Cultura

Agentes culturais e colegas lamentam a morte de José Ndalo

Analtino Santos

Jornalista

“O jornalismo cultural perde um combatente de elevadas qualidades profissionais”, afirmou Walter Arsénio, chefe de redacção da Rádio Cultura. “Ele para mim era um irmão, um amigo, companheiro e conselheiro.

07/07/2024  Última atualização 12H49
© Fotografia por: Vigas da Purificação | Edições Novembro

Tenho dele memórias que viverão eternamente. José Ndalinho dos Santos Ribeiro, Ndalo, como era tratado, entrou de forma muito simples na minha vida e hoje ocupa um grande espaço nela”, disse Walter Arsénio com a voz embargada pela dor.

"Além de director da Rádio Cultura Angola, função a que se dedicava de corpo e alma, tinha sempre tempo para passar a experiência, tendo contribuído para a elevação das minhas qualidades profissionais. Trabalhamos juntos no Canal A, onde nos tornamos amigos, partilhamos conversas, projectos e as amarguras da vida. Perdi o meu director, o meu amigo”, voltou a lamentar Walter Arsénio. 

Gaspar Micolo, director do Jornal Cultura e coordenador da editoria de Cultura do Jornal de Angola, ao reagir à triste notícia lembrou que José Ndalo foi muito importante no estabelecimento de uma colaboração entre os dois órgãos de comunicação social.

"Quando assumimos o Jornal Cultura, ele tomou logo a iniciativa de viabilizar uma parceria que, entre outras questões, passava pela leitura dos principais destaques do jornal na emissão matinal da Rádio Cultura Angola”, disse reconhecido.

Gaspar Micolo recordou que além do lado profissional, mantinha com José Ndalo uma relação de amizade e camaradagem sincera. Disse que reconhecia em Ndalo um homem íntegro, de diálogo aberto e muito afável, que muita falta começa já a fazer no seio da classe jornalística.

Ernesto Gouveia, amigo e colega, disse que só compreende a dimensão humana de Ndalinho quem com ele conviveu. "Falo de um homem que conheço muito antes de ser o profissional em que se tornou. É gratificante ver isso, pelas reacções profundamente sentidas pelo seu passamento físico. Convivi com ele quase 30 anos, com uma amizade sincera e em vários cenários, incluindo os de índole familiar”, detalhou o amigo. "Qualquer palavra dos amigos, nessa altura, não traz de volta este grande homem que acabamos de perder. Só Deus tem esse poder. Mais palavras não seriam suficientes para descrever o que ele representou como pessoa. Resumia-se também num grande profissional, de reconhecida craveira e com rigor na forma de trabalhar. Era amigo dos seus amigos, para os quais sempre estava disponível. Era um pai dedicado e zeloso chefe de família, mas sempre pronto a ajudar os amigos a resolverem problemas.   Não é por acaso que esteve à frente da Rádio Cultura Angola como director, tendo antes passado pela Rádio Viana, nas mesmas funções.  Revestido de muita sensibilidade e com um apurado ouvido crítico no que à música diz respeito, há muito que pode ser descrito acerca de José Ndalo, mas a melhor forma de homenageá-lo é honrar a sua memória”, disse profundamente sentido Ernesto Gouveia.

O promotor cultural Ilídio Brás reagiu da seguinte forma à morte de José Ndalo: "Ndalo era nosso companheiro de trabalho e de luta pela valorização e divulgação da nossa bela cultura”.

Rosário Matias, presidente da União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP), deu o seguinte testemunho a respeito de José Ndalo: "Partiu para a casa do Pai (…) um profissional da comunicação social de elevado nível. Ao longo do seu percurso profissional, subitamente interrompido, marcou com constância e disponibilidade, abnegação no aprendizado e partilha de conhecimentos, criatividade e espírito de liderança. (…) Foi sem sombra de dúvidas um jornalista versátil com relevante destaque na vertente cultural. Provas disso podemos constatar nos esforços por ele envidados em projectos que propiciam uma maior divulgação da cena cultural angolana, com programas radiofónicos autónomos, assegurados pelas associações das distintas disciplinas artísticas, onde a UNAP apareceu a produzir o programa PLAS-VISUAL, que passou a ir ao ar todas as quartas-feiras das 20 às 21 horas. (…) Nós, profissionais das artes, só temos que nos vergar perante a alma do nosso Ndalinho, confortarmos a família enlutada que sofre e chora pela dor da perda do seu ente querido. Como consolo, ficam os seus feitos, as marcas da convivência e os momentos dignos de registo que indelevelmente marcaram o seu percurso de vida”.

Eliseu Major, secretário-geral da União Nacional dos Artistas e Compositores - Sociedade de Autores (UNAC-SA) realçou o empenho de José Ndalo nas causas culturais e evocou o amigo de trato fácil. "Fica agora a saudade das várias conversas e da visão que tinha para a Rádio Cultura. Sei que muitas vezes foi incompreendido por causa do rigor, mas confesso que o que ele mais queria era fazer uma rádio que atendesse aos desígnios e as perspectivas da classe artística", rematou Eliseu Major.

"Triste dia para quem valoriza a amizade pura e genuína. Um homem que não tinha maldade e que cultivou a justeza das suas acções. Gostava dos seus. Era escravo da amizade com os seus! Perdi um irmão que gostava de dizer garbosamente que tinha o curso superior, tirado em Portugal, por minha obra e graça. A indústria de bebidas que ele apoiou, também vai sentir a sua ‘viagem’. E mais não digo. (…)  A última vez que trabalhamos juntos foi por ocasião do Top do Centenário, há dois anos. Foi incansável (…). E no fim, o ABRAÇO. E foi também a última vez que nos vimos”. Assim se expressou o jornalista Amílcar Xavier. 

Como director da Rádio Cultura Angola, José Ndalo participou na comissão organizadora das últimas três edições do Top dos Mais Queridos e estava a apostar na gravação de espectáculos musicais, porque queria recuperar a mística da RNA no domínio cultural. A cobertura dos festivais Ngeya, Balumuka, Festi-Sumbe e Festival das Bandas são alguns exemplos deste compromisso.

José Ndalinho dos Santos Ribeiro nasceu na província do Cuanza-Sul, no município de Porto Amboim, aos 11 de Julho de 1976. Desempenhou, até à sua partida prematura, a função de director da Rádio Cultura Angola, de que foi fundador.    

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