Especial

Discurso “Eu tenho um sonho” completa 61 anos

Fonseca Bengui

Jornalista

Martin Luther King Jr., activista pelos direitos civis e símbolo da luta contra a discriminação racial nos Estados Unidos, proferiu o seu mais famoso discurso “Eu tenho um sonho”(I have a dream) faz hoje 61 anos. Foi no dia 28 de Agosto de 1963, nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, perante mais de 250 mil pessoas que participaram na Marcha por Trabalho e Liberdade, na capital norte-americana.

28/08/2024  Última atualização 09H50
Activista dos direitos cívicos discursou perante mais de 250 mil pessoas no final da Marcha por Trabalho e Liberdade © Fotografia por: Direitos Reservados

A América vivia então sob um ambiente de intimidação aos negros, prisões em massa, relações de trabalho análogas à escravidão (embora a prática estivesse abolida desde 1865), com diversas leis estaduais discriminatórias, que proibiam aos negros frequentar as mesmas escolas, usar os mesmos autocarros e até os mesmos bebedouros e casas de banho que os brancos.

A marcha foi convocada por organizações religiosas, sindicatos e movimentos populares pelos direitos civis da população negra dos Estados Unidos. O pretexto para esta primeira marcha nacional foi a comemoração dos 100 anos da Proclamação da Emancipação, que aboliu a escravatura, em Janeiro de 1863.

Aliás, Martin Luther King, que representava a Conferência da Liderança Cristã do Sul (SCLC) começa o seu discurso recordando precisamente como, 100 anos depois dessa proclamação, o negro ainda não era livre. Continuou o discurso com críticas contra o sistema, mostrando as contradições entre a realidade vivida pelos negros e os fundamentos em que se baseava a sociedade americana. Exigiu o fim do racismo e da discriminação, apoiando-se na Declaração de Independência e na Constituição dos Estados Unidos da América.

 

Mestre da oratória

No livro "Martin Luther King Jr. Revisitado - A chama da reconciliação”, editado pela Quitanda, o autor brasileiro David Lago refere que "King não limitou o seu discurso com exigências menores ou imediatas, mas com uma visão que incluiu passado, presente e futuro”.

O mesmo autor nota que, Martin Luther King, pastor desde os 19 anos, era um mestre da oratória e utilizou dispositivos como a anáfora (a repetição de uma frase que auxilia na ênfase de uma ideia). A mais famosa anáfora utilizada foi "I have a dream” (Eu tenho um sonho), já no final do discurso, depois de ser lembrado pela cantora gospel Mahalia Jackson, que estava na plateia.

Com efeito, esta última parte do discurso, que o tornaria o histórico, foi pronunciado como se se tratasse de uma declamação. Davi Lago observa, a propósito, que o pastor baptista já havia utilizado o motivo do "sonho” em discursos anteriores e o refrão "Eu tenho um sonho” pelo menos em duas ocasiões. "Digo a vocês hoje, meus amigos, que, apesar das dificuldades de hoje e de amanhã, ainda tenho um sonho.

É um sonho profundamente enraizado no sonho americano”, começou por dizer. "Tenho um sonho de que um dia esta nação se erguerá e corresponderá em realidade ao verdadeiro significado da sua crença: ‘Consideramos essas verdades manifestas: "que todos os homens são criados iguais’.

"Tenho um sonho de que um dia, nas colinas vermelhas da Geórgia, os filhos de ex-escravos e os filhos de ex-donos de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da irmandade”.

"Tenho um sonho de que os meus quatro filhos viverão um dia numa nação onde não serão julgados pela cor da sua pele, mas pelo teor do seu carácter”.

Hoje, o discurso faz parte das lições escolares, é tema de universidades, documentários, foi citado pelo ex-Presidente dos EUA Barack Obama e tem sido usado em músicas ao longo das décadas.

 

Reconhecimento

Defensor da resistência não violenta, a luta de Martin Luther King pela igualdade dos Direitos Civis entre os norte-americanos teve eco nacional e além-fronteiras. Como reconhecimento pela sua liderança nessa luta, foi eleito "O Homem do Ano” de 1963 pela Revista Time. No ano seguinte, recebeu o Prémio Nobel da Paz, quando tinha apenas 35 anos de idade, sendo o mais novo a merecer o galardão até então.

A Marcha de Washington colocou mais pressão sobre a Administração do então Presidente John F. Kennedy para que as questões dos direitos civis fossem levadas até ao Congresso. Devido ao assassinato do Presidente Kennedy, no mesmo ano, foi que o seu sucessor, Lyndon B. Johnson, que fez aprovar o Civil Rights Act of 1964 (Lei de Direitos Civis, de 1964) e o Voting Rights Act (Lei de Direitos do Voto, de 1965).

Filho e neto de pastores baptistas, Martin Luther King Jr nasceu na Geórgia, em 1929, um dos estados americanos mais afectados pela exclusão dos negros.

Martin Luther King foi assassinado a 4 de Abril de 1968, quando se encontrava na varanda de um hotel, em Memphis, Tennessee, onde estava para apoiar a greve dos trabalhadores dos serviços de saneamento. Foi atingido no queixo por um franco atirador. King foi declarado morto logo depois de chegar a um hospital local. Tinha apenas 39 anos de idade.

A data do seu nascimento é feriado nacional nos Estados Unidos, comemorado desde 1986, sendo assinalado na terceira segunda-feira de Janeiro de cada ano. Além disso, diversos monumentos foram erguidos em várias cidades americanas em sua homenagem e ruas foram baptizadas com o seu nome. Em Luanda, existe um largo com o seu nome, defronte à rádio LAC – Luanda Antena Comercial.


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