Sociedade

Da vocação sacerdotal aos estudos de Direito

Rui Ramos

Jornalista

Danilson Simão Viegas António, tem 21 anos de idade e é filho de Simão António e de Esperança Américo Viegas, nascido em Cacuaco, província de Luanda, foi educado e criado pela sua avó, Maria Américo Domingos – viúva - em companhia dos seus três primos mais velhos, Domingos Américo, Sebastião Passi, falecido, e Viegas Passi.

24/08/2024  Última atualização 09H55
© Fotografia por: DR
"Embora com grandes dificuldades económicas, a avó nunca nos deixou sequer um dia sem aulas, pois recebiamos aulas em casa todos os dias”, recorda.

Sendo o mais novo da casa, Danilson Viegas António começou a frequentar a escola muito cedo. Os seus primos já estudavam. A sua avó vendia fora de casa e ele não podia sair. "Não tendo onde ficar, passei a acompanhar os meus primos onde quer que fossem e, assim, antes mesmo de começar os meus estudos de iniciação já possuía um leque de conhecimentos muito forte e isso deixava estupefactos os meus professores.”

Danilson começou os estudos na escola Doze Apóstolos e fez a 3ª classe na escola Ti-Bifa, no bairro que o viu a crescer: Boa Esperança Kikolo. Por razões alheias à sua vontade, Danilson mudou-se para a Vila de Cacuaco, onde prosseguiu os estudos na Escola 4003, na 4.ª, 5.ª e 6.ª classes. Tendo os seus pais reconhecido a” autenticidade e rigor” das escolas católicas, segundo ele, regressou ao seu bairro Boa Esperança     sob tutela da avó. Ainda no mesmo ano, ingressou na escola Dom Jaca "4085” onde frequentou a 7.ª, 8.ª e 9.ª classes, e era chamado pelos colegas de "filho do professor Makiessi-matemático” e ia agregando outros valores culturais e religiosos em função da Catequese e do movimento dos acólitos da Paróquia de Santa Mónica – Diocese de Caxito.

Danilson Simão Viegas António passou a maior parte da sua infância e adolescência sob os cuidados da avó, Maria Américo Manuel Domingos, que lhe incutiu desde muito cedo o amor pelos estudos, a igreja e os trabalhos domésticos. "Entreguei-me totalmente à função de acólito e senti a vocação para Padre.” Em busca da concretização e amadurecimento da sua vocação, Danilson entra no grupo dos vocacionados da sua Paróquia, Santa Mónica, "antiga Santa Isabel de Portugal” onde em 2017 veio a ser um dos candidatos à formação sacerdotal. Apresentando todos os "requisitos e virtudes” que a Diocese exigia, ainda no final de 2017, integrou o grupo dos seis candidatos de Caxito para formação sacerdotal em Ndalatando no ano lectivo de 2018. "Neste ano, ingressei no Seminário Médio Santos Mártires do Uganda, em Ndalatando, onde, com a ajuda dos meus formadores ia alimentando a vocação sacerdotal e procurava decidir esta vocação segundo a vontade de Deus.”

O seminário albergava pessoas de sete províncias de Angola, Luanda, Bengo, Lunda Norte, Kuanza Norte, Huila e Uíge. "Em cada dia procurava aprender os hábitos e costumes da província dos seus colegas”, recorda.  Durante a minha formação vocacional, Danilson era totalmente apaixonado pela liturgia, línguas, desporto e discussões filosóficas. "Nos meus tempos livres, dedicava-me a investigação sobre Psicologia, escrevia poesias, músicas e artigos de reflexão. Nas férias, procurava incentivar a realização de sonhos de vários jovens órfãos do meu bairro que estavam a deixar-se levar ao imediatismo.”

Este incentivo, era transmitido passar por via de conversas, visitas e de compra dos produtos vendidos pelos jovens.  Em 2020, por inspiração de seu formador Padre José Diogo Jerónimo "Zola” que "ouvia sem cessar os aflitos”, Danilson torna-se assistente emocional de muitos colegas da escola "Santa Maria Goretti” e inclusive dos seus catecúmenos; "partilhando ideias que tornassem mente mais apurada”.

Fruto das suas experiências enquanto assistente emocional, Danilson escreveu um livro com o titulo "Lágrimas sem fim”, ainda não publicado, no qual conta a sua história de vida e a de um assistido.

Em 2021, Danilson apresentou o seu trabalho de fim do curso com o tema "O comportamento desviado dos adolescentes: uma pesquisa feita no município de Cazengo, bairro Azul, em Ndalatando” com 18 valores; e no mesmo ano obteve o grau de Técnico Médio, curso propedêutico do Seminário, como um dos estudantes mais destacados da Escola Missionária Santa Maria Goretti, no quadro de honra 2020-2021.

O tema do seu trabalho de Fim de Curso incidiu sobre o do elevado índice de delinquência no seu bairro. "Influenciado pelos livros de Maria da Encarnação Pimenta, decidi apresentar a problemática diante dos meus professores, com vista à obtenção do grau de Técnico Médio.” Ainda no mesmo ano, decidiu não prosseguir a sua formação sacerdotal, pois já não se sentia chamado ao mistério sacerdotal. "Tendo conversado com a minha equipa formadora e o meu bispo, Dom Maurício Camuto, decidi prosseguir os meus estudos fora da realidade seminarística”, prossegue.

Em 2021-2022, Danilson ingressou na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto no curso de Psicologia, sentindo-se obrigado a interromper os estudos em função da delinquência que assolava o seu bairro, pois chegava muito tarde a casa "por razões pecuniárias”.

Em 2022-23 Danilson Viegas foi admitido pela segunda vez na Universidade Agostinho Neto. Todavia, no curso de Direito. "Embora fosse um curso muito diferente da minha formação do Ensino Médio, não me deparei com debilidades, pois a dedicação e a discussão académica sempre fizeram parte do meu perfil estudantil.”

Actualmente, Danilson está com 21 anos de idade, vive no Largo das Escolas   com os seus colegas-irmãos que o Seminário lhe deu. Frequenta o segundo ano do curso de Direito e é investigador-amador em matérias de Finanças Públicas e em Direito Civil com teor para o Direito de Personalidade e Personalidade Jurídica das Pessoas Físicas.

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