Cultura

Grupo de dança “Katyavala” recupera e preserva os valores tradicionais

Estácio Camassete | Huambo

Jornalista

As mulheres do grupo tradicional Katyavala do município do Bailundo dedicam- se à dança e à composição de novas canções do folclore da região do Planalto Central, tendo como principal missão o resgate dos valores culturais e a preservação das tradições.

12/05/2024  Última atualização 07H34
Mulheres assumiram os batuques e deixaram de pedir favores aos homens para o efeito © Fotografia por: Joaquim Armando| Edições Novembro

O grupo, composto por cerca de cem mulheres, constitui o ponto mais alto da valorização da dança e da música tradicional na região, por ser o único que conquistou o prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria da dança, em 2014, é um dos poucos que interpreta com perfeição os estilos de épocas anteriores.

A performance e a longevidade do grupo devem ser motivo de estudo. Há 41 anos, elas estão na vanguarda da preservação de danças milenares, como o onhatcha, okondonda, otchisosi, sawaya, olundongo, katita e elisemba, que têm como objectivo principal preservar os traços tradicionais de "Mbalundu”, o seu simbolismo e rituais.

O grupo baptizado com nome do fundador do Reino do Bailundo, explora o batuque, o mussa, os olossangus ataviados nas pernas e o sopro do apito, para ordenarem a cadência da dança, no sentido de oferecer um espectáculo perfeito aos admiradores das danças típicas locais.

Durante as quatro décadas de existência, o grupo continua a espalhar o perfume das danças e a musicalidade tradicional. O colectivo de dança mais antigo do Huambo, foi criado no município do Bailundo em 1983, na altura congregando 30 membros, entre vocalistas e dançarinas, trazia o nome, isto até 1989, de grupo "Deolinda Rodrigues”.

De 1989 a 2000, passou a ser designado por "Grupo de Assalto”. A partir de 18 de Maio de 2000, passou a ser chamado por Katyavala, em homenagem ao fundador da Mbala Mbalundu, o soberano Katyavala Bwila, no século XVI.

As senhoras continuaram a desenvolver as actividades e conquistaram o seu espaço a nível da província e no país, tornando-se, um dos mais sonantes conjuntos na música e dança folclórica.

Segundo Mavilde de Assunção Alves, responsável pelo grupo, em 41 anos de existência, elas atingiram a maturidade e conhecimento profissional.

"Precisamos continuar a fazer o trabalho de recolha e divulgação dos nossos costumes como forma de deixar um legado positivo às novas gerações.

Contamos com os apoios da Ombala Mbalundu, da administração municipal do Bailundo e do governo provincial do Huambo, para garantir a continuidade do projecto na valorização e preservação da cultura dos povos”, disse.

Divergências afastaram os homens do Katyavala. ,Antes, em fase de expansão, havia no conjunto a participação masculina, sobretudo, no manuseio dos instrumentos musicais. Porém, explica Mavilde de Assunção Alves, a divergência, sobretudo de pagamento, constituiu um dos entraves para a manutenção dos homens no grupo. "Alegavam um pagamento imediato durante as sessões de ensaios e por vezes manifestavam pouca disponibilidade.”

Cansadas de pedir favores aos "machos” quando convocados para tocar os batuques, mussas e olosango, as senhoras tomaram a decisão em afasta-los.

Com esta medida, eles foram obrigadas aprender e a aperfeiçoar o manuseamento dos instrumentos musicais, em diferentes ritmos.

O surgimento do colectivo de dança tradicional, esteve na base da animação das cerimónias tradicionais levadas a cabo na Ombala Mbalundo, passando a ser uma das atracções do soberano.

Na edição do Carnaval de 2010, o tradicional Katyavala conquistou o primeiro título, sucesso que se repetiu nos anos de 2011,2012, 2013, 2017, 2019, 2023, e na edição de 2024.

Em Fevereiro de 2014, foram homenageadas pelo Ministério da Cultura, pelo seu contributo no resgate dos valores tradicionais da região, e no mesmo ano ganhou o Prémio Nacional de Cultura e Artes, na categoria de Dança.

 
Rejuvenescimento

Para garantir o rejuvenescimento do grupo, a responsável assegurou que está criado um subgrupo da classe infantil, composto por 40 crianças e adolescentes, chamado de Elangalagongo, que vai assumir no futuro as actividades culturais exercidas pelas mais velhas.

Nos últimos tempos, esclareceu Mavilde de Assunção Alves, muitas senhoras atingiram a idade de se aposentar, uma vez que não irão conseguir dar sequência. A agremiação trabalha arduamente com o objectivo de resgatar os estilos de dança dos antepassados, para despertar nos jovens o gosto por esta prática. A responsável espera que as novas gerações possam aprender como compor uma música, sem fugir a linha tradicional, uma vez que cada momento cultural exige o seu canto e a dança.

 

A paixão pela Dança

As dança espelham os contextos. Nela, as mulheres manifestam sentimentos de melancolias, alegrias, pedido de bênção aos ancestrais para chover e almejar uma boa colheita, bem como agradecem pela saúde dos familiares e das integrantes do grupo.

Mavildes Alves revelou que, muitas vezes, são consultadas por outros grupos de dança e cantores de diferentes pontos do país, porque querem beber das suas experiências. Essa atitude, segundo ela, alimenta a certeza de que estão a fazer um trabalho positivo de passagem de testemunho sobre a nossa cultura, a nossa tradição, os hábitos e costumes dos nossos antepassados.

Gravação do primeiro disco

Mavilde de Assunção Alves disse que pretendem fazer a selecção dos melhores sucessos, para a gravação da primeira obra discográfica, já que era, desde, então, o desejo das fundadoras do conjunto e que ainda não foi materializado por falta dinheiro.

Para tal, adiantou, precisam trabalhar mais com a finalidade de se tornar em realidade esta ideia e na, gravar um DVD, para que sejam eternizadas e deixar um legado às futuras gerações das "mulheres batalhadoras".

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