Sociedade

Água deixou de ser um problema para as famílias da vila de Massabi

Pedro Vicente | Cabinda

Jornalista

Fornecimento de água potável, escolas, iluminação pública e estradas reabilitadas são os resultados dos investimentos inseridos no Plano de Intervenção no Municípios (PIIM) no município de Cacongo, em Cabinda.

22/06/2024  Última atualização 14H30
Munícipes acarretam a água no chafariz enquanto no passado o líquido consumido era retirado das cacimbas onde se perdia muito tempo para se encher um bidão © Fotografia por: fotos: josé soares | edições novembro

Com cerca de 30 mil habitantes, distribuídos nas 64 aldeias, os munícipes da circunscrição, que dista a 45 quilómetros da cidade de  Cabinda, falaram do impacto dos projectos no seu dia-a-dia.

Muitos residentes de Cacongo, quando viram o lançamento da primeira pedra para a construção das referidas infra-estruturas, não acreditaram no resultado final e na sua funcionalidade.

Alguns jovens contactados pelo Jornal de Angola pensavam que fosse mais um daqueles projectos que começam e "nunca terminam”, como se constata em muitos pontos do país.

Hoje, o discurso é completamente diferente. As escolas, a Estação de Tratamento de Água, as estradas asfaltadas e a rede de iluminação pública, no município de Cacongo, mudaram a vida de muita gente.

Um facto curioso é que a maior parte das pessoas entrevistadas não estão interessadas em saber se os referidos projectos estão inseridos no PIIM ou noutro programa de investimento.

Para os munícipes de Cacongo, o mais importante são os resultados de como os investimentos se manifestam na vida da população.

"Não sei se são obras do PIIM ou de onde, senhor jornalista. Para nós, o mais importante é ver os nossos filhos a estudar e ter água e luz em casa”, disse Rosa Natália.

Moradora do bairro 1º de Maio, rua "Macaia Tati”, na Vila de Lândana, Rosa Natália está animada, porque o PIIM ampliou, de 12 para 24 salas de aula, na sua zona, o Complexo Escolar do ensino primário Eng. Spiel Tendele Maurício Filipe. O estabelecimento tem uma área administrativa, sala de informática, biblioteca e um pavilhão gimnodesportivo.

Antigamente, disse, o filho, de 11 anos, tinha que andar longas distâncias para ir à escola, mas, hoje, o quadro mudou. "O menino sai de casa e, em menos de 10 minutos, está na sala de aula”, referiu.

O referido complexo escolar, segundo apurou o Jornal de Angola, tem matriculados para este ano lectivo, 2.400 alunos, distribuídos nos turnos da manhã, tarde e noite. As obras custaram 265 milhões de kwanzas.    

Água nas toneiras

A distribuição de água potável também registou  melhorias, com a construção do Centro de Tratamento de Água (ETA) da comuna de Massabi, a 35 quilómetros da vila de Lândana.

Rosa Natália, de 59 anos de idade, contou ainda que, antes, a água que se consumia no bairro era retirada da cacimba (posso), e não era fácil conseguir encher um recipiente de 20 litros.

"Para conseguir encher um bidon, não era fácil, meu filho. A pessoa tinha que esperar muito tempo”, lembrou.

A Estação de Tratamento de Água de Massabi permite a distribuição de água a mais de 90 residências na sede comunal. Com isso, o líquido precioso deixou de ser um problema para as famílias da localidade e do município de Cacongo.

A Estação de Tratamento de Água do Massabi custou 360.846.000 kwanzas.

Iluminação pública

Sílvia Mavungo, de 24 anos de idade, filha de Rosa Natália, a residir no bairro 1º de Maio, falou das mudanças que a iluminação pública trouxe à zona.

As crianças que estudam no período noturno, contou, já conseguem atravessar a rua com menos perigo de atropelamento, quando antes era um risco, devido à escuridão.

A rede de iluminação pública na sede do município facilitou a mobilidade dos automobilistas e deu uma imagem mais atractiva à zona urbana e arredores.

O projecto custou mais de 174 milhões de kwanzas.

Apesar da satisfação com o impacto dos projectos do PIIM, Sílvia Mavungo questionou a implantação de uma universidade no município de Cacongo.

A entrevistada apelou à Administração do Município que olhe, também, pelos espaços de lazer para as crianças e a juventude. "Não temos espaço de lazer aqui no município de Cacongo”, lamentou.

Energia eléctrica nas aldeias

Nessa incursão pelo município de Cacongo, deparamo-nos com o cidadão Prensi Zau, que destacou as mudanças nas aldeias do Loango-Pequeno, Sango, Tungo e Manenga, onde a energia eléctrica chegou pela primeira vez, por intermédio dos trabalhos inseridos no PIIM.

Professor do ensino primário, na vila de Lândana, Prensi Zau disse que se desloca com frequência para as referidas aldeias e diz ser uma alegria vê-las iluminadas, tanto nos domicílios como na via pública.

O professor sugeriu, contudo, que, além da iluminação pública, fosse instalada também uma rede de fornecimento de água potável nas aldeias, para que os aldeões deixem de percorrer longas distâncias para obter o precioso líquido.

Pedido de instalação de universidade

Parece que se tornou habitual para os jovens de Cacongo, ao serem abordados por um órgão de comunicação social, independentemente do tema da reportagem, apelarem sempre para a necessidade de se instalar uma universidade na localidade.

A falta de uma instituição de ensino superior no município de Cacongo tem forçado os jovens a deixarem a zona para se deslocarem à cidade de Cabinda ou para outros pontos do país, em busca de formação.

Esta preocupação foi levantada, mais uma vez, pelo cidadão Manuel Massanga, de 35 anos de idade, que interrompeu os estudos, como contou, por falta de uma universidade no município.

Manuel Massanga, que trabalha por conta própria, apontou a falta de uma instituição de ensino superior como um dos factores para a fuga dos jovens.

 "Os jovens querem continuar os estudos e não podem, porque não temos universidade. A solução é ir viver noutro lugar e muitos já não regressam. Logo, o município acaba por ficar como se fosse um deserto e dificilmente vai se desenvolver”, lamentou.

Por outro lado, acrescentou, a nível do ensino médio, no município de Cacongo estuda-se apenas o Pré-universitário (PUNIV), considerado, para o contexto da localidade, uma formação pouco consistente no que se refere ao mercado do emprego. "Este é outro motivo que leva muitos jovens a fugirem do município de Cacongo”, argumentou.

Para Manuel Massanga, seria importante que o PIIM incluísse a construção de um Instituto Médio Politécnico no município, permitindo aos jovens mais opções relativamente às áreas de formação.

Núcleo da Universidade 11 de Novembro

Quanto à questão apresentada pelos jovens relativamente ao ensino superior, o administrador municipal de Cacongo, Armando do Carmo, considerou legítima a preocupação dos munícipes, adiantando que a situação poderá estar resolvida dentro em breve.

Segundo Armando do Carmo, a administração municipal está a negociar com a Universidade 11 de Novembro, no sentido de se criar um núcleo de estudantes em Cacongo.

A negociação, disse, está a um ritmo bastante avançado e, dentro de pouco tempo, serão criadas as condições das salas para os estudantes.

Construção de 300 casas

Para além dos projectos referidos, está em curso, no município de Cacongo, no âmbito do PIIM, a construção de 300 casas sociais para os munícipes, o apetrechamento da escola PUNIV, de 12 salas de aula, incluindo a instalação de um laboratório para especialidades de Química, Física e Biologia.

O apetrechamento dessa instituição, segundo apurou o Jornal de Angola, custou 190.644.699 kwanzas.  

O director do Gabinete de Estudos, Planeamento e Estatística (GEPE) da Administração municipal de Cacongo, João André da Silva, avançou que, no âmbito do PIIM 1, a localidade está bem servida em termos de postos da saúde. Informou ainda que as 64 aldeias do município têm escolas e postos de  saúde.

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