Sociedade

Massabi é fonte de sustento para milhares de angolanos e congoleses

Arsénia Manuel | Cabinda

Jornalista

Sábado, 7h17’ da manhã. Do outro lado do portão do posto fronteiriço de Massabi há centenas de mulheres congolesas perfiladas. Cumprem formalidades aduaneiras. De forma ordeira, cada uma aguarda paciente que chegue a sua vez de entrar em Angola, sem pagar absolutamente nada.

27/07/2024  Última atualização 09H00
Homens e mulheres atravessam o posto fronteiriço para comprar ou vender os seus produtos © Fotografia por: José Bule | Edições Novembro
É assim às quartas e sábados, dias em que todos os caminhos vão dar ao mercado fronteiriço de Massabi, localizado no município de Cacongo, cerca de 90 quilómetros a norte da cidade de Cabinda, que continua a ser o maior centro de negócios e trocas comerciais, entre a população de Angola e a da República do Congo (Brazzaville).

Ali há de tudo um pouco, desde variedades de roupas, calçados, utensílios de cozinha, loiça, bijuterias, peças de pano, postiços, perucas, tapetes, cosméticos, malas para roupa, lençóis, electrodomésticos, esteiras, materiais didácticos e de decoração, alimentos agrícolas, carne fumada, peixe seco, entre outros produtos.

O mercado de Massabi é fonte de sustento de milhares de famílias angolanas e congolesas. A banana produzida em Cabinda é dos produtos mais solicitados pelos congoleses, sobretudo os residentes em Ponta Negra.

"É um negócio bastante rentável. A banana é muito boa. É bem gostosa. Em Ponta Negra procuram muito por esse produto. Ganho bons lucros neste tipo de negócio”, conta a congolesa Maria Timba.

Além da banana, a mulher de 39 anos carrega quantidades consideráveis de feijão e batata-doce. Comercializa tudo no seu país. Por exemplo, disse a negociante, se um monte de cinco bananas custa 600 kwanzas em Cabinda (Angola), ela vende apenas três no valor de 1000 Franco CFA, que equivale a 1500 Kwanzas.

Conta que, às quartas e sábados, sai de madrugada de Ponta Negra e chega ao posto fronteiriço de Massabi antes das 6h00. "Chego sempre nesta hora para conseguir atravessar a fronteira mais cedo. Por semana, temos apenas dois dias de mercado e, por este motivo, o posto fronteiriço fica sempre cheio de gente”, afirmou.  

Maria Timba lembrou que, há dez anos, tinha um número maior de clientes que, de tempos em tempos, encomendavam boas quantidades de banana. "O custo de vida era mais baixo. Era tudo mais barato do que hoje”, reconhece.

Quem vive em Ponta Negra (Congo) e trabalha como "roboteiro” no mercado do Massabi, em Cabinda (Angola), é o congolês Gilberto Macaia, de 27 anos. Segundo o jovem, a falta de emprego levou-o a percorrer cerca de 45 quilómetros à procura de trabalho, para se poder sustentar e começar a organizar a vida.

"Deixei de estudar para fazer este trabalho. Não tenho vergonha nenhuma de transportar coisas no carro de mão. É melhor fazer isso do que ficar sem fazer nada ou roubar”, disse Macaia, que chega a facturar, em média diária, cerca de 10 mil Francos CFA (15 mil kwanzas).

Negócios lucrativos

Ao Jornal de Angola, homens e mulheres de negócios consideraram ser de extrema importância a actividade comercial no mercado fronteiriço de Massabi, tendo em conta o seu impacto positivo na vida dos cidadãos dos dois países (Angola e República do Congo);

A jovem Isabel Marques, de 38 anos, que realiza negócios na fronteira há mais de três anos, gasta um total de 5000 kwanzas na viagem de ida e volta, da cidade de Cabinda até ao mercado de Massabi.

"Apesar de ser muito, tem valido a pena gastar esse dinheiro. O meu negócio está a crescer e, por isso, nunca pensei em desistir”, disse a vendedora, antes de revelar que, inicialmente, investiu um total de 400 mil kwanzas no negócio de tapetes, lençóis, sabão, chinelas, brincos e perucas.

Antes disso, explicou, comercializava gelados e bolinhos na cidade de Cabinda, onde vive com a família. Licenciada em Ciências da Educação (especialidade de Pedagogia do Ensino Primário), Isabel encontrou no mercado a solução para o sustento dos seus quatro filhos.

"Não consigo entrar no sector da Educação e também não encontro emprego em lugar nenhum, por isso estou aqui a remediar para sustentar os meus filhos. Com o dinheiro que ganho consigo comprar roupa, alimentação, pagar a escola e assegurar a assistência médica e medicamentosa da minha família”, garantiu.

Isabel Marques contou, ao Jornal de Angola, que um produto adquirido no valor de 4000 kwanzas nos armazéns de Cabinda pode ser vendido a 7000 CFA (10.500 kwanzas) no mercado do Massabi.

Outra vendedora angolana, Flávia Mayundo, de 36 anos, está metida no mundo dos negócios há dez anos. Desde o início da actividade, na cidade de Cabinda e no mercado de Massabi, sempre vendeu loiça, malas para roupa e materiais para decoração de cozinhas.

"Apliquei 800 mil kwanzas no negócio e, hoje, apesar dos altos e baixos, sinto que valeu a pena o investimento feito. Nesses quase dez anos de actividade comercial, ganhei muito mais do que perdi”, salientou.

Já o automobilista Henrique Manguali, de 63 anos, que exerce a profissão há 40 anos, reconhece que a subida dos preços dos produtos no mercado do Massabi tem um pouco a ver com a tarifa cobrada nos autocarros e táxis.

Da cidade de Cabinda ao mercado do Massabi, os passageiros desembolsam 3000 kwanzas pela viagem de ida e volta de autocarro e 5000 kwanzas de táxi. "A população, principalmente os vendedores deste mercado, está a reclamar muito”, disse.

Congoleses entram e saem sem problemas

O administrador comunal de Massabi, Bernardo da Silva, disse que o mercado tem contribuído imenso para a melhoria de vida de muitos cidadãos angolanos, sobretudo dos que vivem na província de Cabinda.

Explicou que o facto de os negociantes comprarem produtos em moeda nacional, na capital do país ou em Cabinda, e venderem em Francos CFA (moeda congolesa), ao trocarem em kwanzas conseguem um volume de negócio considerável.

"Com a desvalorização do kwanza, o Franco CFA valorizou-se muito mais, reduzindo assim o poder de compra dos comerciantes angolanos, que antes faziam o sentido inverso, adquiriam produtos em Ponta Negra, na República do Congo, para vender em Angola”, disse.

O administrador comunal de Massabi sublinhou que, nos dias reservados à praça (quartas e sábados) a vila comunal regista grande movimentação de pessoas que "procuram ganhar a vida, realizando qualquer tipo de trabalho, honestamente”.

"Os cidadãos do Congo Brazzaville são muito disciplinados. Aliás, os nossos serviços de fiscalização não encontram dificuldade nenhuma na sua actuação, porque eles entram apenas para comprar os seus negócios e regressam ao seu país pelos próprios pés, sem que alguém os obrigue a fazer isso”, destacou.

A comuna de Massabi, no município de Cacongo, localiza-se cerca de cinco quilómetros a norte da fronteira de Angola com a República do Congo, cuja população é estimada em 8.530 habitantes, que se dedicam maioritariamente à produção agrícola e à pesca artesanal.

Ao chegar e ao sair da localidade, os principais actores do mercado (vendedores, compradores, lotadores e taxistas) apreciam a bela paisagem proporcionada pela lagoa de Massabi, com cerca de oito quilómetros de extensão no sentido Norte/Sul, e cerca de dez quilómetros para o lado Leste/Oeste.

Na lagoa, abundam peixes e mariscos, e é ligeiramente salgada. Tem ligação com o mar. A comuna de Massabi é cercada por uma selva tropical que abriga várias espécies de animais.

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