Reportagem

Lunda-Norte celebra hoje 45 anos de existência

Armando Sapalo | Dundo

Jornalista

A Lunda-Norte comemora, hoje, 45 anos de existência desde a sua criação como província em 1978, através do Decreto Presidencial nº 86 / 78, de 4 de Julho. A região é fortemente marcada pela exploração de diamantes, mas as autoridades e populações locais há muito que apostam noutros sectores de importância económica.

04/07/2023  Última atualização 11H22
© Fotografia por: Benjamim Cândido | Edições Novembro-Dundo

O lema escolhido para as celebrações deste ano  é "Lunda-Norte, Prosperidade, Agricultura como factor decisivo para o desenvolvimento”.

 
Percurso histórico

A chegada dos portugueses ao então distrito da Lunda dá-se no ano de 1886, quando o explorador Henrique Augusto Dias de Carvalho foi enviado para negociar com os representantes do poder tradicional Cokwe, devido à resistência deste povo à penetração colonial. Segundo os dados consultados pelo Jornal de Angola, à semelhança do que aconteceu noutros reinos, Henrique de Carvalho chegou à Lunda pedindo a submissão do povo local, com o pretexto de proporcionar uma vida melhor. À chegada, o português foi recebido pelo soba Kakose Mayipende, a máxima autoridade tradicional da região de Caungula, actualmente município com o mesmo nome, na Lunda-Norte.

 O soba Kakose Mayipende, também conhecido por Caungula, acompanhou o explorador português até ao regedor Nachiri, que se encontrava no actual município do Chitato. Na companhia de outro soba, que atendia pelo nome de Sapiri Muachanica, o soba Kakose Maypende e o regedor Nachiri levaram Henrique de Carvalho à presença de Muatxissengue Lutongo, Rei do Povo Cokwe, na residência real situada na actual cidade de Saurimo, província da Lunda-Sul.

A descoberta das primeiras pedras de diamantes  remonta ao ano de 1912, com o surgimento da empresa Pesquisas Mineiras de Angola (PEMA), criada com o propósito de efectuar trabalhos de prospecção e delimitação das áreas estratégicas.

Os primeiros diamantes, num total de sete, foram extraídos do riacho Mussalala, afluente do rio Tchiumbwe. Em 1917, surge a Companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG ) que, no auge da sua actividade, chegou a ter cerca de 35 mil trabalhadores. A multinacional diamantífera funcionou até 1981, quando foi criada a Endiama pelo Estado angolano, mas a sua dissolução por escritura só se deu em 1988.


Maior abertura ao investimento privado

A Lunda-Norte tem 10 municípios e 25 comunas. Deolinda Vilarinho é a oitava a governar a província, sendo a primeira mulher no cargo, depois de Ernesto Muangala (2008 -2022), João Ernesto dos Santos "Liberdade” (1978-1983), Silvério Gelim Paim (1983-1986), Norberto dos Santos "Kwata Kanawa” (1986-1991), José Salucombo (1991-1992), Francisco Moisés Nele (1992-1997) e Gomes Maiato (1997-2008). No seu pronunciamento em torno dos 45 anos de existência da província, a governadora Deolinda Vilarinho reconheceu que a Lunda-Norte tem muitos desafios pela frente, para servir a todos que nela vivem e que a visitam.

Fora dos cinco sectores que elegeu como prioritários, nomeadamente a melhoria da circulação rodoviária, alargamento da rede escolar, eficiência nos serviços de saúde, abastecimento de água potável e energia eléctrica e segurança pública, a governante afirmou que uma das grandes apostas tem a ver com a definição de estratégia para a captação do investimento privado  para a província.

Deolinda Vilarinho disse que já foram dados os primeiros passos , com cartas-convite enviadas a empresários nacionais e estrangeiros, para a implantação de grandes superfícies comerciais na Lunda-Norte, principalmente supermercados, que fazem muita falta.

O processo, disse, está no bom caminho e  técnicos do Governo provincial estão na capital do país a trabalhar com os potenciais investidores nos ramos do Comércio, Hotelária, Turismo e Agricultura. A Lunda-Norte  não pode ser vista como  uma província exclusivamente diamantífera, assegurando que, em função de outras potencialidades existentes, está aberta ao investimento privado.

"A Lunda-Norte não pode continuar a ser vista como apenas uma província diamantífera, existem outras potencialidades. Estamos abertos ao investimento privado. Já começamos a dar os primeiros passos, convidando empresários nacionais e estrangeirios”, afirmou. A governadora prometeu consolidar o programa multissectorial destinado à redução da pobreza e da inserção social das famílias em áreas produtivas, principalmente a mulher.

"Espero trabalhar para ter uma província onde as pessoas se possam orgulhar e uma das apostas reside na valorização da mulher, aliando-se às políticas gizadas pelo Executivo”, disse

 A reabilitação, construção e requalificação das principais vias rodoviárias, com vista a assegurar a fluidez das trocas comerciais, interacção social, cultural e desportiva, entre as diferentes circunscrições, constituem a prioridade na carteira de projectos da governadora,já remetidas à apreciação das estruturas centrais e locais. A malha rodoviária da Lunda-Norte é das mais extensas do país, com mais de seis mil quilómetros, das quais cerca de mil, que comportam as estradas nacionais, estão construídas.

 Anunciou, por isso, que no programa de reabilitação, construção e requalificação da rede viária da província, a par das vias principais, uma especial atenção serádada às estradas secundárias e terciárias, com vista à promoção do desenvolvimento económico da província.

Para Deolinda Vilarinho, que espera contar com o apoio de todos, sobretudo da juventude, igrejas, autoridades tradicionais, associações de mulheres,empresários e comunidade estrangeira, a estratégia de melhoria das vias de comunicação é um forte mecanismo para o crescimento sustentável e harmonioso da província.


Principais projectos em curso

Dos principais projectos em curso no sector das Infra-estruturas Rodoviárias destacam-se as obras de construção da Estrada Nacional  225, que liga a cidade do Dundo aos municípios localizados na região Sul da província, numa extensão de 540 quilómetros. Dados em posse do Jornal de Angola dão conta que os 540 quilómetros da Estrada Nacional 225, em termos de execução física da obra, estão praticamente concluídos.

A reabilitação da Estrada Nacional 180, do Dundo ao município do Lucapa,passando pela cidade de Saurimo (província da Lunda-Sul), até ao Luena (Moxico), num percurso de mais de 300 quilómetros, é outro projecto estruturante cujas obras estão na fase final. Enquanto isso,  na Estrada Nacional 230, que liga o Leste à capital do país, passando por Malanje, as obras também decorrem num ritmo satisfatório.

Na carteira de projectos, ligados a infra-estruturas, consta ainda as obras inacabadas do pavilhão multiusos do Dundo, localizado no distrito urbano do Mussungue, um assunto que já mereceu a intervenção da ministra dos Desportos, Palmira Barbosa, que trabalhou recentemente na Lunda-Norte, Há, portanto, "uma luz ao  fundo do túnel” , para a retoma das obras paralisadas há cerca de sete anos.

 
Hidroélectrica do Luachimo

As obras do Aproveitamento Hidroélectrico e Aumento de Potência do Luachimo, de 8,4 para 34 megawatts , estão na fase derradeira para a sua conclusão, disse agovernadora Deolinda Vilarinho, que acredita que a entrada em pleno funcionamento do empreendimento vai atrair o investimento privado à  Lunda-Norte.

 A conclusão das obras, inicialmente previstas para o mês de Agosto, podem ficar atrasadas para outra data, ainda dentro deste ano, devido aos trabalhos em curso de montagem das duas  últimas turbinas, de um total de quatro, que asseguram a  produção de energia eléctrica  na província.

Além da cidade do Dundo, o projecto  vai  garantir o fornecimento de energia eléctrica ao município de Cambulo, começando pelas localidades de  Fucauma, Cassangudi, Luxilo, N’zagi, e ao município do Lucapa, num total de 10.600 famílias beneficiárias.

Neste momento, segundo a governadora, decorrem os  trabalhos de levantamento para o início das obras de reabilitação das linhas  de transporte de alta tensão das subestações do Dundo  até   Fucauma.

Outro projecto estruturante no sector da Energia tem a ver com os parques fotovoltaicos, estando já em fase final os dos municípios de Lucapa  e Xá-Muteba. 

Os próximos a serem instalados são os dos municípios de Chitato , Cambulo  e Cuango, na localidade de Cafunfu, garante a governadora, que pede paciência às populações da Lunda-Norte quanto à  implementão das acções de impacto socio-económico, inseridas na estratégia de governação.

A título de exemplo, explicou que a verba avaliada em mais de 70  biliões de  kwanzas, atribuídos à Lunda-Norte no quadro do Orçamento Geral do Estado ( OGE ), aprovado em Março, ainda não está em  execução, aguardando-se por isso pela sua disponibilização pelo Ministério das  Finanças.

 Uma das principais apostas, segundo a governante, tem a ver com a melhoria do sistema de saneamento básico da cidade do Dundo, incluindo a requalificação das principais artérias, com a colocação de novos postos de iluminação pública.

A Lunda-Norte conseguiu,  nos últimos anos, ganhar várias infra-estruturas sociais , com  realce para a Centralidade do Mussungue, que comporta actualmente 5.004 apartamentos em 419 edifícios de quatro, nove, onze e dezoito andares.

Expo Dundo

 A realização da   primeira edição da Expo Dundo,  que abre hoje à tarde  defronte ao  Museu Regional,  a  Gala de Premiação 4 de Julho de Jornalismo,  esta última aprazada para o dia 29 do corrente, e a inauguração  do depósito de medicamentos  em Cambulo, construído no âmbito do  Plano Integrado de Intervenção nos Municípios ( PIIM) ,  são as principais actividades agendadas em saudação aos 45 anos da Lunda-Norte. A Expo Dundo reserva a exposição de vários produtos e serviços, entre agrícolas, pecuários, artesanais,  tecnologia de informação e comunicação, entre outros, vindos de todos os municípios da província.

O programa das festividades reserva ainda espectáculos de acrobacias motorizadas     e músico-culturais na centralidade do Mussungue.

 

Visão de uma  especialista em Turismo

Natália Papai Capaxi , formada em Turismo pela Universidade Católica Portuguesa de Braga, considera que, desde à sua criação como província, a localidade registou melhorias significativas, mas também alguns recuos.

A especialista em Turismo mencionou a construção de infra-estruturas sanitárias, escolares, rodoviárias, de fornecimento de energia eléctrica e água potável, e outras, como alguns dos principais avanços.

Natália Papai Capaxi defendeu que a visão, em termos de governação, deve estar também na definição de uma estratégia para a captação de investimento privado, principalmente nos sectores da Hotelaria, Turismo, Desporto e Cultura.

A Lunda-Norte, de acordo com Natália Papai Capaxi, detém produtos naturais e culturais com valor comercial, turístico e estético, mas que carecem ainda de serem melhor  explorados para contribuírem no Produto Interno Bruto (PIB) e no bem-estar dos cidadãos residentes na província.


Pacote turístico da Lunda-Norte na forja

A par de o Governo mostrar abertura às questões que envolvem o Turismo, gizando políticas a favor deste importante segmento da economia, as autoridades da Lunda-Norte  estão, também, engajadas na criação de condições para a busca de informações importantes com vista à composição do Pacote Turístico Natural e Cultural da Província, afirmou Natália Papai Capaxi.

A também chefe de departamento de Hotelaria e Turismo, do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desportos da Lunda-Norte,  explicou que o projecto passa pela realização de trabalhos de pesquisa e descoberta de sítios, ritos, actos próprios e característicos à natureza cultural local.

A ideia, conforme avançou, é transformar o pacote de informações num produto capaz de atrair turistas para os diferentes pontos. A responsável admitiu que, não obstante a abertura por parte do Governo, para a captação de potenciais investidores, o que existe ainda está longe de dar resposta à gritante necessidade de se "vender a imagem da grandeza, por exemplo, da Lagoa Carumbo, da estatueta Samanhonga e do Museu do Dundo, que são os principais pontos turísticos da Lunda-Norte”.

Natália Papai Capaxi  alertou também para o facto de "existirem  vários constrangimentos que impedem que o turismo interno ocorra. As dificuldades para o acesso à Lagoa Carumbo, superstição (crença e medo) de a população local visitar o Museu do Dundo, por causa de algumas igrejas transmitirem com insistência mensagens que invertem o valor histórico, cultural e patrimonial daquele espaço, bem como a posição defendida ao longo dos anos de colonização, segundo a qual os artefactos de origem africana são produtos do mal e que fomentam o pecado, constituem barreiras ao pleno usufruto do que temos na província”, esclareceu.

Quanto às perspectivas de crescimento dos serviços de hotelaria e restauração, Natália Papai Capaxi  referiu que no ano passado  foram promovidas, na Lunda-Norte, duas acções formativas de capacitação dos operadores económicos que actuam no ramo do Turismo com ferramentas capazes de atender eficazmente o mercado interno e lançar bases para competir com outras regiões.

Trata-se de um programa do Ministério da Cultura e Turismo, que prevê  a realização anual de ciclos de formação para melhorar a actuação dos empresários ligados à Hotelaria e Turismo.

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