emergenciais em curso?

O governador não me compra nem sal. Portanto, não estou aqui a lavar a imagem dele. Mas eu, como cidadão de Benguela, ao dar a volta pela cidade das Acácias Rubras e pelo Lobito, já é motivo de muito orgulho. Ver aquela subida da entrada do Lobito, hoje está boa. Tenho que tirar o chapéu ao homem porque fez e está a fazer isso muitas vezes sem dinheiro. É aí onde há um esquema mais complicado. Ele está a dever às empresas e a quem fez os trabalhos, mas consegue mobilizar as pessoas para continuarmos a fazer tudo isso. Portanto, temos que reconhecer que a província de Benguela está boa. Não podemos criticar absolutamente nada negativamente. Temos que dizer que sim, vamos continuar a apoiar o governador naquilo que ele está a fazer.

Quais são as suas ambições?

Permita aproveitar o momento para dizer que nunca tive e não quero ter sonho de ser governador. Eu sempre gostei da minha independência. É bom eu poder estar bem-disposto e andar. Porque, repare, o actual governador de Benguela teve que abdicar da vida dele que era boa, bonita e igual a minha, de lado. Podíamos fazer o que queríamos. Ele já não pode. Hoje está completamente apertado. Para se deslocar tem que ter segurança. Não pode fazer o que quer porque os fotógrafos estão presentes. Nunca foi e nunca vai ser o meu sonho, porque até com a minha idade tenho que desfrutar a minha vida no bem bom. A minha ambição sempre foi e é o que gosto de fazer, ser industrial. Gosto de ser industrial e vou continuar a estar neste ramo para o bem da província e do país.

Para si, há ainda muita coisa por fazer em Benguela?

Reconheço que há muito a fazer. É preciso dinheiro. Há dias estava numa reunião e havia pessoas a falarem por causa da electrificação de alguns bairros. Perguntei em off quanto custa um Posto de Transformação. Não é fácil. Estamos a ter um crescimento demográfico muito grande. Há meia dúzia de anos éramos 15 milhões e hoje já somos 30 milhões. Estamos a crescer muito e acompanhar o crescimento da população e o desenvolvimento das necessidades não é fácil. Não é fácil conseguir pôr luz e água em todo lado porque não dá para esticar o dedo. Aqui não há feiticeiros que façam isso. Todos temos que olhar e dizer que vamos ter calma, vamos ajudar o governo, vamos pressionar um bocado, mas, sabendo que aqui não há feiticeiros. Isto demora o seu tempo e há outros aspectos que custam muito dinheiro.

Quais?

Custa colocar água potável junto da população. Nós crescemos em Benguela. Estava a ouvir, por exemplo, o governador a falar que temos que passar de 0,7 metros cúbicos por segundo para 1,5 metros cúbicos por segundo de água. Adquirir e colocar essas bombas custa muito dinheiro. Se olharmos para isso -é claro que tem de ser feito-, mas é uma fortuna imensa que tem de ser investida e às vezes não há dinheiro para tudo isso.
Não estou a defender ninguém. Só estou a olhar para a realidade que não é fácil.

A indústria tem recebido a electricidade que precisa?

Neste momento não podemos nos queixar. Os principais polos de electricidade, como é o caso da Baía Farta, tem tudo que queremos. Colocou-se nesta zona 60 megawatts. Se gastamos 10 megawatts temos um excedente enorme. Benguela tem excedente. O Polo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela – Benguela tem excedente e o mesmo acontece com o Lobito. A nível de electricidade estamos bem nos municípios do litoral da província. A nível do interior está menos, mas há geradores que estão a descarregar.
Fazer uma linha custa muito dinheiro. Nós, por exemplo, temos grande produção em Laúca e noutros projectos de hidroeléctrica.  Esticar essas linhas até aqui vai demorar o seu tempo. É claro que queremos ter já luz na Ganda, Cubal, mas não é fácil.

Está satisfeito com a electrificação feita na famosa cidade do Sal, no município da Baía Farta?

O ganho é motivo de muita alegria. O Estado colocou luz nas salinas, mas agora temos que montar os Postos de Transformação (PT) e buscar redes, o que custa muito dinheiro. Os PTs e cabos custam caro, mas deve ser o empresário a fazê-lo. Não pode ser o Estado a fazer tudo. Tudo isto não é fácil, mas tem que ser feito. Temos que lutar, temos que ter fé. Vamos trabalhar e contribuir para o crescimento do país. Se fizermos um balanço e formos fazer uma análise de todas as obras que foram feitas no último ano, na província de Benguela, ficamos com a convicção de que as acções contribuíram na melhoria, quer do empresariado, quer do sector público, assim como da população, fundamentalmente. Temos muito boas relações com o Governo Provincial de Benguela. Estamos bastante alinhados. Temos reuniões frequentes e, quer da parte do Governo, quer da parte do empresariado, a ligação é extremamente forte e muito salutar, o que cria progresso para a nossa província.

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