Reportagem

Histórico da imprensa chinesa transmitido a jornalistas estrangeiros

Paulo Caculo |Pequim

Jornalista

O estabelecimento do exercício do jornalismo na China, em 1949, e a proliferação de órgãos de comunicação social, nos anos que se sucederam, contribuiram para a efectivação do processo democrático do país asiático, revelou, ontem, em Pequim, Zhong Xin, professora da Renmim Universidade da China.

06/05/2023  Última atualização 07H00
Estabelecimento do exercício do jornalismo na China © Fotografia por: DR
Ao dissertar na palestra sobre a "história da imprensa chinesa”, no âmbito da semana de celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, assinalado a 3 de Maio, a docente universitária esclareceu aos jornalistas estrangeiros que, apesar do surgimento das primeiras publicações terem surgido em 1917, foi a partir de 1950 que o jornalismo na China ganhou grande impulso.

Contribuiu para tal, explicou, a publicação de "vários jornais partidários” em quase todas as principais regiões administrativas, províncias, municípios, cidades e condados do país.

O jornal "Diário dos Trabalhadores", lançado em 15 de Julho de 1949, em Pequim, tornou-se no oficial da Federação Chinesa de Sindicatos, tendo no mesmo ano surgido o "Guangming Daily", como órgão central da Liga Democrática da China.

O matutino, de acordo com a professora de jornalismo, foi reorganizado em Janeiro de 1953 como um jornal patrocinado por vários partidos democráticos, Federação Chinesa de Indústria e Comércio e membros não partidários da Conferência Consultiva Política.

O "China Youth Daily", publicado pela primeira vez em 1951 e o "Liberation Army Daily", em 1956, ambos na capital Pequim, exerceram igualmente papel preponderante no processo de edificação da estrutura democrática chinesa.

"Jovens jornalistas chineses participaram activamente da discussão de novas ideias e os jornais se desenvolveram rapidamente”, disse Zhong Xin, para em seguida acrescentar que, decorrido o ano de 1960, "havia já um total de 151 jornais partidários de todos os níveis e em todo o país”, correspondendo cerca de 59 por cento do número total de jornais no país.

Em Dezembro de 1950, 26 edições de jornais haviam sido publicadas, incluindo quase 30 artigos traduzidos, apresentando as opiniões sobre os diários  e a experiência do jornalismo soviético. Mas, com a extinção das grandes regiões administrativas, foram também eliminados os jornais das comissões partidárias dessas regiões.

Tendo a China absorvido muito da experiência do jornalismo soviético naquela época, depois de 1954, tendo a indústria de notícias soviético atingido o seu ponto mais alto, os escribas chineses regressaram à China para publicar artigos e livros apresentando a experiência da escola soviética.

Nessa altura, o jornal People's Daily (Diário do Povo, em português) também fez uma publicação interna chamada "Artigos selecionados da Truth", com periodicidade bissemanal.

"Publicaram mais de 200 edições apresentando as manchetes, layout e até traduções inteiras de Truth”, sublinhou a docente universitária.

Em 1979, o People's Daily lançou o seu jornal subsidiário, denominado "Market Daily”. Quando o jornal foi publicado, pela primeira vez, os dez mil exemplares esgotaram nas bancas imediatamente em todo o país, em apenas uma hora.

A 13 de Julho de 1949 foi criado o Comité Preparatório da Associação de Jornalistas de toda a China.

 

Agência de Notícias

Xinhua é a principal agência de notícias da China. Criada em Março de 1949, o órgão de comunicação social instalou filiais nas principais regiões, províncias, municípios e regiões autónomos do país, assumindo a missão de disponibilizar informação confiável.

"É um órgão multifuncional, incluindo reportagens domésticas, estrangeiras, internacionais e uma série de publicações”, esclareceu Zhong Xin.

Acrescentou a professora de jornalismo que a agência desde cedo desenvolveu uma relação de cooperação com congéneres de notícias de países capitalistas, como a TASS, e também começou a estabelecer acordos com agências de notícias de países capitalistas, como a Reuters.


Televisão

As primeiras transmissões experimentais de televisão na China aconteceram no ano de 1958, com a Estação Central de Televisão, antecessora da Estação de Televisão de Pequim. O lançamento oficial teve lugar a 2 de Setembro do mesmo ano.

Dois meses depois, ou seja, em Novembro, a estação de Televisão de Pequim começou a transmitir "breves notícias" por meio de locução, que durava apenas cinco minutos cada. Shen Li foi o primeiro

 

Locutor de televisão.

"Os cinejornais e os documentários eram as formas mais comuns de reportagem televisiva inicial”, contou a docente universitária.

A professora garantiu, por outro lado, que os programas de educação social, a exemplo e aos de divulgação científica e médica, eram populares devido à sua natureza informativa.

"Os programas infantis também estavam no activo e houve programas culturais como filmes e apresentações da Ópera de Pequim, que permitiram aos espectadores verem artistas como Mei Lanfang e outros”, ressaltou, confessando que, naquela época, a popularidade da televisão era baixa e a sua influência social limitada.

Radiodifusão Popular

O surgimento de estações de rádio no "gigante” asiático, de acordo com a docente da Universidade Renmim de Jornalismo, remonta ao ano de 1954, tendo, na altura, sido contabilizado um total de 101 estações de rádio em nível de condado, 705 estações de rádio em cidades pequenas e médias e 49.854 alto-falantes de rádio com fio em todo o país.

Revelou, ainda, a professora chinesa, que em Abril de 1950 a Estação de Rádio de Pequim foi estabelecida com o indicativo de chamada de Rádio de Pequim. À época, transmitia em sete idiomas estrangeiros, nomeadamente inglês, japonês, coreano, vietnamita, birmanês, tailandês e indonésio.

Em 1954, começou a transmitir para Taiwan em dialetos mandarim, minnan e hakka, sendo que no mesmo ano, com excepção do Tibete e Taiwan, todas as províncias do país haviam estabelecido as emissoras populares.

As rádios, na época, tinham a missão de divulgar notícias e transmitir ordens, bem como promover a educação social e o entretenimento cultural.

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