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Enviado da ONU desiste da pacificação da Líbia

O enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Líbia, Abdoulaye Bathily, demitiu-se, ontem, após apresentar o quadro da situação geral, num discurso dirigido ao Conselho de Segurança, no qual alertou para uma "luta renovada" e alimentada por actores internos e externos.

18/04/2024  Última atualização 12H55
Enviado Bathily afirma que líderes líbios estão mais interessados em manter os status © Fotografia por: DR

"Surgiram dinâmicas internacionais que estão a transformar a Líbia, novamente, num campo de batalha", afirmou Bathily, citado pela Reuters, numa conferência de imprensa, em Nova Iorque, em que confirmou que tinha entregado a sua carta de demissão ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, após 18 meses no cargo.

O diplomata senegalês acusou os dirigentes líbios de quererem manter o 'status quo' e de estarem "confortáveis" na posição que adquiriram nesta década de transição, desde o derrube de Muammar Kadhafi, em 2011. "Lamento muito, porque o povo líbio merece uma liderança melhor", afirmou.

O então enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Líbia, Abdoulaye Bathily, alertou que "todos os conflitos na região têm hoje um impacto na Líbia: a crise na Ucrânia, a situação em Gaza, a desintegração do Sudão e a situação actual no Sahel, estão todos interligados e Trípoli está a perder soberania".

Na sua opinião, os interesses dos actores externos e internos "enfraqueceram os esforços da ONU para promover a estabilidade política naquele país do Norte de África. O representante internacional garantiu que a opinião pública, bem como os partidos políticos líbios, a sociedade civil e o setor privado "aguardam ansiosamente o fim da crise". Bathily disse que a Líbia enfrenta, agora, mais insegurança, e os seus cidadãos estão mais pobres, apesar de o país ser um dos mais ricos da região”. "A Líbia está a cair, cada vez mais, no caos", concluiu.

 Esforços para a realização de eleições fracassaram

Em abordagens feitas em Novembro passado, o enviado das Nações Unidas para a Líbia, Abdulaye Bathily, dava conta de que tinha solicitado das facções rivais representantes para uma reunião destinada a alcançar um acordo sobre as Eleições Gerais, numa altura em que os planos para a sua realização já se arrastavam há anos.

Tratou-se, na altura, do último apelo para reunir o Exército Nacional Líbio, liderado pelo Marechal Khalifa Haftar, e o Governo de Unidade Nacional do Primeiro-Ministro, Abdulhamid al-Dbeibeh, apoiado pela ONU, com sede em Trípoli.

Registaram-se, nessa matéria, poucos progressos na aproximação das facções desde que foi alcançado um cessar-fogo em 2020. Os esforços eleitorais vacilam, e alguns analistas concentram-se em programas que levem os membros dos grupos armados a depor as armas e a reintegrar-se na sociedade civil. Referem que é preciso afirmar o processo de desmobilização, desarmamento e reintegração (DDR), que também procura apoiar os antigos combatentes, por vezes, reintegrando-os na vida civil. Estes esforços na Líbia têm estado, na sua maioria, inactivos desde 2015.

 "O DDR eficaz é uma pedra angular para o avanço da paz e da estabilidade económica que é essencial para o processo de paz,” afirmou o vice-presidente do Centro para o Médio Oriente e Norte de África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos (USIP), Mona Yacoubian, durante um debate em Dezembro do ano passado.

O debate centrou-se numa análise efectuada por  Tim Eaton, investigador sénior do Programa para o Médio Oriente e Norte de África, na Chatham House. Compreender as complexidades locais é fundamental para implementar um processo de DDR eficaz, argumentou Eaton, que recentemente produziu um trabalho de investigação intitulado "Security actors in Misrata, Zawiya and Zintan (Actores de segurança em Misrata, Zawiya e Zintan).”

No entanto, todos os grupos armados das três cidades lutaram contra o regime de Muammar Kadhafi, em 2011, mas em lados diferentes durante os conflitos de 2014 e a guerra por Trípoli, que terminou em 2020. 

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