Reportagem

Luena regista várias acções de crescimento económico

Samuel António e Daniel Benjamim

Jornalistas

Localizada a 1.314 quilómetros de Luanda, por estrada, e a 1.036 quilómetros do litoral do país, pelo Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), Luena continua a encantar os visitantes fruto da sua bem estruturada arquitectura. As ruas espaçosas, em perfeita combinação com os largos e jardins dispersos em praticamente todos os cantos e recantos da cidade constituem uma imagem de marca.

02/09/2023  Última atualização 07H25
actual capital da província do Moxico, que ascendeu à categoria de cidade no dia 15 de Setembro de 1917 © Fotografia por: Edições Novembro
Pouco depois do mês de Abril de 2002, com a conquista da Paz, a implementação do Programa de Investimento Público, o Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Redução da Pobreza e outros de iniciativa governamental, facilitou a construção de inúmeras infra-estruturas no Luena. Por conta disto, desde então a cidade conhece melhorias substanciais na rede viária, na distribuição de água, na iluminação pública e domiciliar, nos espaços verdes, nas instituições escolares, hospitais e unidades económicas, fundamentalmente, que permitiu mudar a imagem da urbe e trazer mudanças positivas para a qualidade de vida dos cerca de 400 mil habitantes que nela residem.

Presentemente, Luena possui mais hotéis, pensões, bares e restaurantes, e os visitantes podem aferir esta realidade. Comparativamente há oito anos, são por demais assinaláveis os passos dados pelos vários sectores em prol do crescimento sustentável do Turismo no Moxico.

O Jornal de Angola constatou um aumento vertiginoso do número de construções na periferia da cidade, revelador de uma tendência de crescimento do sector imobiliário, bem como o desenvolvimento de actividades económicas de subsistência, onde os produtos agrícolas locais comandam as preferências dos consumidores.

Animada pelo restabelecimento da ligação ferroviária e pelos diferentes projectos em curso na província, a população participa à sua medida nas iniciativas levadas a cabo pelas autoridades governamentais. No Luena, a vida começa muito cedo. As cinco horas, já o sol se mostra à cidade, que logo é tomada por milhares de "luenenses” na sua luta diária pelo ganha-pão.

Cada vez mais os habitantes da cidade adoptam um modo de vida citadino, porém, uma grande percentagem da população tem dependência directa do campo. Para tal concorrem factores como o relevo plano, a presença de um grande número de rios e as constantes chuvas que nos meses de Dezembro a Abril inundam as anharas, também conhecidas por chanas do Leste.

Um dado curioso indica que, entre 1975 e 1976, a cidade tinha um nome português que a identificava de alguma forma com o país colonizador. Mas, entretanto, o Governo angolano decidiu mudar a sua denominação, dando o nome do rio Luena, que banha a região.

Neste mesmo período, depois do ímpeto inicial bastante animador, Luena teve um desenvolvimento lento, por força das condições territoriais e a falta de meios tecnológicos. Infelizmente, viria a regredir com o agravamento do conflito militar no país entre irmãos desavindos.

"Novo Luso”

Um bairro de autoconstrução dirigida na periferia da cidade, com casas de arquitectura simples, tendo como base a alvenaria, ganhou dos seus habitantes a designação "Novo Luso”. Para alguns, é uma nota de saudosismo. Outros, falam de esperança renovada da população do Luena e do seu diversificado grupo étnico-linguístico, entre os quais pontificam os Cokwe - cujo idioma é o mais falado - Luvale, Ovimbundu, Bundas, Luchazes e Lunda Dembo.

Em declarações ao JA, o administrador municipal do Moxico, Constantino Sachamuaha destaca que, apesar do conflito armado que durante anos assolou o país e, por arrasto a província, a antiga vila Luso pode hoje se orgulhar de vários ganhos em termos de infra-estruturas de cariz social e económico.

Para garantir o acesso aos serviços essenciais básicos à população, Constantino Sachamuaha sublinhou que o Programa de Combate à Pobreza e o Plano Integrado de Intervenção dos Municípios (PIIM), permitiram a construção de vários empreendimentos que a cada dia melhoram a vida dos habitantes desta cidade.   

"Nos últimos anos, o Governo Provincial do Moxico tem vindo a traçar políticas concretas para garantir o bem-estar da população com a expansão de redes de distribuição de água potável e o fornecimento de energia eléctrica em toda a periferia”, disse.

Em termos demográficos, Constantino Sachamuaha afirmou que a cidade do Luena cresceu bastante. No quadro da aplicação das políticas públicas, referiu, constitui uma prioridade do Governo a execução de acções que visam garantir um futuro cada vez melhor aos seus habitantes.

Na óptica do administrador municipal do Moxico, o saneamento básico constitui uma das prioridades da sua governação. Neste quesito, fez-se saber que se as famílias souberem dar o tratamento adequado ao lixo que produzem as autoridades têm mais possibilidades de garantir uma vida de qualidade a todos.   

"Tivemos alguns constrangimentos no princípio do ano, porque o Orçamento Geral do Estado 2023 foi aprovado no mês de Abril, o que afectou a execução de alguns programas ligados ao saneamento básico”, disse Constantino Sachamuaha, que prometeu tudo fazer para manter a boa imagem da cidade capital.

Além de deixar uma mensagem de esperança aos munícipes, o gestor lembrou que a administração do Moxico vai continuar a promover várias acções, desde a expansão da rede de energia eléctrica, água potável, melhoramento das vias de acesso e a construção de mais unidades sanitárias e estabelecimentos escolares.

  Inúmeros recursos hídricos

Atravessada por inúmeros cursos de água, a província do Moxico tem o privilégio de ostentar lagos e rios como o Zambeze, Luena, Lumeji, Lungue-Bungo, Cassai, Chicalueji, Lúio e Luanguinga. As três bacias hidrográficas, Zambeze, no Centro Leste, Cubango, no Sul, e Zaire, a Norte, constituem um manancial ímpar de recursos hídricos.

Apesar desse manancial de recursos, que lhe conferem grandes potencialidades agrícolas, com destaque para as culturas do arroz, milho, amendoim, madeira e frutas, o Estado ainda é o maior empregador da população do Luena.

Devido ao grande crescimento populacional, a capital do Moxico enfrenta dificuldades de abastecimento de água potável. O rio Luena começa a se revelar insuficiente para fazer face às necessidades devido à erosão causada pelas ravinas que ameaçam torná-lo num rio seco. Contudo, uma nova central de captação e tratamento instalada no rio Lumeje, a oito quilómetros de centro, tem servido para atenuar a situação.

  Construção de um forte

Dados históricos revelam que a acomodação dos primeiros colonos portugueses na região remonta entre 1894 e 1895, época que as várias expedições de Silva Porto, Serpa Pinto, Brito Capelo, Roberto Ivens e Trigo Teixeira, resultaram na construção de um forte que funcionou como colónia penal, agrícola e militar, substituído anos depois por uma capitania-mor.

A 15 de Setembro de 1917, por via de um decreto, foi criado o Distrito do Moxico. No ano seguinte, deu-se a instalação da sua sede na antiga povoação do Moxico Velho pelo tenente-coronel Trigo Teixeira. Após a tomada de posse do primeiro governador, D. António de Almeida, este delineou e fundou, a cerca de 20 quilómetros do Moxico Velho, a sede do Distrito Moxico Novo, num planalto de 12 quilómetros de largura, entre os rios Luena, a Sul, e Lumege, a Norte, a 1.320 metros de altitude.

O alto-comissário de Angola, general Norton de Matos, visitou pela primeira vez a localidade em 1922. De seguida, em conselho do Governo, fixou o nome de Vila Luso e a 18 de Maio de 1956, foi elevado à categoria de cidade, passando a designar-se apenas Luso, em homenagem à cidade portuguesa de Luso.

No mesmo ano, as autoridades coloniais resolveram alterar o estatuto jurídico de Vila Luso dando a ela o título de cidade, mais apropriada para localidades que eram capitais distritais. No ano seguinte, iniciou-se um extenso projecto de obras públicas na cidade. Assim sendo, surgiu a cidade moderna, espaçosa, plana, com largas avenidas arborizadas. Ergueram-se pontes e barragens de irrigação, que permitiram a sua expansão. Esta expansão teve o acompanhamento dos serviços de administração civil, fazenda e contabilidade, saúde e higiene, educação, agricultura e florestas, veterinária e dos serviços ligados ao sistema económico.

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