Sociedade

Direcção Nacional de Saúde Pública diagnosticou mais de 377 mil casos

Alexa Sonhi

Jornalista

O país diagnosticou, até 2022, um total de 377.173 novos casos de hipertensão arterial, dos quais 1.368 terminaram em óbito.

17/05/2024  Última atualização 13H30
Devido aos inúmeros casos de hipertensão, as unidades sanitárias têm promovido exames de rastreio gratuitos © Fotografia por: arsénio bravo | edições novembro

Os dados foram revelados pela coordenadora de Doenças Crónicas não Transmissiveis da Direcção Nacional de Saúde Pública, Suzana Trindade, em declarações ao Jornal de Angola.

O secretário-geral da Sociedade Angolana de Doenças Cardiovasculares (SADC), Dário Olaio, citou estudos feitos por unidades de saúde e por alguns cardiologistas que indicam que a taxa de prevalência da hipertensão no país é de 35 por cento.

Dário Olaio exemplificou que, se o país tem cerca de 30 milhões de habitantes, significa que três milhões e quatro centos mil pessoas em Angola são hipertensas, número que considera elevadíssimo, como se vê no atendimento diário aos pacientes.

O também chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Josina Machel frisou que, dos cerca de 60 pacientes atendidos semanalmente no serviço, 90 por cento são casos de hipertensos.

Em relação às mortes ocorridas no Hospital Josina Machel, Dário Olaio disse que a hipertensão arterial como tal não mata. O que mata, disse, são as complicações causadas por esta doença silenciosa, sendo a mais comum os AVC isquémico e hemorrágico, aliás, a principal causa de mortalidade a nível do hospital.

Segundo Dário Olaio, em alusão à data que se assinala hoje, o Hospital Josina Machel realizou, no sábado passado, uma campanha de rastreio da hipertensão arterial na da Praia do Bispo, com o diagnóstico de 62 novos casos, e no Zango I, com o registo de 103 hipertensos.

Todos estes pacientes, acentuou, foram referenciados no hospital Josina Machel para serem seguidos em consulta externa.

Hospital da Prenda

Tal como no Hospital Josina Machel, onde os AVC causados pela hipertensão arterial constituem a principal causa de morte. No Hospital do Prenda a situação não é muito diferente.

Só no primeiro trimestre deste ano, foram diagnosticados 1.338 casos de hipertensão, dos quais, 1.320 são de causas primárias e 18 secundárias, de acordo com o chefe do Banco de Urgência da referida unidade, Adilson Sueco.

Médico especialista em Medicina Interna, Adilson Sueco realçou que a unidade tem registo de mortes causadas por complicações de hipertensão como AVC, com o hemorrágico a liderar a lista.

Segundo o médico, durante o dia, nas urgências podem receber 13 a 15 casos de hipertensão com complicações graves, porque muitos destes pacientes têm dificuldades em cumprir com a mediação, por falta de dinheiro. Como consequências, são as constantes mortes que se registam nos Bancos de Urgência dos hospitais.

Subvenção da medicação

O secretário-geral da Sociedade Angolana de Doenças Cardiovasculares (SADC), Dário Olaio, informou que, em todas as reuniões entre os cardiologistas e o Ministério da Saúde, é apresentada a proposta de subvenção total ou parcial  da medicação para o controlo da hipertensão.

"Mas até agora não houve uma resposta positiva neste sentido. Continuamos a acreditar que passos estejam a ser dados neste sentido por parte do Ministério da Saúde. Porque, tendo em conta os preços altos desta medicação, e com as dificuldades financeiras das famílias, muitos preferem comprar um prato de comida do que a medicação”, lamentou.

Definição de  Hipertensão arterial

A hipertensão é uma doença crónica não transmissível, caracterizada pelo aumento dos níveis tensionais iguais ou superiores a 140, a sistólica e a diastólica iguais ou superiores a 90 milímetro de (140 por 90 mmHg), popularmente referenciada como 14/9 mmHg.

Dário Olaio esclareceu que o primeiro número refere-se à pressão máxima, que corresponde à contracção do coração, e o segundo, à pressão do movimento de diástole, quando o coração relaxa.

A pressão arterial é medida através de aparelhos, como o tensímetro ou esfigmomanómetro e é expressa em duas medidas sistólicas e a diastólica. A sistólica refere-se à pressão máxima e a diastólica à pressão mínima.

Na maior parte dos adultos, a pressão arterial normal em repouso (sistólica) é de 120 a 140 milímetros de mercúrio (mmHg) e a diastólica de 75 a 85 mmHg. E, também, em muitos adultos, considera-se que a pessoa tem hipertensão arterial quando, mesmo em repouso, os valores consistentemente são iguais ou superiores a 140/90 mmHg.

Os valores de 9 para baixo consideram-se hipotensão. O médico esclareceu que em crianças e em idosos, os valores de referência são diferentes.

Doença sem sintomas

Segundo Dário Olaio, a hipertensão é uma doença que na maior parte das vezes não tem sintomas, e isso cria alguma preocupação adicional, porque as pessoas, quando não têm sintomas, não se preocupam em ir ao hospital.

O cardiologista explicou que a hipertensão pode  ser classificada como primária ou secundária, sendo que cerca de 95 por cento dos casos da doença são primários, porque têm causa em factores de origem genética  e com o estilo de vida.

Entre os factores que aumentam o risco de hipertensão primária, estão o excesso de consumo de sal, excesso de peso, tabagismo e consumo de álcool, bem como a predisposição genética por ter nascido de pai ou mãe hipertensos.

Em relação às causas secundárias, Dário Olaio disse que têm origem em causas identificáveis, como  estenose da artéria renal, doenças endócrinas, algumas congénitas, etc.

A hipertensão primária não tem cura. Apenas se pode controlar com o uso de medicação, mudança de hábitos, estilo de vida, como a perda de peso, a diminuição do consumo de sal, a prática de exercícios físicos e a manutenção de uma dieta saudável.

Sintomas e medicamentos

O especialista em Cardiologia disse que a hipertensão arterial é uma doença silenciosa, daí os sintomas, muitas vezes, serem notados quando os níveis tensionais sobem e nestes casos podem ocorrer dores de cabeça, dor no peito, tonturas, zumbido no ouvido, fraqueza, visão embaçada, sangramento nasal e muitas vezes cegueira.

Daí ser importante que as pessoas, ao notarem estes sintomas, procurem ajuda médica para serem medicadas e seguirem à risca o tratamento.

Doença é mais comum na raça negra

Segundo Dário Olaio, estudos indicam que a hipertensão arterial é mais comum e mais grave nas pessoas de raça negra, porque o gene responsável pela melanina, substância que dá cor à pele, provoca retenção de sal e água. Quanto mais escura for a pele, mais retenção de sódio e água fará e, com isso, há mais chances de se desenvolver a hipertensão arterial.

Além disso, quanto mais altas forem as temperaturas ambiente, com pouca disponibilidade de sal, maior será a capacidade de retenção de sal e água. Em geral, esclareceu, tudo passa pela maior dificuldade em manejar e transportar o sal no organismo, daí que a raça negra seja mais propensa em desenvolver a doença.

Uma das principais causas de morte e morbilidade no mundo

A hipertensão arterial ou simplesmente pressão alta faz parte das doenças cardiovasculares, que constituem uma das principais causas de morte e morbilidade a nível do mundo.

A doença é, também, o principal factor de risco para desenvolver os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), quer sejam isquémicos como hemorrágicos, ataque cardíaco, lesão das artérias, aneurismas, infarte agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crónica, lesão da retina, demência e, algumas vezes, a impotência sexual.

Dados do relatório de 2023 da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que uma em cada três pessoas no mundo sofre de pressão alta, enquanto 80 por cento destes hipertensos não fazem a medicação de forma regrada.

No entanto, se os países conseguirem expandir a cobertura de medicamentos, cerca de 76 milhões de mortes poderão ser evitadas entre 2024 e 2050.

Devido aos efeitos gravíssimos da doença, muitas vezes irreversíveis, a OMS recomenda a todos os países a implementarem medidas preventivas e traçarem estratégias que visam uma melhor assistência primária, para se reduzir o impacto negativo da doença no seio da população.

Embora a doença cause tantas complicações à saúde, de acordo com a OMS, é possível controlar e prevenir esta patologia, por meio da adopção de bons hábitos e um estilo de vida mais saudável, envolvendo a prática de exercícios físicos.



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