Félix João Fula, seu nome de registo civil, é filho de Francisco Fula e de Eva Capemba. Nasceu no dia 26 de Setembro de 1966 no bairro Kipungo, comuna de Quibaxe, município dos Dembos. Ele é Sua Alteza Príncipe dos Dembos e abriu as portas do Lumbo (“sala de visita”) para o Jornal de Angola.
Alejandro Guillermo Verdier regressa, hoje, a Buenos Aires, depois de ter estado durante três anos em Angola, como embaixador da Argentina. Convidado pelo Jornal de Angola a fazer um balanço sobre o seu mandato e do que mais o impressionou no país, o diplomata teceu rasgados elogios aos angolanos. “Levo comigo a imagem de um povo extremamente afável e com virtudes”, afirmou o embaixador que, durantea entrevista, destacou as realizações enquanto representante do Estado argentino em Angola. Também assumiu um fracasso: o facto de não ter conseguido convencer Lionel Messi a visitar o país
Ary, uma das mais populares cantoras nacionais, com vários sucessos musicais e prémios, dona dos álbuns musicais “Sem Substituição”, “Crescida mas ao meu jeito” e “10”, concedeu uma entrevista ao Jornal de Angola onde, de forma aberta, falou do seu percurso artístico. Carinhosamente tratada por Diva Ary, a cantora deu a conhecer que, em Agosto, vai fazer um concerto em Lisboa, no qual contará com a participação de nomes sonantes da música angolana
Ary,
uma pequena apresentação...
Eu
sou Ariovalda Gabriel, filha de Mário José Gabriel, o famoso professor de
ginástica e de Maria José Cambinda, uma senhora bancária. Sou natural do
Lubango. Vim para Luanda com cinco anos e daqui não saí mais.
É
mais caluanda que mumuíla...
É
verdade. Todos dizem que "esta tua boca não é da Huíla”, mas esta é a minha
forma de ser. De facto, sou mais caluanda, porque a minha vida toda foi feita
aqui e só voltei para o Lubango quando me tornei cantora famosa, muitos anos
depois.
Qual
a razão de tanta simpatia?
Sou
assim, isto faz parte da minha característica. Desde pequena, gosto muito de
fazer os outros rirem, não gosto de tristezas. Sou mesmo assim, não forço nada,
é mesmo algo natural e meu.
Ary
é uma artista muito extrovertida, excêntrica. Isso traz-lhe alguns dissabores e
incompreensões?
Se
Jesus não agradou todo o mundo, imagine eu que sou um simples ser humano. De
facto, no início da carreira, foi duro, porque criticavam-me, apesar de
gostarem da minha música. Mas, como pessoa, não conseguiam me engolir, pela
minha maneira muito à vontade, simples e extrovertida. Ary não mudou até hoje,
continua a ser a mesma Ary porque eu impinjo as pessoas a aceitarem a forma
como sou.
Quando
foi convidada para o
Show do Mês, os showistas não a encararam muito
bem...
Sim,
de facto, pensaram que seria muita confusão, dizendo que a Ary não sabe estar,
apesar de ter muito reportório. Mas, olha, eles ficaram surpreendidos pela
positiva, dei-lhes uma chapada sem mão. Como eu digo sempre, pelo mau aspecto
da faca perde-se um grande bife. É que as pessoas, só de olhar, criticam logo,
não convivem com as pessoas, não sabem o que aquela pessoa pode lhes passar de
positivo, só me julgam por aqueles minutos de palco. Ela não sabe estar. Se pararem e vierem ter
comigo verão que ela não é bem aquela confusão, tem um lado humano, família,
etc. Claro que hoje eu cresci, ganhei maturidade. Antigamente, eu não filtrava,
não queria saber se era gala. Com os anos, vi que tenho de separar as águas,
que há sítios que não é para fazer confusão.
Ary,
hoje, tornou-se um exemplo de superação para muitas jovens cantoras. Qual é a
mensagem que deixa a estas mulheres?
A
mensagem que eu deixo para elas é não desistirem, porque chega sempre o dia de
glória. Mas devem trabalhar muito e serem muito disciplinas. Para chegar onde
estou tive de perder muitas festas, momentos com a família, perder noites.
Foram muitas coisas ao longo desta caminhada para aqui chegar, mas valeu a
pena, consegui trilhar a minha estrada, fazer carreira. Isto depende do que
cada um quer. O que eu noto na nova geração, não todos, mas a maior parte,
estão mais preocupados em serem famosos e não em fazer carreira. Se estás
preocupado em ser famoso, serás durante um tempo e depois acaba. Mas se o foco
é fazer carreira, então é só trabalhar com muito empenho e aproveitar cada
oportunidade que apareça.
Quando
começou a ganhar o gosto pela música e quais foram as suas influências?
Desde
criança, sempre gostei de cantar com a família, na igreja e na escola. Na
verdade, desde que me conheço como pessoa, amo cantar. Quanto às influências,
no início, tive a Lauryn Hill, cantora americana e também das artistas que eu
encontrei aqui, como a Yola Semedo, Lourdes Van-Dúnem. Oiço muito Belita Palma,
gosto de David Zé, Artur Nunes, As Gingas do Maculusso, Margareth do Rosário e
outros.
Ao
citar Lauryn Hill remete-nos à fase em que apostava no Rap, Soul, R&B e
outras tendências americanas...
Olha,
eu não gostava de Semba nem de Kizomba. Apenas aprendi a dançar quando comecei
a cantar estes estilos, porque não gostava mesmo. Na altura, havia os canais
televisivos que passavam muitas músicas americanas e começámos a ter muitas
influências de fora, todos queríamos ser americanos e eu bebia muitos deles.
Por isso, só queria fazer aqueles estilos.
E
como faz a mudança?
No
decorrer do tempo o Heavy C, ao ouvir o meu timbre vocal, começou a mostrar
algumas músicas gravadas a outros produtores e músicos. Quando ele dá ao Dj
Manya e ao Yuri da Cunha, este diz "olha, ela faz-me lembrar a Nany, a voz e a
forma dela”. E pediu para porem-me a cantar Semba e Kizomba. Eu era miúda, tinha 7 anos. O Heavy C chegou
e mandou-me cantar "Aí meu amor, meu patrão mandou chamar” e deste modo ele
decidiu: "a partir de hoje vais cantar Semba e Kizomba”. Eu chorei tanto,
porque não queria. Refizemos o disco todo que já estava quase pronto, gravado
na África do Sul. E foi assim que fizemos "O teu grande amor”. Fomos ter com o
Caló Pascoal, gravámos "Carta de Amor” com a Karina Santos e com o Yuri da
Cunha gravei o "Meu Patrão”, tudo Semba e Kizomba, que hoje são estilos que me
identificam, mas que antes eu desdenhava.
E
desta forma nasceu o disco "Sem Substituição”. Este título tem alguma
justificação?
Sim,
porque eu cheguei para ocupar o meu lugar e lutar para mantê-lo. Não para tirar
o lugar de alguém, muito pelo contrário. Vim para aprender com aqueles que eu
já encontrei e passar o meu testemunho para quem veio depois. Não entrei nisso
com espírito de competição.
E
hoje temos uma Ary muito eclética
musicalmente...
Grande
parte dos meus sucessos são de estilos diferentes, desde o Kuduro, Afrobeat que
fiz com o Dj Jesus, folclore, os kuduros que gravei com a Titica, com Baló
Januário a Cabecinha, Kilapanga, as Kizombas e Sembas. Então, eu faço um pouco
de tudo, porque quando surgi como artista, mostrei às pessoas que não sou de um
estilo apenas. Antes do disco era do Rap e R&B mas depois passei a gostar
de tudo.
Antes
do disco, participou em concursos de descoberta de novos artistas, como o
Estrelas ao Palco. Fale desta experiência...
Vou
confessar, eu não tenho uma boa experiência de concursos. Perdi. E perder não é
nada bom. Isto frustra. Principalmente quando dão um não mal dito. Penso que
devemos aprender a dar um não bem dito, porque a pessoa pode receber de uma
forma errada. Quando eu recebi o não do Estrelas ao Palco, já não queria cantar
mais.
Perdeu
no Estrelas ao Palco mas venceu na carreira artística...
Para
dizer que nem todo o mundo que vence estes concursos, ou seja, a maior parte,
singra na carreira musical. Não sei porquê, contam-se aos dedos das mãos
aqueles que ganharam e tornaram-se cantores. Mas dos que perderam, muitos são
grandes músicos como eu, Sandra Cordeiro, Matias Damásio, Totó ST e outros
exemplos de artistas que concorreram e não ganharam mas conquistaram o seu
espaço. Penso que, às vezes, é necessário perdermos num determinado momento
para ganharmos noutro. E foi o que aconteceu.
Novo disco está quase pronto
Ary
tem novas músicas com Badoxa, John Berry, Young Double e outras colaborações
recentes. Estes temas fazem parte do novo disco?
Com
o Badoxa a música "Ciúme” é minha e fará parte do meu próximo disco, mas com o
Young Double e o Johnny Berry "Tenho Cara de Kit” e "Zala Calmé” são músicas
deles em que participo e em estilos diferentes. O que acontece é que saíram ao
mesmo tempo e com a minha voz, por isso muitos pensam que são músicas
minhas.
O
que mais temos neste projecto discográfico? Outras produções, compositores e
novidades?
Temos
quatro ou mais músicas produzidas pelo Heavy C, composição e produção do
Chilola de Almeida, tem arranjos do Dj Manya, tem produção dos Gabeladas em
"Bolingo ya Motema”, participação da Titica, do Badoxa que já saiu... É agora
que, num disco, tenho muitas participações, antes contavam-se. Tem ainda
composições do Matias Damásio em três músicas.
E
quantas músicas podemos esperar?
A
princípio, dez ou doze. Não adianta ter muitas músicas, porque as pessoas
apenas ouvem a que está a bater, a promocional e quando compram o disco não
exploram as outras. Depois, quando estas
começam a tocar, perguntam em que disco está ou se é de um novo álbum. As
pessoas não prestam atenção.
Para
quando o lançamento do próximo disco?
Na
verdade, já estava pronto antes da pandemia e quando esta chegou estragou com
tudo. Mas olha, vou confessar, estou com preguiça de lançar. Há momentos em que
penso que preciso de descansar e tirar um ano, mas como vivo apenas da
música... Não posso deixar ficar o meu filho sem leite, a minha única fonte de
rendimento nestes anos todos é só a música. Eu vivo literalmente da música. Se
paro com tudo, não como, assim como a minha equipa.
Mas,
hoje, ela levou a algumas marcas...
Sim,
mas quando eu digo viver da música é o que ela arrasta. O facto de eu cantar, é
que faz com que as marcas queiram ou sejam arrastadas, porque se paro de
cantar, todos largam-me. Então, tenho sempre de estar a trabalhar, por isso é
que nunca parei até hoje, vivo disto. Nunca pensei que iria viver da minha
arte, porque quando entrei era inocente. Quando descobri que a música vai dar
para fazer mais dinheiro, e eu que já gosto dela, então foi golo e disse:
"agora vou mesmo empenhar-me mais”. É assim que não parei até agora, e pretendo
não parar. Isto pode. Eventualmente, acontecer caso consiga arranjar um outro
negócio ou outra coisa que esteja a render bem, de forma que não precise de
cantar muito. Aí descanso um ano, mas de outro modo, vão ter de me aturar muito
em palco. E aguardem o próximo disco.
Das
várias parceiras, um nome não passa despercebido, Titica. À semelhança de Paulo
Flores e Yuri da Cunha. Nunca pensaram em fazer um trabalho colaborativo?
Para
fazer as minhas parceiras é fundamental sentir algo pela pessoa, empatia. Não
importa se é um anónimo, se a música mexer comigo, eu gravo, e com a Titica
acontece tudo isto. De facto, temos muitos duetos, penso que cinco ou seis, mas
nós nunca parámos para pensar nisto e é a primeira vez que me colocam este
desafio. Olha que é algo a pensar e amadurecer, podemos ver esta possibilidade.
Ela agora está em Portugal e isto dificulta um bocadinho, mas é um projecto
que, se nós metermos a mão na massa, funciona.
Na
nova geração, que artista escolheria para fazer uma
parceria?
Fica
muito difícil agora falar, mas estou a acompanhar e gosto do trabalho da
Chelsia Dinorath. Sinto que das meninas da nova geração ela é que canta com
alma e é humilde.
No palco tem como parceiros os integrantes da Banda Prontidão.
Alguma razão?
São jovens que têm contribuído para a nossa música. Grande parte dos integrantes da Banda Prontidão trabalham comigo há muito tempo, por exemplo o Yark, que é o meu director artístico, está comigo há mais de dez anos. É o mais antigo e fiel. Eles percebem-me e sabem a sonoridade que eu gosto e temos muita cumplicidade em palco. Eu os respeito como banda e como músicos. Não vou falar de outros mas muitas bandas e instrumentistas reclamam que não são valorizados pelos próprios artistas, que quando estão em palco só querem saber do seu nariz e não estão preocupados se estes estão bem. Eu reconheço. Se estou em palco a fazer um grande concerto, eles fazem parte de todo o processo, então todos têm valor. Dizem que de todos os artistas, eu sou a que mais valoriza o trabalho deles, por isso é que quando tenho um concerto, eles cancelam outros compromissos e apostam no meu. Mas, infelizmente, isto não se vê em todos os músicos e penso que isto é uma das principais razões que faz com que a Banda Prontidão e a Ary não se larguem. Nós somos um time. Eu gosto de trabalhar como família. Por exemplo, quando viajamos com outros artistas, existe aquela mesa que é apenas para músicos mas eu gosto de sentar-me com os meus.
O
que é que o Agnelo Henriques representa na sua carreira?
O
Agnelo, mais que um agente, é família. Ele está comigo há mais de dez anos, é
alguém que Deus pôs na minha vida para somar. Ele é visionário e muito
sabichão, um jovem batalhador e muito bom no que faz. É um bom organizador de
eventos. Foi nesta área que o conheci e o convidei a trabalhar comigo. Estamos
juntos desde então, às vezes, discutimos muito mas reconheço que sou abençoada
por tê-lo ao meu lado.
Versões musicais com o timbre da Diva
Ary
tem sido bem sucedida em recuperar sucessos antigos: "Despedida de solteiro”,
"Decepecion”, "Bida di gois”...
É
verdade, graças a Deus. E olha que a maior parte delas foram para projetos de
produtores. "Despedida de lar”é do DJ Malvado. Ele convidou-me e como eu já
gostava da música achei fixe e ficou muito bonita. O "Decepcion”fui eu que
escolhi porque o Dias Rodrigues tinha-me dado uma outra música para participar
no Picante. Falei com o Lutchiana, que foi casado com a minha mãe, e ele
autorizou com aquele sotaque "Arry você é minha filha, pode cantarr” e depois ficou muito feliz com
a versão que considera como sendo a melhor já feita de uma das suas músicas.
Agora, o "Tá amarrado” eu ouvi pela primeira vez em 2008, quando fui cantar
pela primeira vez no Palácio, nos cumprimentos de fim-de-ano, na altura do
Presidente José Eduardo dos Santos. Desde que vi a Banda Movimento em palco,
gostei e não esqueci a música. Ficou-me a instrumentalização e a forma como o
Kintino interpretou. Então, quando decidi fazer o meu terceiro álbum lembrei-me
dela para uma versão. Falei com eles e autorizaram-me. A produção foi do Dj
Manya e ficou bonita.
Versões
e autorizações e surgem muitas polêmicas. Ary já esteve envolvida em
algumas?
Geralmente,
falam da pessoa que cantou, nunca do dono do projecto, mas, graças a Deus, nas
músicas que eu já interpretei nunca tive grandes problemas. Quando um Dj me
convida para fazer uma versão eu pergunto como está, se falou com os donos ou
quem detêm os direitos. Eu não quero problemas porque, no fim, a mal falada
serei eu, então eles me provam que está autorizado, inclusive quando ouviam que
era eu, muitos disseram que podia cantar
à vontade. Nunca tive problemas em relação a isto.
Mas
há tempos, o Miguel Neto abordou o caso da
Ary...
Sim,
em tempos ligou-me o Miguel Neto a perguntar-me sobre a "Despedida do Lar”,
porque, segundo ele, o artista reclamou. Mas eu disse-lhe que a conversa não
era comigo e que até onde eu sabia estava tudo certo. Depois, a música tocou
estes anos todos e como é que apenas agora
estão a reclamar? Algo não fazia sentido. E como sei que ele gosta de
falar sobre os plágios na rádio pedi que ele fosse falar com os produtores para
melhor informação, para antes de me estender, conversar com o Malvado e o
Manya. Ele não voltou a tocar no assunto, penso que não encontrou
irregularidades, porque antes conversaram com o dono da música.
Temos
também o caso da música "Paga que paga”...
Sim,
porque a Dircy já tinha interpretado há muito tempo o "Paga que paga”, que é
uma composição do Kiaku Kiadaff. Quando o Chico Viegas convidou-me para
participar no projecto, deram-me esta música. Gostei logo e gravei depois do
Kiaku ter feito a voz guia. Mas quando começaram a surgir as reclamações da
cantora, ele ligou-me e disse para não me preocupar e falar nada porque ele
mesmo iria resolver o problema. Foi à Rádio explicar que nada era ilegal, que a
música era dele e que não havia nenhum impedimento para a Ary cantar. Depois, abafaram
o caso. De resto, nunca tive problemas.
Curioso,
foi um episódio triste que lhe deu a alegria da conquista do Top dos Mais
Queridos...
Não
diria que foi um episódio triste porque sempre tive a minha consciência limpa.
Podem fazer confusão, que não me afecta. O próprio dono veio falar que eu não
tinha nada a ver. Do meu lado, eu sou da paz.
E
qual foi a sensação ao conquistar o Top dos Mais Queridos 2007 em Malanje, com
"Paga que paga”?
Isto depois de sete anos a concorrer entre os finalistas. E durante este período fiquei em segundo, terceiro lugar, mas o primeiro era um sonho e estava duro. Aconteceu quando eu deixei de ir para competir. Quando anunciaram o meu nome, atirei-me ao chão, não aguentei, foi muito bonito, um sentimento de louvar. Orei muito nesse dia, a agradecer a Deus pela bênção e eu própria disse que é só não desistir, porque quando a pessoa insiste e continua a trabalhar, os resultados surgem. E foi o que aconteceu. Fiquei feliz. Incrível. Uma amiga ligou e disse que quando consagraram Ary como vencedora, no prédio, os gritos pareciam de um jogo de futebol. E é bom quando o artista ganha e o povo está a favor. Tenho este prémio com muito carinho, porque quando todos reconhecem a vitória, é diferente. E, naquele dia, foi unânime, tanto entre os colegas como no público.
E a
segunda vez?
Quando
ganhei pela segunda vez, com a música "Papá fugiu”, com a participação de Baló
Januário, a emoção foi outra, porque tornei-me na primeira mulher a conquistar
dois títulos. Eram apenas homens, Yuri da Cunha e Matias Damásio, mas a
primeira a conquistar foi a Patrícia Faria e depois a Yola Semedo. Também não
tinha como eu não ganhar, cantei um assunto que tocou o coração de todas as
mulheres, e não só, falei da fuga à paternidade e sobre os padrastos. É um
assunto por que muitas mulheres angolanas passam e foram muitas que votaram
naquela edição.
A cidadã, o activismo e a arte
Em
temas como "Papá Fugiu” e "Betinho”
encontramos um activismo no campo do empoderamento feminino e na defesa
da mulher. Fale desta postura da cantora...
A
partir do momento que passei a perceber que o artista tem força e é um elemento
a seguir, que tem voz e pode fazer que um assunto possa ser resolvido através
da música, começámos a compôr assuntos que retratam a realidade do nosso
quotidiano. Eu gosto de cantar estes tipos de temas. "Paga que paga” também vai
nesta linha de um pai que tem dinheiro e que não gasta em casa com os filhos e mulher, mas
prefere gastar na rua. Sinto que quando canto uma música que fala destes problemas,
sou muito mais ouvida. Gosto de cantar sobre o problema das pessoas e que,
muitas vezes, também é o meu problema, porque muitas outras estão a viver ou
passaram por situações semelhantes. Serve o exemplo do Betinho, que aborda a
violência doméstica. Cantei de uma forma cómica e também peço para denunciarem.
É um alerta, assim como em "Papá Fugiu”.
Por
falar em activismo, muitos reclamam da pouca participação dos artistas
angolanos, que fogem abordar questões sociais mais sensíveis e estão mais preocupados
em agradar ao poder politico...
Olha,
a situação é que o artista só tem de fazer música. Nós também sofremos, às
vezes as pessoas vêm-nos na televisão mas não sabem o que passamos e pensam que
a nossa vida é um mar de rosas. Não é bem assim. Há artistas que ainda dormem
no beliche. O problema é de todos. E muitos problemas em que as pessoas querem
que o artista intervenha são assuntos da responsabilidade do Governo. E depois,
quando abordamos determinados temas, as pessoas são consideradas revus. Há
certas situações em que eu entendo os meus colegas, porque há problemas que
quem tem mesmo que resolver é o pessoal lá de cima, não somos nós. Estamos num
país em que quando tentas bater de frente, és mal conotado e fecham-te as
portas. Infelizmente, aqui é assim. Alguns músicos que tentaram, acabaram mal
ou tiveram que emigrar, ou seja, fugir. E depois, temos o outro caso. Muitos
daqueles que incitam as pessoas para cancelarem os músicos, afirmando que não
estão a favor das suas causas, não vivem cá. É de fora que lançam estes apelos
e nós aqui a nos matar, quando eles lá estão muito bem. Olha, a minha forma de
ajudar é dar o meu contributo, é fazer algumas acções sociais, como o fiz na
altura da Covid. Mas é uma iniciativa minha, sem obrigação de ninguém ou alguém
a me impingir, porque eu não gosto que me mandem. As acções sociais são coisas
do meu coração e sempre que penso em ajudar numa determinada situação, assim
faço.
Nem
mesmo quando o sistema aproveita?
Por
exemplo, há tempos estive num município da província de Luanda, onde fui
visitar um bairro a convite do administrador local e dei uma entrevista. Disse
que não gostei do que vi, porque aquilo não estava bem e eu não podia falar
apenas para agradar. Eles chamaram um jornal ou uma televisão, por acaso, fui
para dar um discurso mas quando vi aquilo, eu disse que não podia mentir e
falei o que não estava bem e que devia mudar no município. Eu até sugeri para
disponibilizarem verbas para mandar construir escolas. Em vez de chocar de
frente, devemos dar ideias. E é assim que eu faço.
No confinamento, enquanto muitos artistas reclamavam da falta de palco, a Ary se reiventou e tornou-se a Rainha das Lives...
Sim, foi uma fase muito difícil porque só estávamos a gastar e tínhamos contas a pagar. Não tínhamos shows, mas conseguimos nos reinventar e fizemos shows e as marcas vieram atrás e começaram a juntar-se. Tudo parou e uma das formas que eles viram de promover os produtos deles era patrocinar as lives. E nós começámos a ganhar e passámos a ter como pagar a banda e, na televisão, passava em rodapé a marca da empresa, mas a maior parte das lives que fizemos eram para angariar fundos para ajudar os centros de acolhimento. E assim fizemos. Não era minha obrigação, mas foi o que eu fiz como cidadã, com a minha arte.
Ary
canta nos concertos populares, lugares chiques, para os que mandam e os
mandados. Onde gosta mais de escangalhar?
Meu
irmão, sinto-me melhor e mais acarinhada no meio do povo. Não que não tenha boa
recepção nas galas, onde gosto de ver as pessoas a saírem da zona de conforto e
também sou muito bem tratada. Mas quando estou com o meu povo, meu, esquece.
Quando atiro-me ao chão, cuia, tiro o sapato, cuia, diferente da gala, onde nem
sempre consigo dar o meu máximo, é diferente. Os gritos são maiores, posso
falar calão eles se identificam, é muito fixe. Mas repito, também vivo bons
momentos nos lugares chiques.
Homenagem à Nany e a busca de outros
palcos
Este
ano, em Março, por ocasião do Mês da Mulher, fez um concerto em homenagem à
Nany. E mais uma vez Ary surpreendeu. Fale desta experiência...
Como
disse, no início da minha carreira, o Yuri da Cunha e outros diziam que fazia
lembrar a Nany, quer pela forma de estar em palco quer pelo timbre. E olha que
eu não bebia muito dela, mas depois de começarem a falar muito da Nany, eu
comecei a prestar atenção a algumas coisas. Só dei mesmo conta que temos o
mesmo timbre quando fiz este show, um desafio feito pela direcção do Porto de
Luanda porque eles é que estão a cuidar da saúde da Nany no Centro de
Reabilitação. Eles decidiram homenagear a senhora enquanto está em vida, o que
acho certo, e na lista de artistas que eles tinham viram que a Ary era a que
mais se enquadrava. Deram-me um toque um mês antes para fazer um concerto
apenas com as músicas da Nany. Não vacilei e disse que seria uma honra. Pedi
que ela fosse assistir esta homenagem mas a família mostrou resistência no
início. Tudo foi resolvido depois pelo pessoal do Porto de Luanda, que explicou
o conceito e que seria algo bonito e que
tudo seria revertido para ela. E foram todos.
E
como foi cantar para
a Nany?
Quando
disseram que a Nany estava na sala, eu fiquei muito nervosa, porque uma coisa é
interpretar a música de alguém quando não está lá e outra é o dono da música
assistir e avaliar se estás a cantar bem a música. Logo que entrei em palco,
parece que a Nany se viu em palco, porque eu coloquei aquela roupa curta que
ela gostava e a peruca loira que usava, os óculos e o corpo dela, até me
apertei para mostrar aquela silhueta que ela ainda tem. Ela quis subir ao
palco, mas não deixaram. Foi um show muito bonito e eu até disse já posso parar
de cantar, sinto-me realizada porque cantei para uma das rainhas da música de
Angola.
Ary
está a prepararum grande concerto em Lisboa...
Sim, todos os anos, eu faço um concerto na época do meu aniversário em Angola. Este ano, levo o concerto para Lisboa, em Agosto. No verão europeu acontecem concertos todos os dias. Vamos dar no meu dia, 3 de Agosto. Estou muito ansiosa e preocupada, porque não sei o que me espera, porque será o meu primerio grande show sozinha em Portugal.
Já
temos alguns convidados?
Titica, Gilmário Vemba, C4Pedro e o Badoxa estão confirmados e teremos algumas surpresas, talvez o Bonga, Paulo Flores, Yuri da Cunha ou mesmo uma cantora nova. O que posso dizer é que estou a preparar um show muito bonito para Lisboa, para fazer uma festa verdadeiramente à moda angolana. Ainda em Lisboa estarei num dos palcos principais do Festival da Costa da Caparica e o Agnelo está a fechar outros que em breve anunciaremos.
Para
quando um passo fora do espaço dos falantes da
língua portuguesa na
conquistade
outros mercados?
Tenho
a maior parte dos prémios nacionais e muitos estão repetidos. E é o que digo,
em Angola já não tenho mais nada a provar, é só continuar a cantar. Agora, o
desafio é que conheçam a minha música fora de Angola.
Então
o que falta?
Olha,
para tudo é necessário apoio financeiro, quer dos empresários quer das
autoridades. Para nós, músicos, é necessário lutar com as nossas forças, porque
tudo fora do país paga-se, mesmo as participações com artistas americanos ou
nigerianos cobram. E em divisas. Se chega um empresário ou mesmo o Governo e
diz esta verba vamos canalizar para a música e arte mas que escolham os
artistas sérios, Angola vai longe. Parem e olhem para o mundo, agora tem uns
quatro ou cinco músicos nigerianos a tocarem muito e os próprios americanos a
pedirem colaboração. Isto significa que o nome da Nigéria está em cima. Faz com
que os outros países se interessem pela Nigéria e até ajuda no turismo, porque
querem conhecer o país da estrela. Digo, se o Governo apostar na música de
verdade, o nome de Angola estará em alta, o mundo ficará atento. Ganham não só
nós, os músicos, como também o país. A música tem poder.
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LoginElevada à categoria de cidade, no dia 28 de Maio de 1956, Cabinda conta com uma população estimada em 700 mil habitantes, segundo as projecções de 2018 do Instituto Nacional de Estatística (INE). Em Entrevista ao Jornal de Angola, o administrador municipal, Guilherme Pereira, descreve o quadro sócio-económico e fala dos principais projectos em curso, do combate à imigração ilegal e à venda desordenada
Na antecâmara da Cimeira Coreia-África, em Junho próximo, em Seul, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros para os Assuntos Políticos da Coreia, Chung Byung-Won, afirmou, ao Jornal de Angola e a outros media africanos, em Seul, que o seu país está disposto a aumentar a quantidade, a qualidade e a eficácia da assistência ao continente “berço” da Humanidade.
O director nacional das Telecomunicações e Tecnologias de Informação do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Matias Manuel da Silva Borges, garante que a operadora Movicel, que está num processo de reestruturação ao nível da sua organização, infra-estruturas, processos e procedimentos, vai conhecer uma outra realidade nos próximos dias. Entrevistado pelo Jornal de Angola a propósito do Dia Internacional das Telecomunicações e da Sociedade de Informação, assinalado a 17 de Maio, o director nacional fala também do aumento do número de utilizadores da rede móvel no país, dos benefícios do Angosat-2, dos principais eixos do Livro Branco das TIC e do Angotic-2024, previsto para o próximo mês
A Direcção Municipal do Ambiente e Saneamento Básico do Cazenga, em Luanda, deu início esta semana, aos trabalhos de manutenção da macrodrenagem na Vala Cazenga-Cariango, uma das principais que atravessa o município.
Angola e os Estados Unidos da América (EUA) assinam, em Agosto, um acordo de geminação entre as cidades angolana de Malanje e a norte-americana de Hampton, estado da Virgínia, revelou ontem, ao Jornal de Angola, o ministro da Administração do Território, Dionísio da Fonseca.
O Presidente da República, João Lourenço, foi convidado pelo seu homólogo do Congo, Dennis Sassou Nguesso, a participar na 1ª Cimeira sobre a Florestação, a ter lugar de 2 a 5 de Julho na capital congolesa, Brazzaville. O convite foi entregue, ontem, ao Chefe de Estado, no Palácio Presidencial, pela ministra da Economia e Florestas do Congo, Rosalie Matondo, na sequência de uma audiência que lhe foi concedida com este propósito.
O Orçamento Geral do Estado (OGE) tem verbas e reservas previstas para atender danos resultantes de calamidades e desastres naturais.A garantia foi reiterada, quarta-feira, em Luanda, pela secretária de Estado do Orçamento e Investimento Público.