Política

Destacado o papel da educação e cultura no desenvolvimento de África

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, destacou, terça-feira, em Luanda, o papel que a educação e a cultura desempenham para a construção do desenvolvimento do continente africano.

19/06/2024  Última atualização 09H30
Adão de Almeida defendeu sistemas de educação e ensino com base sólida de diálogo e interacção © Fotografia por: Armando Costa | Edições Novembro

Falando em representação do Titular do Poder Executivo, João Lourenço, fez este pronunciamento na abertura da 2ª Reunião Regional das Comissões Nacionais Africanas para a UNESCO, que decorre de 18 a 21 deste mês, no Hotel Intercontinental.

O ministro de Estado disse que, por ocasião desta reunião, também será realizada a Consulta Regional das Comissões Nacionais Africanas sobre o Projecto de Programa e Orçamento de 2026 a 2029, por solicitação da Direcção-Geral da UNESCO, que é para Angola uma honra acolher o referido encontro.

Adão de Almeida sublinhou que as independências políticas puseram fim a uma das maiores aberrações da História da Humanidade, e deram aos africanos a possibilidade de serem povos livres. "Hoje, a nós cabe gerir o nosso próprio destino e a responsabilidade de desenvolver as nossas sociedades, transformando-as em sociedades livres, capazes de oferecer oportunidades a todos”, frisou.

O governante sustentou que o desiderato do desenvolvimento de África não será nunca atingido sem as condições de paz e de livre circulação de pessoas e bens, onde todos devem compreender que só com união, unidade de acção e concertação de ideias o continente pode ter êxitos.

"Num mundo como o de hoje, assaltado por disputas hegemónicas entre as grandes potências, em plena transformação digital, o investimento na educação é essencial para que os problemas de África sejam pensados pelos africanos, para que existam soluções africanas”, defendeu, acrescentando que soluções pensadas a partir de realidades e filosofias alheias, aproveitando-se da globalização, são apresentadas como soluções globais, abrindo espaço para a neocolonização.

Ladeado pela directora-geral adjunta para as Ciências Naturais da UNESCO, Lídia Brito, e a ministra da Educação e presidente da Comissão Nacional de Angola para a UNESCO, Luísa Grilo, o ministro de Estado Adão de Almeida argumentou, ainda, que só uma educação assente nos padrões culturais africanos pode evitar que chegue a esta situação de neocolonialismo.

Noutro sentido, defendeu a necessidade de assegurar que movimentos "pseudoculturais” impeçam a evolução e a modernização da educação e, em último caso, o próprio desenvolvimento multifacetado do continente. Exortou, também, os presentes no sentido de terem coragem de banir as práticas erradas que atrasam o desenvolvimento do continente.

"Hoje, mais do que nunca, é necessário que tais valores se manifestem sob a forma de cooperação regional para o desenvolvimento sustentável, cabendo, deste modo, aos nossos peritos reflectir, na circunstância deste fórum, a melhor forma de concretizar esta cooperação para que a educação e a cultura em África estejam ao serviço do desenvolvimento de África. É nesta perspectiva que a República de Angola aprovou uma nova visão de longo prazo que projecta o futuro do país até 2050, a qual privilegia a construção de uma sociedade que valoriza e potencia o seu capital humano, com ênfase na educação e na formação técnico-profissional no seio da juventude”, exprimiu.

Acrescentou que é por essa via que as sociedades africanas poderão desenvolver-se de forma cooperativa e integrada, "com paz e democracia consolidadas, com respeito pela nossa cultura, mas sem tabus culturais retrógrados”.

O governante referiu que os sistemas de educação e ensino dos países africanos devem ter uma base sólida de diálogo, interacção e cooperação, apesar do peso da história no desenho actual dos sistemas educacionais, sobretudo a ligação que se tem com os sistemas das antigas potências colonizadoras, onde se promove o intercâmbio intra-africano, no sentido de responder às necessidades próprias das sociedades e incentivar o desenvolvimento sustentável, como a mobilidade dos gestores, professores, investigadores e estudantes dos diferentes ramos e níveis do saber.

Recursos partilhados

Apesar das dificuldades de certos países, disse, os recursos devem ser partilhados e potenciados, no sentido de servirem de impulsionadores de instituições fortes, que respondam às necessidades socioeconómicas do continente, e proporcionem, também, um desenvolvimento da cultura da não violência e que se proponha um modelo económico mais competitivo, criativo e solidário, que passa pela consolidação de um ecossistema empresarial empenhado na inovação e orientado para a diversificação das economias africanas, marcadas historicamente pela exportação de matéria-prima.

Adão de Almeida concluiu que o encontro pode trazer acções concretas e exequíveis que suportem, técnica e materialmente, os desafios apontados nos pilares da Estratégia Operacional para a Prioridade África 2022-2029.

Evento representa um "marco significativo"

Para a embaixadora e delegada permanente de Angola junto da UNESCO, Ana Maria de Oliveira, o evento representa um "marco significativo" no esforço colectivo para promover a educação, a ciência e a cultura como vectores essenciais para o desenvolvimento sustentável da região.

Ana Maria de Oliveira fez saber que África tem enfrentado desafios severos, resultantes de conflitos internos nos seus Estados e religiões, que comprometem a concretização dos ideais delineados na Agenda 2063 da União Africana, a África do Creio, na Agenda 2030 das Nações Unidas sobre os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), bem como o Programa Prioridade África.

O projecto da UNESCO define a estratégia operacional para a prioridade de África com o objectivo número o Campus África, para o reforço da Educação Superior em África.

O segundo objectivo, explica a História Geral de África, sua utilização e os caminhos, em que o continente se deve promover para que os seus cidadãos conheçam e dêem valor aos pais das independências.

Ana Maria de Oliveira acrescentou que também constam dos objectivos o desenvolvimento de África como catalisador para alcançar a Agenda 2063 e a Agenda 2030, ao passo que o terceiro ponto da Prioridade África, no programa da UNESCO, é a promoção do património cultural e o desenvolvimento de capacidades.

O quarto ponto aborda o aproveitamento das novas tecnologias para o desenvolvimento sustentável de África, especialmente a aplicação das recomendações da ética para a inteligência artificial. No quinto ponto, trata-se do reforço da ciência aberta, o desenvolvimento de capacidades em ciências básicas e aplicadas à investigação científica, com vista a fomentar a inovação e o desenvolvimento.

A embaixadora e antiga ministra da Cultura esclareceu que a reunião é um fórum de reflexão, debate e partilha de experiências e boas-práticas, rumo ao desenvolvimento do continente.

Os objectivos da iniciativa Transforming Education das Nações Unidas, aclarou, servem como guia para os desafios que são colocados, visando a revitalização da educação para que possa responder às necessidades e desafios do século XXI, onde África precisa de assegurar as políticas de aprendizagem ao longo do tempo.

Consolidação dos objectivos

A ministra da Educação, Luísa Grilo, na qualidade de presidente da Comissão Nacional de Angola, afirmou que a 2ª Reunião Regional, além de constituir uma oportunidade para revisitar e fazer as iniciativas globais da UNESCO, é uma "circunstância privilegiada" para a consolidação dos objectivos comuns do continente africano, relativamente à Educação, Ciência e à Cultura.

Para o cumprimento da missão da UNESCO, a responsável frisou que os resultados do encontro das Comissões Nacionais, na capital do país, poderão melhorar a capacidade deste órgão das Nações Unidas responsável pela Educação, Ciência e Cultura.

As Comissões Nacionais Africanas para a UNESCO, referiu, constituem um ponto de convergência entre a organização internacional e os diversos departamentos ministeriais, serviços e instituições que trabalham de forma destemida para o alcance do desenvolvimento de África, garantindo a paz, através da cooperação intelectual entre as nações.

"África tem apenas um caminho para ascender como um continente verdadeiramente desenvolvido e sem assimetrias de qualquer ordem e possa trabalhar em pé de igualdade com outras geografias na promoção da paz, da justiça e desenvolvimento do seu capital humano", disse Luísa Grilo, destacando que este caminho tem a ver com o investimento no sector da Educação, Ciência, Tecnologia, Engenharia, Matemática, Cultura e nas Tecnologias de Informação e Comunicação.

De acordo com a governante, as constantes mudanças no mundo, derivadas das crises económicas, sociais e dos conflitos geopolíticos, perigam a paz e a sobrevivência do homem, reservando à Educação o papel de construtora dos altos desígnios da humanidade, construção de pontes de diálogo e cultura da paz, dando oportunidade de crescimento intelectual a todos.

UNESCO reconhece papel do país na promoção da paz

Ao intervir na actividade, a directora-geral adjunta para as Ciências Naturais da UNESCO, Lídia Brito, mencionou que a instituição mundial reconhece o papel que o país tem desempenhado na promoção da educação e da cultura de paz no continente. "Falar de paz em Angola tem um significado muito especial", acrescentou.

Segundo Lídia Brito, a organização que representa tem orgulho em estar associada, há vários anos, a Angola e à União Africana (UA) na organização da Bienal de Luanda, onde as principais recomendações sublinham a necessidade de fazer maiores avanços na promoção de uma cultura de paz em África e por todo o mundo.

Lídia Brito manifestou, igualmente, a preocupação da UNESCO relativamente ao elevado índice de crianças fora do sistema de ensino em África, em que correspondem 40 por cento da população infantil sem acesso à escola no mundo.

"A decisão da União Africana, que mais uma vez saudamos, de fazer de 2024 o ano da educação, oferece-nos a oportunidade de redobrar esforços para alcançar uma educação de qualidade para todos", aludiu.

"É um direito humano para todos, um bem comum universal ao qual cada africano tem direito", declarou, sublinhando que a UNESCO dá uma atenção especial a este tema, em estreita colaboração com a União Africana, no âmbito da Estratégia Operacional para a Prioridade África 2022-2029.

Carlos Bastos e Pedro Ivo

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