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Dia Internacional do Trabalhador: Uma banda "Primeiro de Maio"para recrear o trabalhador

Gaspar Micolo

Não só de pão vive o homem, ou melhor... o trabalhador. Foi a pensar nisso que o director do Departamento da Cultura, Desporto e Recreação da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (UNTA), a maior e mais importante entidade de trabalhadores do país, decide criar o conjunto musical denominado Instrumental Primeiro de Maio, a fim de recrear os trabalhadores nos seus locais de trabalho.

01/05/2024  Última atualização 08H51
© Fotografia por: DR

Sabu Diniz, o então responsável pela iniciativa, conta assim, em 1981, com vários nomes já firmados da música angolana para formar o conjunto: nas guitarras estavam Teddy Nsingi, Botto Trindade e Mogue; nos sopros nomes como Franco, Sassa, Domain, Conceição e André integram o grupo, enquanto na percussão, Dinho Silva e Massano Júnior assumem o controlo. As teclas são comandadas por Teles. Mauro do Nascimento, Cirineu Bastos, Robertinho, Roque Nyanga, Dina Santos, Clara Monteiro, Garcia, Elvis e Tabonta despontam na voz, enquanto Tinapá assume a trova.

Teddy Nsingui, um dos mais conceituados guitarristas angolanos, que ajudou a fundar o "Instrumental Primeiro de Maio”, conta que a formação deu uma forte contribuição à divulgação e à preservação da música popular urbana angolana, não só pela junção dos grandes artistas, mas também pela criação de condições. É que, com a dificuldade dos jovens em conseguir um emprego, muitos encontram conforto no agrupamento devido ao salário que era então garantido pela UNTA.

"Enquanto em finais dos anos 1960 e início dos anos 1970, os conjuntos autogeriam-se ou eram organizados por managers independentes, depois da Independência, as instituições estatais, em particular, assumiram esta função, colocando os conjuntos musicais à disposição de uma série de instituições do Estado. Foi esse o caso, por exemplo, dos conjuntos Primeiro de Maio, associada à UNTA; Semba Tropical, associada à Secretaria de Estado da Cultura, e os Merengues, apoiados pela JMPLA", escreve a historiadora e investigadora americana Marissa Moormam, no seu livro "Os Sons da Nação", em que aborda a história política e social da música urbana de Luanda (1945-2002). Refere ainda que "os conjuntos musicais actuavam em centros recreativos, festivais de música e celebrações institucionais, pois a música era produzida tendo em mente a consolidação da Independência e a atracção da juventude ao projecto de construção da Nação".

No início dos anos 1980, o Instrumental Primeiro de Maio lança um LP, o único do conjunto, recheado de semba e afro-bolero, numa edição do então Instituto Nacional do Livro e do Disco (INALD). Faixas como Tentei Tudo (Toy Salgueiro), Anamy (Massano Jr.), Monami (Clara Monteiro), Monadia (Elvis), Ngongo Jiami (Elvis) e Curtição (Dino Kapakupaku) foram levadas a espectáculos memoráveis do grupo, tanto nos centros recreativos como em festivais de música.

Para Teddy Nsingui, foram momentos de muita amizade e alegria, pelo que ainda se lembra da primeira apresentação no Clube Náutico, em 1981. "A grande contribuição do Instrumental Primeiro de Maio é a diversidade no seu repertório, não só para agradar o público ouvinte, mas também para desenvolver as capacidades individuais", assinalou.


O reencontro de velhos amigos do "Primeiro de Maio”

Embora o grupo já se tenha desfeito, na sequência do redimensionamento salarial da UNTA, sindicato a que estava vinculado o Instrumental Primeiro de Maio, em 2011 realizou-se um espectáculo para celebrar a formação.

Artistas de várias gerações da banda homenagearam Massano Júnior, numa tarde de domingo, em Luanda, no Complexo Turístico Weza Paradise. O espectáculo, em que participaram Clara Monteiro, Dina Santos, Gigi, Zecax, Toy Salgueiro, Mister Quim, Tabonta e Robertinho, recordou e exaltou o contributo de Massano Júnior e do conjunto Instrumental Primeiro de Maio na divulgação e preservação da música popular urbana angolana. Os guitarristas Teddy Nsingui, Boto Trindade, Ondolai, Mogui e Dulce Trindade, o baterista Juca, o percussionista Raul Tulinga e o saxofonista Franco fizeram a festa da saudade, interpretando temas que marcaram várias épocas da banda. Foi um momento de reencontro de velhos amigos, depois de cerca de 25 anos de ausência.

Na altura, em declarações ao Jornal de Angola, Massano Júnior, considerado o "rei dos tambores” e um dos pioneiros da formação do conjunto, disse que foi uma grande honra fazer parte do Instrumental Primeiro de Maio e que, no espectáculo, interpretou, entre outros temas, "Kizua”, "Menina de Hoje” e "Sunga Sunga”.

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