Reportagem

Jovens optam pela lavagem de viaturas

Isidoro Samutula | Dundo

Jornalista

A lavagem de viaturas na capital da Lunda-Norte começou a ganhar espaço no princípio dos anos 2000, quando um grupo restrito de adolescentes fazia dessa actividade, realizada junto ao rio Cundueji, o seu ganha pão. Na altura, aquele rio era um ponto turístico que atraía muitas pessoas aos finais-de-semana.

30/07/2023  Última atualização 07H48
© Fotografia por: Benjamin Cândido| Edições Novembro

Tratando-se de um local turístico de eleição   para banhos de rio e   diversão, alguns  jovens aproveitavam a ocasião para  prestarem o serviço de lavagem de automóveis e motorizadas. 

A prática começou a atrair outros jovens e o número de lavadores foi aumentando. A iniciativa propiciou o surgimento de outros lugares de lavagem de viaturas, como é o caso do situado junto ao rio Camundembele, ao longo da Estrada Nacional  180, que liga os municípios do Chitato e Lucapa.

Com o passar do tempo, o ponto de lavagem junto ao rio Camundembele foi ganhando maior "protagonismo”,   com a adesão de  mais clientes,  relegando para segundo plano  o ponto turístico do rio Cundueji.

Aos poucos, a lavagem de carros foi disseminada para outros pontos turísticos. É assim que surgiu o ponto de lavagem junto ao rio Luachimo, concretamente na famosa ponte metálica da Estrada Nacional 180-A,  entre os  municípios do Chitato e Cambulo, que também, aos poucos, foi sendo bastante procurado pelos proprietários de viaturas e motorizadas.

Dos vários pontos de lavagem de viaturas e motorizadas na cidade do Dundo, além dos acima mencionados, realçamos o situado junto ao rio Dundo, na estrada para quem vai dar ao Hospital Sanatório do Sacavula, que no passado foi também um ponto turístico muito concorrido aos finais-de-semana. O do bairro Maboi, na estrada que vai para o bairro Cacanda e o da área do Carinhenga, próximo ao mercado municipal do Chitato, também são de referir.


Importância na renda familiar

Xieto Tambué, 21 anos de idade, estudante da 10ª classe do Curso de Ciências Económicas e Jurídicas no Liceu do Dundo, é lavador de carros há quatro anos no bairro Maboi. O jovem revelou ao Jornal de Angola que graças ao trabalho que exerce, tem conseguido sustentar a sua formação e acudir a outras necessidades. "É uma forma que encontrei para ganhar dinheiro para sustentar os meus estudos e garantir alimentação em casa”, disse.

O jovem estudante exerce o trabalho de lavagem de viaturas das sete às catorze horas, de modo a preparar-se para ir à escola no período nocturno. Explicou que as necessidades que enfrentava todos os dias para alimentar-se, comprar roupa e material escolar e pagar o táxi, levaram-no a abraçar esse trabalho, que, segundo disse, tem dado resultados positivos. "Encontrei aqui o meu ganha pão. Hoje consigo acudir às minhas necessidades com o dinheiro que ganho por dia, que vai entre os cinco e seis mil kwanzas”.

Xieto Tambué sublinhou que os ganhos diários variam em função da afluência de clientes.

João Medar Fernando, que trabalha na via que vai dar ao Hospital Sanatório do Sacavula, disse que começou a lavar carros em função das dificuldades por que passava com a família. Situação que o levou a desistir da escola, onde frequentava a 7ª classe, para abraçar uma actividade que, segundo garante, lhe tem ajudado bastante nas despesas diárias. Ele afirma mesmo que, apesar do actual custo de vida, em casa já não falta o pão. Todos os dias consegue, na lavagem de carros e motorizadas, no mínimo três mil kwanzas. "É um trabalho digno. Poderia optar por outras coisas para ganhar muito dinheiro, mas estou feliz com o que faço. Já posso voltar a estudar, porque tenho a garantia  de rendimento para sustentar os estudos”.  

João Fernando dá muito valor à boa relação de trabalho com os colegas. "Quando há poucos clientes, lavamos os carros duas pessoas para que cada um leve algum valor para casa”.

Jorge Chibichica, lavador de carros junto à ponte metálica sobre o rio Luachimo, disse que cobra por cada viatura ligeira 1.500 a 2.000 kwanzas, por cada motorizada 500 a 1.000 kwanzas, enquanto a lavagem de um camião varia de 10.000 a 16.000 kwanzas  e um autocarro de 5.000 a 6.000 kwanzas. Por ser um trabalho de equipa, consegue levar para casa por dia 5 a 6 mil kwanzas.

O jovem revelou que trabalha como lavador de carros desde 2005 e conseguiu construir a sua casa com o dinheiro ganho. Agora pretende voltar a estudar. "Graças a este trabalho consegui uma residência e estou a criar as minhas condições de vida. Já não passo fome como antes”.


Métodos mais lucrativos

Apesar da existência de lugares identificados para a lavagem de carros, muitos jovens, atraídos pela profissão e no desejo de conseguir ganhar dinheiro, procuram estabelecer contratos com os proprietários das viaturas, principalmente os moradores da Centralidade do Mussungue, de modo a serem pagos no fim do mês. Outros preferem oferecer os seus serviços, mesmo para serem pagos no momento, no estacionamento de viaturas dos edifícios daquela Centralidade. Situação que para alguns tem se revelado mais lucrativa, tendo em conta o maior número de carros que se pode conseguir lavar durante o dia.

O preço praticado pelos lavadores informais que circulam pela cidade ou que ficam nos lugares acima identificados (mil a dois mil kwanzas), tem atraído muitos automobilistas, que se recusam a ir a uma estação de serviço onde lhes são cobrados valores que vão dos cinco mil kwanzas em diante pelo trabalho completo, tendo em conta o tamanho da viatura.

João Chicolassonhi, automobilista, reconheceu a qualidade da lavagem feita pelos jovens nos diferentes pontos da cidade do Dundo, que não deixa nada a desejar em comparação com a feita nas estações de serviço. "A lavagem é boa. Os jovens são bons, têm feito bom trabalho, o que nos deixa satisfeitos. Por isso preferimos a eles”, sustentou, sublinhando que muitos dos jovens que actualmente trabalham nas estações de serviço começaram nos lugares onde a lavagem de viaturas é feita de modo informal.

António Joaquim, outro automobilista, disse que lavar carro na estação de serviço é muito caro, apesar do trabalho lá realizado ser completo. "Para além do bom trabalho que os jovens prestam com a lavagem dos carros, também é uma forma de os ajudarmos. Eles precisam de ganhar dinheiro condignamente, para satisfazerem as suas necessidades”.

A Cidade do Dundo conta, presentemente, com quatro estações de serviço, insuficientes para corresponder à demanda, tendo em conta o número de viaturas e motorizadas disponíveis na urbe. A da  Centralidade do Mussungue e a da zona do Primeiro de Maio são as mais concorridas.

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