Política

MPLA reafirma vontade de alargar o diálogo inclusivo

Joaquim Cabanje

Jornalista

O MPLA reafirmou, quarta-feira, a vontade política em alargar a base do diálogo permanente e inclusivo em todos os temas e fenómenos sociais, políticos e económicos, visando ao reforço do processo de consolidação do Estado Democrático de Direito, fundado no respeito dos valores fundamentais constitucionalmente consagrados.

04/04/2024  Última atualização 14H30
Dia da paz e da reconciliação nacional © Fotografia por: DR

Numa declaração alusiva ao 4 de Abril, Dia da Paz e da Reconciliação Nacional, o Bureau Político do MPLA exorta toda a sociedade angolana no sentido de manter a esperança em dias melhores, como corolário do trabalho árduo e permanente, realizado em prol da materialização dos mais nobres anseios da população angolana, cujo fundamento se mantém fiel ao legado do primeiro Presidente de Angola, Doutor António Agostinho Neto, de que "o mais importante é resolver os problemas do Povo”.

"Tal só é possível num ambiente de paz e de harmonia nacional”, refere a mensagem, que aponta o compromisso com a materialização das políticas de medidas constantes do Programa de Governação 2022 – 2027.

O Bureau Político do Comité Central do MPLA saúda todo o Povo Angolano residente no país ou na diáspora, com o desejo de que  a efeméride seja comemorada com o sentimento de que, no coração de cada cidadão, desabrochem os valores de amor, harmonia, tolerância, concórdia, pacificação e patriotismo.

Na mensagem, o BP do MPLA endereça um abraço patriótico a todas as angolanas e angolanos que, com o seu labor e acções diárias, contribuem para a manutenção dos ganhos resultantes da Paz, uma das maiores conquistas do Povo Angolano, que todos são obrigados a preservar.

FNLA destaca normalização do processo democrático

O secretário-geral da FNLA, Aguiar Laurindo, destacou a normalidade do processo democrático no país, com o alcance da paz, a 4 de Abril de 2002.

Segundo o político, que falava a propósito dos 22 anos da conquista da paz, o país entrou na normalidade das eleições regulares, inclusive discute-se, agora, a realização de eleições autárquicas.

Aguiar Laurindo considerou que a paz conquistada a 4 de Abril de 2002 foi o fim da confrontação militar que comprometia a vida dos jovens angolanos. "Como consequência do conflito, os estudos superiores e outros projectos de vida eram adiados para se engajar no esforço da guerra”, sublinhou.

O político referiu que a guerra impedia as pessoas de se deslocar livremente dentro do município, da província e do território nacional.

Em algumas zonas, acrescentou, as pessoas não se deslocavam para outros territórios, muitas vezes dentro de um município, comuna ou província. Naquela situação, disse, o Governo Central estava mais comprometido com o esforço de guerra, em detrimento de outras políticas com impacto directo na vida da população.

UNITA propõe comissão da verdade e perdão

A UNITA propôs, ontem, a criação e funcionamento de uma Comissão da Verdade, Perdão e Reconciliação, assente no reconhecimento dos erros cometidos.

Numa declaração por ocasião do Dia da Paz e da Reconciliação Nacional, que hoje se assinala, o secretariado executivo do Comité Permanente da UNITA diz que muitas expectativas dos angolanos geradas com o advento da paz e reconciliação nacional, a 4 de Abril de 2002, foram defraudadas.

A segunda maior força política do país, que subscreveu o Memorando do Luena com o Governo, fala em estagnação do processo de consolidação e aprofundamento do Estado Democrático de Direito, pela ausência da institucionalização das autarquias. A UNITA fala ainda no aumento do desemprego e subida dos preços dos produtos da cesta básica.

De acordo com a declaração, lida pelo porta-voz, Marchal Dachala, o partido reitera a disposição para o diálogo com o Governo para a conclusão do processo de inserção social dos ex-combatentes e devolver o património material da UNITA.

Em relação à situação económica e social, a UNITA apela o Governo a abrir-se ao que chama "sabedoria nacional”, fora dos marcos partidários, para que seja encontrada a saída para a crise económica.

"A paz é a única via capaz de consolidar a democracia”

A CASA-CE considera que a paz é a única via capaz de consolidar a democracia, assente na alternância política, através de eleições livres e justas, e propiciar a industrialização do país.

Segundo o líder da coligação, Manuel Fernandes, a paz é,  igualmente, a única via para o desenvolvimento sustentável, que permite o bem-estar social, assim como a consolidação da produção nacional e a diversificação económica.

Segundo o político, que alega haver "recuo ou estagnação do exercício democrático”, a cultura da lei ainda não é uma realidade no país, justificando que "o cidadão não está no centro das preocupações da governação”.

"Hoje, as famílias já não lamentam a perda de algum ente querido em combate. Conseguiu-se consolidar a unicidade do Exército, a reconciliação nacional caminha a passos lentos”, disse, referindo, contudo, que "há maior segurança e confiança na consolidação do processo democrático”.

Sociedade mais aberta

Para o presidente da CASA-CE, que falava a propósito do dia 4 de Abril, Dia da Paz e Reconciliação Nacional, que hoje se assinala, a sociedade está mais aberta, visionária e exigente, como resultado do aumento do nível de literacia, em especial, o conhecimento dos direitos e liberdades fundamentais.

Manuel Fernandes sublinhou que o 4 de Abril representa a ruptura completa da tendência militarista como meio para reivindicar direitos ou mecanismo para o alcance do poder político.

O também economista criticou os órgãos de comunicação social, que, na sua opinião, não exercem o seu papel com a equidistância.

O entrevistado considera a economia angolana frágil, por força da fraca produção nacional e a dependência das importações para satisfazer o consumo interno.

O líder da CASA-CE entende que, fruto da pobreza no campo, por falta de incentivos para o crescimento e desenvolvimento das comunidades, constata-se, todos os dias, o êxodo rural para as zonas urbanas.

O Jornal de Angola contactou também a UNITA e o PRS, para se pronunciarem sobre a data, mas mostraram-se indisponíveis.

"4 de Abril foi um ganho político muito importante”

O 4 de Abril representa um ganho político muito importante para os angolanos, já que as comunidades conheceram o sossego e o silenciar das armas, segundo o secretário-geral do Bloco Democrático, Muata Sebastião.

"O 4 de Abril representa, politicamente, muita coisa para os angolanos, pois, depois de um longo período de conflito, chegaram, finalmente, a um entendimento, que viabilizou a concretização da paz”, disse ao Jornal de Angola, a propósito da data que hoje se assinala.

Muata Sebastião acrescentou que o "calar das armas foi o maior ganho, embora esteja em curso um outro tipo de conflito, que dizima mais gente, que é o social”.

Segundo o político, depois de duas décadas do calar das armas, os angolanos continuam a morrer, porque não conseguiram efectivar políticas que pudessem controlar os efeitos da guerra, como é o caso da população do interior que continua a abandonar as aldeias e comunas para as grandes metrópoles, à procura de melhores condições de sobrevivência.

Reconciliação nacional

O secretário-geral do Bloco Democrático entende que a reconciliação nacional não se deve cingir somente aos protagonistas do conflito armado, nomeadamente UNITA e MPLA, mas, também, às pessoas que não estiveram envolvidas directamente, a saber, os órfãos e viúvas de guerra.  

Muata Sebastião diz que a herança da guerra continua a influenciar a vida política, com acusações de quem matou e não matou, quem fez e não fez.

"O 4 de Abril, para nós, continua a ser uma marca politicamente importante. Mas, do ponto de vista da sua materialização, os resultados continuam aquém, porque aumenta a intolerância, os conflitos sociais, o índice de miséria e pobreza, o desemprego, a falta de habitação e a saúde”, concluiu.

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