O terceiro livro do autor, focado na vida da rainha Njinga, conta com a chancela da Editora das Letras, em parceria com a União dos Escritores Angolanos e é apresentado ao público na segunda quinzena do próximo mês de Abril, informou, ontem, John Bella ao Jornal de Angola.

Autor de vários livros de poesia e uma referência da literatura infantil, o autor estreou-se no género romance em 2011, com "Os Primeiros Passos da Rainha Njinga”. No ano seguinte lançou o segundo romance da série, "O Regresso da Rainha Njinga”. Os dois livros o valeram algum reconhecimento a nível nacional e internacional, como o Di-ploma de Personalidade de Importância Cultural, na Bahia, Brasil.

O escritor, que já havia falado da intenção de escrever um terceiro romance baseado no mesmo tema, abre, neste novo livro, pressupostos para mais alguns capítulos da vida da mulher guerreira.
"Resolvi pesquisar mais. Investiguei bibliografias no Brasil e Portugal, fui a Massangano e Kambambi, visitei a Ilha de Ndala a Ngonga, no lugar onde ela deixou as jóias, assim como voltei a subir as pedras de Mpungu a Ndongo e falei com o Padre Inácio e o Rei do Ndongo, ambos, residentes na cidade de Malanje e grandes conhecedores orais da vida dela. Além disso, também fui a Kakulu Kabasa, uma das capitais do Reino do Ndongo, e reli muitos mais livros. O resultado é que a pesquisa não coube em apenas mais um livro. Tive que dividi-lo em dois. Daí que agora sai este. Mas já estou a preparar "Os últimos Passos da Rainha Njinga”, cujo manuscrito está concluído”, disse.

Os trabalhos de pesquisa, disse, o permitiram conhecer a história de outros países como a Holanda, a luta pela restauração de Portugal que culminou com a independência da Espanha, a 1 de Dezembro de 1640, o período da escravatura no Brasil com Ascensão do Kilombo dos Palmares por Nganga a Nzumba.

Numa primeira fase, acrescentou, vão estar disponíveis três mil exemplares do livro, que conta com ilustração de capa do artista plástico Nelo Tumbula e prefácio da escritora e historiadora brasileira Mariana Bracks Fonseca, também autora de três livros didácticos sobre a Rainha Njinga, nomeadamente "Nzinga Mbandi e as Guerras de Libertação em Angola”, "Rainha Ginga: Guerreira de Angola” e "Ginga de Angola: Memórias e Representações da Rainha Guerreira na Diáspora”.


Contributos
A propósito do novo livro do escritor angolano, a brasileira Mariana Bracks Fonseca es-creve: "A saga da rainha guerreira é contada de forma magistral por John Bella”. "Neste terceiro livro que compõem a epopeia, que compreende os anos de 1630 a 1641, da conquista de Matamba à tomada de Luanda pelos holandeses, Bella apresenta as acirradas batalhas, os acordos, as estratégias de guerra e paz, a sapiência e inteligência desta mulher inigualável na História da humanidade”.

O escritor, continuou a autora brasileira, deu vida aos personagens históricos, transformando a densidade da documentação em falas bem articuladas e em uma narrativa leve e envolvente. Os diálogos, destacou, revelam os contrastes entre as culturas europeias e africanas e nos conduzem às intensas transformações sociais pelas quais Angola atravessou.

"Ao ler este romance, somos transportados para o século XVII, sentimos na pele a emoção das guerras, a ameaça da escravidão, percebemos o jogo de poder, vibramos juntos a cada avanço, torcemos pela rainha destemida e, principalmente, nos sentimos contagiados pela força e saga-
cidade desta mulher ímpar”, realçou.

Para a autora Mariana Bracks Fonseca, é maravilhoso ver a história de Njinga Mbandi ser escrita por um angolano, um "filho da terra”, "que entende como ninguém os princípios cosmológicos, as organizações sociais e morais dos povos de Angola e presenteia os leitores com informações sobre clima, fauna, epistemologias e arquitectura angolana”.

O universo cultural angolano, acrescentou, entremeia a narrativa, que valoriza a língua quimbundo e os topónimos angolanos e assim colabora para a descolonização da História. "John Bella acessou os detentores das tradições orais, bebeu nas fontes do conhecimento popular, traduziu o imaginário colectivo acerca da famosa rainha. Soube articular muito bem os saberes locais à pesquisa documental historiográfica, recorrendo aos arquivos e bibliografias de forma plena”.

Desta forma, explicou, o autor faz o leitor reflectir sobre como a história da África foi construída a partir dos interesses europeus e instiga o público a questionar as interpretações e repensar os factos. "O resultado é um livro cheio de emoção, em que a rainha é apresentada em toda sua dimensão humana e heróica, que revela contradições e singularidade”.

Em "Os Passos decisivos da Rainha Njinga”, concluiu, o leitor redescobre a grande líder, que sabe como agir, anima o povo e sabiamente articula a resistência. "Este livro muito contribui para o entendimento do legado de Njinga, dentro e fora de Angola, sendo especialmente importante para os afrodescendentes na diáspora”, rematou.

Vladimir Prata | Moçâmedes