Elevada à categoria de cidade, no dia 28 de Maio de 1956, Cabinda conta com uma população estimada em 700 mil habitantes, segundo as projecções de 2018 do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em Entrevista ao Jornal de Angola, o administrador municipal, Guilherme Pereira, descreve o quadro sócio-económico e fala dos principais projectos em curso, do combate à imigração ilegal e à venda desordenada
Doutorado em Geografia Humana aplicada ao Turismo pela Universidade de Coimbra, Afonso Vita é um académico que dedica particular importância à identidade cultural e ao manancial histórico do país. Há dias, apresentou em Luanda uma “Rota Turística e Cultural de Escravos em Angola”, projecto que pretende atrair para o país, afroamericanos descendentes de Angola. Nesta entrevista, entre outras coisas, fala do projecto.
Apresentou há dias, em Luanda, um projecto designado "Rota Turística e Cultural de Escravos em Angola”, que visa, fundamentalmente, promover o turismo cultural, tendo como principal grupo alvo os afro-americanos. Como é que se operacionaliza isso?
Um projecto, como este, só pode ser operacionalizado com o suporte dos operadores turísticos, nacionais e estrangeiros, que actuam no mercado. Mas também com uma estratégia funcional de actracção e captação de turistas e visitantes.
Conhece
exemplos, em África, bem-sucedidos neste tipo de iniciativas?
Sim. Gana, Senegal, Benim e Tanzânia, são exemplos de sucesso nesse nicho de mercado. Estes países conseguiram estruturar esse segmento do turismo, com o que conseguem atrair muitos afrodescendentes.
Pelo
vasto conhecimento que tem em matéria de hotelaria e turismo, que aspectos
precisam de ser melhorados para fazer de Angola um destino turístico
apetecível, sobretudo na vertente do turismo cultural?
Em matéria de hotelaria, o país está minimamente preparado, pelo menos em termos de alojamento e restauração. Tem uma capacidade de oferta considerável, sobretudo, nas grandes cidades como Luanda, Benguela, Lubango, Sumbe e Malanje. Temos de reconhecer, no entanto, que as áreas que integram o projecto carecem ainda de investimentos, para agregar valor aos recursos turísticos e históricos existentes.
Que
exemplos em África recomendaria Angola a seguir?
Em termos de reconstituição da geografia das rotas de escravos ou, se quisermos, da valorização, preservação e divulgação da história da parte do comércio triangular que nos toca, recomendaria seguir-se o exemplo do Benim, Gana e Senegal, as grandes referências em África, mas também o Brasil, que conseguiu recriar mais de 115 rotas ligadas a escravatura com o apoio da UNESCO.
Se
quisermos nos cingir a África?
O Gana tem feito muitos investimentos nos últimos tempos, para captação da sua diáspora com uma estratégia forte, que inclui além da realização de "Fam Trips” e atribuição de nacionalidade aos seus descendentes.
No
global, como avalia o mercado hoteleiro do país?
O nosso mercado hoteleiro está em franco desenvolvimento e tem vindo a dar mostras de recuperação dos impactos negativos da pandemia da Covid - 19, que afetaram, de maneira particular, o sector à escala global. Apesar da taxa de ocupação dos empreendimentos hoteleiros se situar ainda abaixo dos 50 por cento.
Qual
é o número de camas disponível para turistas no país?
O
parque hoteleiro angolano dispõe de 27.947 quartos, que perfazem 35.404 camas,
excluindo o alojamento (pensões e hospedarias).
Uma das razões que elenca para fundamentar o projecto é o facto de o território que hoje é Angola ter sido um dos que mais escravos forneceu às Américas, cerca de 40 por cento, segundo estimativas, o que deixou fortes vestígios, que vão desde os lugares de captura aos de embarque, passando pelos sítios de concentração de escravos. Qual é o estado de conservação das vias de acesso a estas localidades?
Os vestígios ligados à história do tráfico negreiro, pelo menos os que integram a rota turística de escravos, estão quase em estado de abandono. Um dos principais objetivos deste projecto é preservar e valorizar os vestígios existentes e reconstruir ou recrear os desaparecidos ou em vias de desaparecimento. É, também, uma forma de mostrarmos ao mundo que valorizamos a nossa história e a nossa Identidade Cultural.
Na sua pesquisa identifica, salvo erro, 18 pontos com interesse histórico espalhados pelo país, entre lugares de concentração e de embarque de escravos, mas o roteiro que propõem resume-se ao Soyo, Ambriz, Luanda e Massangano. Que critérios ditaram a escolha?
Na verdade, identificamos nove localidades no país com vestígios do tráfico negreiro transatlântico, nas províncias de Benguela, Bengo, Cabinda, Cuanza-Norte, Cuanza- Sul, Malanje, Namibe, Zaire e Luanda. No entanto, tratando-se de um projecto que se pretende operacionalizar a curto prazo, achamos por bem resumir o roteiro a quatro localidades, que podem ser visitadas em oito dias. A intenção é, como já disse, colocar os vestígios da escravatura ao serviço do turismo.
O projecto prevê a realização de um festival bianual designado "The Yalankuwu
Festival”, que vai juntar afrodescendentes e angolanos, no que se pode chamar um "reencontro” entre irmãos nascidos de um e de outro lado do Oceano. Para quando a primeira edição?
O "The Yalankuwu Festival” pretende ser um evento bianual de encontro e reencontro da Africanidade em Angola. A intenção é trazer ao país irmãos de várias geografias separados por razões históricas para, juntos, analisarmos o nosso passado comum, apontar caminhos e definir estratégias para prevenir a repetição da escravatura ou fenómenos si-
milares. Mas também pretende ser uma ponte entre Angola e a diáspora africana e uma oportunidade de terapia, para permitir que, tanto os promotores do tráfico de negreiro como as vítimas, possam conviver no mesmo espaço, reconhecendo os erros do passado e assumindo o compromisso de nunca reeditar a escravatura.
Para
quando a primeira edição?
A primeira edição acontece já no próximo ano. Se tudo correr bem, em Agosto.
No
essencial, em que consistirá o festival?
Na primeira edição, o festival vai incluir, entre outros momentos, uma mesa redonda sobre o comércio triangular e suas consequências; apresentação de oportunidades de negócios e parcerias, visita guiada ao Centro Histórico de Mbanza Kongo - Património da Humanidade, uma cerimônia de rituais e bênçãos, feira de artesanato e artes e concurso de gastronomia e dança entre as representantes das quatro localidades que configuram a rota turística.
Qual
é o número de turistas esperado na primeira edição?
Atendendo à capacidade instalada em termos de alojamento e os esforços em curso do órgão de tutela para melhorar a situação, prevê-se um universo de 500 turistas, número que, com certeza, vai subir gradualmente de edição para edição.
A história da família Tucker começa com a descoberta que os próprios fizeram, a partir dos Estados Unidos da América, de que são originários de Angola. Primeiro veio um membro da família visitar o país e, depois, em 2021, aquando da visita do Presidente João Lourenço aos Estados Unidos, onde foram recebidos pelo Chefe Estado angolano, Este convidou a família para uma visita colectiva. Depois vieram três membros da família e, na última deslocação, o número subiu para 19, incluindo amigos, que visitaram as províncias de Malanje, Cuanza-Norte e Luanda. Para este ano, as previsões apontam a vinda de dois grupos, um com cerca de 60 pessoas e o outro com mais de 40.
De
que forma os operadores hoteleiros e turísticos, no país, podem contribuir para
uma melhor operacionalização do projecto?
O país tem profissionais à altura, para todo o tipo de serviços hoteleiros e turísticos, podendo haver uma ou outra dificuldade, porque, para esse segmento de turistas, há necessidade de se prestar uma atenção especial.
Os
trabalhos de investigação que conduziram à sua tese de doutoramento:
"Desenvolvimento do Turismo Cultural e de Memória em Angola – Rota de
Escravos” levou, nove anos, corrija-me se estiver errado. A que se deveu tanto
tempo?
Certo, o doutoramento levou nove anos, porque tinha que conciliar o trabalho, com a formação académica. Nos primeiros anos, eu a leccionar na Universidade Privada de Angola ( UPRA). Tive de suspender a docência para prestar maior atenção à formação. Em 2019 surgiu a pandemia da Covid-19 e o cenário complicou- se mais ainda, com o encerramento das fronteiras nacionais e internacionais.
Na
sua tese de doutoramento dedica particular atenção à identidade cultural e ao
manancial histórico e cultural do país. Sente que há pouca divulgação destes
aspectos?
A divulgação do património histórico ligado à escravatura constitui uma missão determinante na valorização dos nossos valores históricos e culturais. É uma tarefa que devia engajar todas as forças vivas da Nação. A media tem responsabilidades acrescidas.
Entre
as principais figuras angolanas que se bateram contra a escravatura longe da
terra, e que cita na sua tese de doutoramento, destaca as que se notabilizaram
no Brasil, mas não faz alusão a nenhuma que se tenha destacado na América do
Norte. Como se explica isso?
É verdade que entre as figuras históricas angolanas na diáspora destaca-se mais as que foram parar ao Brasil. Tal se deve mais à facilidade de acesso à informação do que a outros factores. Mas na minha tese de doutoramento são mencionadas figuras que desempenharam um papel preponderante nos Estados Unidos da América, como Ângela, a primeira mulher negra que chegou àquele país. Quando se assinala a chegada dos primeiros africanos naquela antiga colônia inglesa (há 403 anos), a história gravita à volta dela. Convém lembrar que o primeiro grupo de escravos que chegou aos EUA saiu de Angola.
Quer
citar outras referências?
Podíamos falar do Jemmy, que liderou a rebelião Stono de 1739, na Carolina do Sul, a mais sangrenta e violenta revolta de escravos na história dos Estados Unidos da América. Durante um final de semana, com os patrões a descansarem, os escravos levantaram-se contra os seus patrões, cortando-lhe as cabeças, como forma de reivindicar justiça e liberdade. Segundo relatos, Jemmy tinha domínio das armas e experiência que adquiriu no Reino do Kongo, onde foi seguidor da profetiza Kimpa Vita. Foi capturado e vendido como escravo, depois da morte do líder do movimento Antoniano.
Para
quando a publicação em livro da sua tese de doutoramento?
A publicação do livro da tese está prevista ainda para este ano. Provavelmente, entre Agosto e Setembro.
Quando
começa, exactamente, o tráfico negreiro?
O tráfico negreiro, também conhecido por comércio triangular, é um processo que teve início por volta de 1444 e que se foi consolidando gradualmente. Portugal foi pioneiro neste negócio e Senegal foi o primeiro território a sentir a amargura daquilo que se viria transformar em tragédia para os homens, mulheres e crianças africanas, transformados em mercadoria durante cerca de cinco séculos. Portugal não só criou, como monopolizou o comércio triangular durante 100 anos. Alguns investigadores falam em 150 anos. Inglaterra, França, Espanha e outros protagonistas entraram no negócio depois. A Bula Pontifícia emitida pelo papa Nicolau V, para o rei Afonso V de Portugal, a 18 de Junho de 1452, que ordenava a redução dos africanos infiéis, na visão do líder católico, à servidão, acelerou o processo.
E
Portugal, como pioneiro no negócio, não ficou com uma parte de escravos?
A população de Lisboa quinhentista chegou a ter cerca de 10 por cento de negros, que eram usados como mão-de-obra barata, até, 1763, data da abolição da escravatura. Essa população diluiu-se completamente.
O tráfico negreiro é considerado como o pior crime na história contra seres humanos. Marcou negativamente a África. Mas, o mais importante, hoje, não é encontrar culpados, mas sim reconhecer que foi um erro e que o mundo deve reconciliar-se com a sua história.
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