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Dia Internacional do Trabalhador: A história de um clube fundado em Benguela por sindicalistas

Fundado a 1 de Abril de 1981, o clube resultou da fusão do Estrela Vermelha de Benguela e do Grupo Desportivo 1º de Maio, afecto, na altura, à África Têxtil.

01/05/2024  Última atualização 09H00
Victor Manuel Morais Ferreira Valente, um dos membros co-fundador do 1º de Maio de Benguela © Fotografia por: DR

Nos seus anos de ouro, o clube ganhou o Campeonato Nacional da I Divisão, vulgo Girabola. Ganhou, também, três Taças de Angola, em 1982, 1983 e 2007, e uma Supertaça, em 1985. O seu estádio chama-se Edeltrude Palhares da Costa.

O clube disputa, este ano, a Segunda Divisão Nacional (Segundona).

 A iniciativa dos trabalhadores do clube da rua Domingos onde partiu a fusão de dois clubes: Estrela Vermelha de Benguela e Grupo Desportivo 1º de Maio, que depois passou a ser chamado África Têxtil 1º de Maio de Benguela, devido à aliança com a fábrica local do mesmo nome.

Pouco tempo depois, mudou para o nome actual, tendo já nessa altura as modalidades de futebol, andebol, basquetebol, xadrez, judo e Karaté.

 

Fundação

Victor Manuel Morais Ferreira Valente, membro fundador do clube, lembrou da figura emblemática de Rui Araújo, que considerou ter sido importante no surgimento do clube. Segundo ele, falar do 1º de Maio passa necessariamente por falar de Rui Araújo.

Com nostalgia, disse que, tecnicamente, o clube foi criado por um grupo de pessoas que estavam a favor da institucionalização do 1º de Maio, Dia Internacional do Trabalhador.

Nessa altura, prosseguiu, o clube estava inserido numa área restrita da cidade de Benguela, na zona onde está actualmente o famoso prédio amarelo. "Não consigo dizer se aconteceu no primeiro dia do mês de Maio, mas, conseguiram o clube com o nome 1º de Maio, porque tinham a promessa de que a nível da UNTA iriam ter o apoio, na altura, do seu presidente, na altura Pascoal Luvualo”, esclareceu, acrescentando que conseguiu-se o apoio da África Têxtil, encabeçada, na altura, por Fonseca Santos.

O clube não tinha sede própria e passou a funcionar na casa de Juca Gregório. "Foi ali onde resolveram ir ter comigo, na qualidade de presidente do Estrela Clube 1º de Maio, para tentar fazer uma fusão. O 1º de Maio nasce a partir do dia 1 de Abril de 1981, como clube, depois de fazer a fusão com o Estrela Vermelha de Benguela.

O Estrela Vermelha de Benguela, indicou, vem do Sport Benguela e Benfica. Como não podia haver nomes antigos nos clubes, "nós, como presidentes daquele clube (Estrela Vermelha de Benguela e Benfica), tivemos que mudar para Estrela Vermelha de Benguela. O nome foi aprovado pelo Ministério e estava a funcionar com outras modalidades desportivas amadoras, tais como hóquei em patins, andebol e voleibol”, explicou.

"Sentamos à mesa, na direcção do 1º de Maio, com a proposta feita pela África Têxtil. Houve esta fusão, daí ter nascido o Estrela Clube 1º de Maio”, recordou.

Segundo o antigo dirigente, com a fusão, o clube passou a chamar-se também África Têxtil 1º de Maio, por causa do patrocínio, mas o logótipo foi sempre o mesmo. "Quer o ligado à África Têxtil como ao 1º de Maio e as cores sempre se mantiveram, já que o vermelho esteve sempre ligado aos dois clubes”, sublinhou.

O primeiro presidente eleito foi Fonseca Santos,  e Lourenço Rei, como vice-presidente.

Victor Manuel Morais Ferreira Valente foi eleito vice-presidente para a área amadora e Rui Araújo (já falecido), para a área de futebol.

Naquela altura, havia dois responsáveis. Um que respondia pelo futebol amador e outro pelo profissional.

Com essa organização, o clube começou a ter apoios e melhorou a sua capacidade, tanto mais que, nos anos de ouro, o clube ganhou o Girabola e a Taça de Angola, além da Supertaça.

Foi nessa altura, lembra, em que o clube teve o seu auge e contratou jogadores de alto nível no país e no antigo Zaíre(actual República Democrática do Congo).

"Tivemos grandes craques no futebol, que deram o seu máximo pelo 1º de Maio. Mas, também, tivemos grandes posições a nível do desporto amador, já que fomos campeões em voleibol feminino. Tivemos também conquistas no andebol, com presenças em vários campeonatos. Tivemos, também, o hóquei em patins, que era também o forte, mas, devido aos custos e a manutenção da modalidade, acabou por desaparecer”, explicou.

O clube teve, também o boxe, judo, além do grupo de ginástica.

Segundo a fonte, o 1º de Maio foi o primeiro clube angolano a atingir a alcançar a final da CAF, em 1994. O jogo foi realizado em Luanda, porque a CAF impunha exigia a reabilitação da quadra de jogo, com a colocação do relvado.

 

Estádio municipal

O Estádio Municipal foi todo reparado pela África Têxtil, a favor do 1º de Maio, embora seja um património municipal, porque sempre pertenceu ao Ministério dos Desportos, mas foi entregue ao 1º de Maio, para a sua manutenção e gestão.

O ex-dirigente recordou a história do jogo entre o 1º de Maio de Benguela e o Clube Asante Kotoko de Kumasi do Ghana, onde o clube angolano ganhou por 3-0, considerando ser uma das vitórias mais importantes da equipa nas competições africanas.

Os novos órgãos sociais não conseguiram manter o dinamismo do passado e o clube baixou um pouco, apesar de conseguir o apuramento para o provincial e disputar a segunda divisão.

O antigo dirigente referiu que mesmo depois da África Têxtil ter fechado, ainda se conseguia ter algumas coisas de valor, embora aquela fosse a principal patrocinadora do 1º de Maio.

 "Há cerca de um ano, tentamos, com Rui Araújo, sentar com alguns sócios para dinamizar outra vez para o clube, porém, com o seu falecimento, não tive mais essa coragem de ir para lá”, reconheceu, defendendo que nesse momento é preciso que se siga os trâmites daquilo que fez com que o clube existisse.

Arão Martins e Hermínio Fontes | Benguela

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