Cultura

Classificação da Missão Católica do Cuvango atrai atenção dos turistas

Estanislau Costa | Lubango

Jornalista

A histórica Missão Católica do Cuvango, elevada a Património Cultural Material Nacional, neste mês de Abril, passa agora a ser uma referência para pesquisadores nacionais e estrangeiros, devido à sua estrutura arquitectónica e ao material utilizado na sua construção.

29/04/2024  Última atualização 09H35
© Fotografia por: Edições Novembro

Entre os motivos de atracção estão as áreas residenciais dos padres, madres, os espaços de lazer e recreação, cujo acesso é feito através de um troço que se encontra em boas condições. O caminho permite a mobilidade rápida e segura com uma paisagem exuberante decorada com as cores verdes da natureza, apropriada para o lazer e recreação.

O cenário calmo e acolhedor da Missão, agregado ao som do ambiente do canto harmonioso dos pássaros, as paisagens formadas pelo conjunto de árvores e arbustos, que ajudam a amenizar o ambiente em tempo de calor, a fragrância suave e doce das flores, complementam o cenário, dando a sensação de estar a transmitir aos visitantes e moradores da Missão Católica do Cuvango momentos de muita paz, espiritualidade e tranquilidade.

O administrador municipal do Cuvango, Luís Marcelo, explicou que a Missão, fundada em 1888 pelo padre francês Ernesto Lecomte, converteu-se num centro de formação da região Sul, em que a maioria dos formandos era constituída por filhos de pessoas sem recursos para suportar os encargos dos estudos.

Luís Marcelo descreveu ainda que a primeira reabilitação da Missão ocorreu no período 2007/2011, tendo o arcebispo do Lubango, Dom Gabriel Mbilingi, inaugurado em Setembro de 2011 esta fase de renovação.

 "Dezenas de jovens, além da formação religiosa como missionários, aproveitaram a Missão para se formar em Educação de Infância, Social, Pastelaria e outros cursos profissionais”, disse.

O administrador municipal do Cuvango considerou ser uma mais-valia a classificação do espaço religioso como Património Cultural Material Nacional, por ter notáveis infra-estruturas arquitectónicas e com traços históricos antigos. "A Missão formou muitos quadros de grande serventia que se encontram hoje espalhados em vários pontos do país e do mundo”, ressaltou. Segundo Luís Marcelo, o município do Cuvango, localizado a 350 quilómetros a Leste da cidade do Lubango, tem uma estrada em condições que torna o trânsito tranquilo e rápido. Acrescentou que tem, igualmente, rios com condições favoráveis à pesca artesanal e desportiva, assim como espaços destinados a projectos de impacto sócio-económico e cultural.

Empenho de diversas figuras

O director do gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Huíla, Osvaldo Lunda, considerou a classificação da Missão Católica do Cuvango como Património Material Nacional o resultado de uma acção que teve o empenho de várias figuras religiosas e governamentais, que continuam a trabalhar para a valorização dos monumentos e sítios da região.

"A província da Huíla possui cerca de 200 monumentos inventariados, razão para que os trabalhos continuem a ser desenvolvidos no sentido de tornar os espaços mais atractivos e conhecidos do grande público, no quadro do fomento do turismo cultural na região e ser uma fonte de receitas para os cofres do Estado”, disse.

Osvaldo Lunda referiu ainda que a Huíla possui, actualmente, 23 monumentos classificados como Património Cultural Material Nacional, sendo o mais recente as infra-estruturas da Missão Católica do Cuvango, com estruturas capazes de atrair e convencer os amantes do turismo rural e os artistas plásticos nacionais espalhados em vários pontos da província.

Outros monumentos de importância histórica

A recente classificação à categoria de Património Histórico Cultural de oito monumentos e sítios existentes nos municípios dos Gambos e Humpata criou as condições jurídicas necessárias para assegurar a preservação, conservação e manutenção desses locais, face às variações climáticas, presença humana e outros factores que degradam o meio.

Os monumentos classificados no âmbito das comemorações do Dia Mundial do Turismo, pelo Gabinete da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Huíla, são o conhecido Monumento Angola-Cuba, o bunker dos militares das antigas Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), assim como o edifício da Igreja Católica do Tchihepepe, situado no município dos Gambos.

Constam também três cemitérios dos boers e a gruta da Leba, que continua a manter a sua performance original. Com a elevação à categoria de Património Histórico Cultural, a província da Huíla passa agora a contar com 22 monumentos classificados dos 200 inventariados até ao momento.

Osvaldo Lunda explicou à imprensa que os monumentos classificados entram agora na grelha de visitas a nível da província, assim como começam a atrair mais turistas, por serem áreas virgens, nunca antes conhecidas pelo grande público, sobretudo de outros pontos do país e do estrangeiro.

"Estão criadas as condições para a preservação institucional dos novos sítios, principalmente do Cemitério dos Boéres, que se não fosse o empenho e cuidados dos populares das zonas onde se encontram já teriam desaparecido há vários anos”, argumentou.

Breve história dos Boéres

Segundo conta Soraia Ferreira, directora do Museu do Lubango, a comunidade bóer foi uma das responsáveis pelo desenvolvimento da agricultura na Huíla, províncias das mais produtivas, em termos agrícolas, em Angola.

"Uma das inovações tecnológicas que os bóeres trouxeram para cá foi o sistema de irrigação", recorda a directora do Museu Regional da Huíla.

Um cemitério secular, com 20 campas dos primeiros bóeres, conservado no interior de uma fazenda da Humpata, é o único vestígio da presença daquela comunidade em Angola.

Apesar da falta de informação detalhada sobre os bóeres, aquele museu conseguiu recuperar, entre outros elementos, uma estátua do período colonial do alferes português Artur Paiva, nomeado em 1882 o primeiro administrador do então concelho acabado de formar, de nome Humpata.

O português acabou por casar com Jacquelina Botha, precisamente a filha do chefe da colónia bóer da Humpata. A primeira colónia de 270 bóeres era então, em 1880, composta por 57 chefes de família, liderada por Jacobus Botha.

Pouco antes, recorda Soraia Ferreira, tinham surgido os primeiros contactos entre a administração colonial portuguesa e Jacobus Botha, à frente destes bóeres fugidos dos conflitos na África do Sul.

Negociações que permitiram à comunidade bóer, que chegou a ser de 80 famílias, que lideravam as fazendas locais, ocupar, para cultivo, um total de 3.000 hectares de terrenos na Humpata.

"Foi a maior fatia da comunidade que se instalou ali", refere Soraia Ferreira, com base na investigação que está a ser feita sobre a colonização da Humpata, um dos municípios da província da Huíla, onde formaram a colónia de São Januário.

Os bóeres chegaram à Humpata numa longa travessia de mais de 3.000 quilómetros, em carros puxados por animais, e o maior período da presença deu-se até 1928, apesar de os últimos elementos desta comunidade só terem deixado Angola aquando da proclamação da independência, em 1975.

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