Opinião

Jornais e cangalheiros nas águas barrentas

Honorato Silva

Jornalista

A rotina do jornalista tem muita semelhança com o dia-a-dia do cangalheiro, cuja prosperidade do negócio depende da partida de outrem – quiçá de quem lê esta prosa –, para outra dimensão da vida, eufemismo que introduz uma forma mais cândida e menos carregada de referenciar a morte, certeza que grande parte dos humanos prefere manter bem afastada. No Jornalismo, os profissionais precisam de factos, quase sempre ampliados no interesse geral, quando negativos.

31/07/2024  Última atualização 09H38
© Fotografia por: DR
Na correnteza do Sena, as notícias que chegam não são as melhores. A poluição das suas águas, realidade finalmente admitida de forma oficial, forçou o adiamento de ontem para hoje da prova masculina de triatlo dos Jogos Olímpicos Paris’2024, com fortes possibilidades de redução do torneio a duatlo, apenas atletismo e ciclismo, face à supressão do segmento de natação, caso as más condições se mantenham. 

A salubridade do palco da inédita cerimónia de abertura, fora de um estádio, bem como de algumas provas aquáticas, foi motivo de acesos debates, que chegaram a motivar banhos governamentais e autárquicos, por forma a provar que as águas do rio podem receber os atletas. A verdade é que a contestação ganha espaço no jogo das palavras, colocando em causa o avultado investimento feito na melhoria da qualidade da água.    

No domingo e na segunda-feira já tinham sido cancelados os treinos de adaptação, o que levou a World Triathlon e os organizadores de Paris’2024, que reiteram como prioridade a saúde dos atletas, a reagendarem a competição.

"As análises feitas hoje (ontem) no Sena revelaram que os níveis da qualidade da água não dão suficientes garantias para permitir que o evento se realize”, lê-se em comunicado. E a baixa da qualidade é atribuída à chuva que caiu em Paris, na sexta-feira e no sábado. Para hoje e amanhã há previsão de chuvas na capital francesa.

Quem ainda não se encontrou, após a eliminação por penalizações técnicas, é o judoca Edimilson Pedro, uma das esperanças da missão angolana, pelos excelentes resultados alcançados nas provas continentais e mundiais, nos últimos tempos.

O foco do angolano mais titulado na modalidade em seniores cria em si um sentimento de frustração, pela forma dedicada como preparou, desde 2022, a presença numa competição da magnitude dos Jogos Olímpicos, que acabou por dar lugar à realização de um sonho.

Em jeito de desabafo, Edimilson destacou a profunda dedicação para elevar o judo angolano na maior montra do desporto mundial, pois mesmo quando parecia não haver esperança, lembrou, continuou a acreditar e acabou por se tornar no primeiro angolano campeão africano de sénior.

É imperioso abraçar e confortar o atleta, sobretudo pelas dificuldades enfrentadas na conquista da qualificação olímpica, e assim evitar que o talento forjado com muito trabalho se perca na frustração decorrente do fracasso dos objectivos. Outras competições de dimensão mundial, inclusive Jogos Olímpicos, virão.   

O rigor da organização dos Jogos Olímpicos, muito focado nos aspectos de segurança, deixou Teresa Sara, 26 anos, Miss Internacional angolana, convidada pela Embaixada de França em Luanda, distante do centro da cerimónia de abertura, na sexta-feira. Faltou acerto protocolar, antes da viagem da representante cultural.

A procura por bilhetes é constante no portal do evento na internet, mas poucas são as hipóteses de adquirir, por esses dias, um lugar nos recintos onde decorrem as competições, num misto de despique desportivo e partilha cultural e afectos. Os poucos que aparecem, após desistência dos utentes, são disputados por uma fila de interessados de vários pontos do mundo.

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