A superintendente Sarita Tomás de Almeida representou, pela primeira vez na História de Angola, a Polícia Nacional numa Missão de Paz das Nações Unidas, juntamente com o superintendente-chefe José Valente Pimpão. Ambos trabalharam no Sudão do Sul, durante dois anos. O Jornal de Angola publica hoje a entrevista da superintendente Sarita Tomás de Almeida, que aponta como nota de destaque o desejo de ajudar um país irmão a consolidar a paz.
Licenciado em Psicologia pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED) e em Oftalmologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Katyavala Bwila, ambas instituições situadas em Benguela, Kapukula Júlio Abreu António é o actual director-geral do Centro Oftalmológico Internacional de Benguela.
Quem é Edna Mateia? Esta pergunta abre as portas para uma história repleta de talento, dedicação e paixão pela música e pela cultura angolana. Nascida na província do Huambo, Edna Chinofila Canguende Mateia Carvalho Portela, ou simplesmente “Edna Mateia”, é uma figura multifacetada: mãe de três filhos, empreendedora, locutora de rádio e, principalmente, uma cantora que se tem destacado pela sua bela e potente voz.
Desde cedo envolvida no mundo musical por meio de corais na igreja, a artista encontrou a sua verdadeira vocação e foi moldada por influências familiares e experiências de vida que a inspiraram a compor músicas que reflectem a sua identidade cultural, especialmente na sua língua materna, o Umbundu. O seu percurso inclui vitórias emocionantes, como o prémio de melhor intérprete no concurso "Vozes Femininas”, e a realização de projectos que visam levar a sua mensagem a um público mais amplo. Com um portfólio crescente de músicas, incluindo a célebre "Para Ti Mulher”, Edna Mateia continua a emocionar e unir pessoas por meio da sua arte, enquanto busca novos desafios e sonhos, sempre com gratidão e amor pela música que a define.
Quem é
a Edna Mateia?
Edna Chinofila Canguende Mateia Carvalho Portela, natural da província do Huambo, casada, mãe de três filhos, cantora, empreendedora e locutora de rádio.
Locutora
de rádio, uma curiosidade. Em que rádios já "emprestou” a sua voz?
Enquanto locutora, emprestei a minha voz à TPA, publicidade da TPA Mobile TPA, projecto viajar Angola. Na Rádio Nacional, Huambo, programa Rádio Jovem, em directo, com duração de duas horas. Criei um programa denominado Doce Viagem que foi transmitido na Rádio Ecclesia Huambo durante um ano.
Quando
e como entrou para o mundo da música?
A música entra na minha vida desde muito cedo. Começo na igreja (IECA), na altura não sabia exactamente o que estava a fazer, era simplesmente um instante de interacção, porém, à medida que fui crescendo e passando por vários grupos corais dentro da igreja, ao mesmo tempo fui tomando consciência e me apaixonando.
Quem
foi a sua principal motivação?
As coisas sempre aconteceram de forma natural.Porém, posso considerar o acto de a minha mãe inserir-me no grupo coral infantil, na IECA- Igreja congregacional em Angola, na Missão Académico, fez toda a diferença.
Quando
subiu pela primeira vez a um palco e qual foi a música que cantou?
Subi num palco pela primeira vez em 2006, quando participei num concurso denominado Vozes Femininas, realizado pela direcção provincial da Família e Promoção da Mulher. Cantei a música Amor de Mãe e sagrei-me vencedora. Foi mágico!
Quantas
músicas e discos tem
gravados?
Até ao
momento, tenho seis músicas gravadas e disponíveis. Entretanto, estou a
trabalhar em tantas outras que farão parte de dois projectos discográficos. Um
de músicas comerciais e outro com músicas de raiz, completamente cantadas em
Umbundu.
Discos,
não tenho. Estou a trabalhar em projectos para que este objectivo seja
realizado. Tenho encontrado alguma dificuldade, uma vez que a música de
qualidade não é barata, e na maior parte das vezes trabalho com fundos
próprios.
Quando
diz que a música de qualidade não é barata a que se refere?
Refiro-me
a custos com a produção. Uma boa música acústica envolve muita gente. Desde os
instrumentistas, coristas, sem dizer que nem todos os estúdios têm condições
aceitáveis para captação vocal, o que nos leva a pagar um outro estúdio para o
efeito. Sem falar da masterização que na sua maioria é feita fora do país. Tudo
isso fica muito mais complicado para quem vive "nas demais 17
províncias”...(risos)
Qual é o seu maior sonho, artisticamente falando?
O meu maior sonho é atingir o maior número de ouvintes, concretizando assim o meu objectivo que é abraçar as pessoas com a minha voz e mensagens.
O
Umbundu é a sua língua materna, que é muito presente nas suas canções. Alguma
vez se sentiu incomodada por isso, uma vez que os jovens artistas exploram
muito pouco as línguas nacionais?
Nunca me senti incomodada, nem nada parecido. Umbundu é a minha identidade, é a língua dos meus ancestrais. Sempre me identifiquei com as canções e os provérbios.No meio de outros artistas, sempre fez diferença e com que me sentisse especial.
Não
acha que a sua voz na música "Para ti Mulher” já abraça muita gente? Não tenho
receio em afirmar que é a música que mais toca nas rádios do país, no mês de
Março!
De facto, a música "Para ti Mulher” tem-me permitido estar perto de muitas famílias a nível do país, porém, sinto que preciso cantar esta música para mulheres de outras paragens.
A
música "Para ti mulher” é um grande sucesso. Qual foi a inspiração para compor
esta música?
"Para
ti Mulher” foi escrita pelo meu irmão poeta Van-Kembe. Ele tem um caderno onde
vai deixando pensamentos, e um dia fui ver este caderno. Logo que li o poema
identifiquei-me com a mensagem. Tudo porque também passei por muitas das
situações que a música retrata. Fui mãe muito cedo e senti que precisava de
partilhar a mensagem com outras mulheres do universo.
Era um
poema e transformamos em música, substituindo algumas palavras, inserido
outras, e tive a responsabilidade de dar vida àquelas palavras, criando a
melodia.
Simplesmente
senti e flutuei. Posso afirmar que a minha história foi a minha inspiração para
cantar com tanta alma.
Pode
falar-nos sobre o seu processo criativo? Como compõe as músicas?
O meu processo criativo foi passando por várias fases. No início da carreira era eu quem fazia tudo. Tinha ideia e aí avançava logo para a música e muitas vezes para o estúdio (risos). Mas com o passar do tempo, fui ganhando consciência da responsabilidade de abrir a boca para cantar para as pessoas. Hoje, trabalho com duas pessoas para escrever as letras em função dos temas que quero abordar, sempre com a minha participação e a seguir fico com a responsabilidade de dar vida às palavras. Interiorizar e colocar as minhas digitais, fazendo o poema virar música. Sou responsável pelas melodias das minhas músicas. Findo este processo, trabalho com o meu guitarrista para confirmar as minhas ideias no instrumento e só depois partimos para um estúdio de gravação.
Qual
foi o maior desafio que enfrentou na sua
carreira?
Na música, enfrentamos desafios todos os dias. Alguns fáceis e outros difíceis de solucionar. Mas são batalhas diárias.
E qual
foi o momento mais significativo?
Têm sido vários, porém vou destacar alguns: vencer o Variante nacional de 2014, ser a convidada especial para a cerimónia de recepção das nossas Campeãs Africanas de Andebol em tempo de pandemia… e recentemente vivi a mesma situação com os Palancas Negras no CAN. Os palcos e famílias onde a música "Para ti Mulher” me coloca, em particular o jantar de Gala do Prémio Mulher de Mérito, na presença da Primeira Dama da República. E agora o convite para ser membro do júri do Unitel Estrelas ao Palco, nos castings do Huambo.
Como
avalia a música e os músicos na província do Huambo?
O
movimento musical no Huambo tem vida e pernas para andar. Temos mais
diversidade, com as condições possíveis, temos mais estúdios de produção
musical e cada vez mais jovens interessados na nossa identidade cultural. Temos
dificuldades com eventos, ultimamente existem mais festas do que propriamente
espetáculos músico-culturais.
Quem
vive "nas demais 17 províncias” irá concordar que uma das maiores dificuldades
é, de facto, termos que ir para Luanda aparecer num canal de televisão. Não é
barato... Existem custos com deslocação, estada, alimentação e por aí vai.
Custos estes que não estão ao alcance de todos. Razão pela qual temos artistas
com música a fazer sucesso e pouca gente sabe quem é.
Pode-se
levantar aqui a questão das redes sociais para divulgação da imagem. E surgem
várias questões: quantas pessoas têm acesso à internet no país? Será que o meu
público-alvo está na internet?...
Outro
aspecto, tal como em todo o país, há um trabalho que deve ser feito no que ao
imediatismo diz respeito. A vontade de bater, de fazer o que o mercado e o
produtor de evento querem, leva bons talentos a se descuidarem da qualidade.
Aspectos como letras, preparação vocal, produção musical cuidada, etc., muitas
vezes não são tidos em conta.
Quem
são os seus artistas favoritos?
Aprendi
a ouvir todos. Com alguns aprendo como se faz e com outros aprendo como não
devo fazer. A minha estrela favorita chama-se Michael Jackson. Aquela forma
doce, leve e intensa de cantar tem sido uma verdadeira base para as minhas
interpretações.
Porém,
existem aqueles que não faltam na minha playlist: Juan Luis Guerra, Lokua
Kanza, Justino Handanga, Stromae, Cesária Évora, Yola Semedo, Pérola, Yuri da
Cunha, Prodígio. E por aí vai.
Como
lida com a pressão e as críticas do público e dos media?
Até ao
momento não tive nada que fosse tão forte, tem sido tranquilo. A minha carreira
deixou de ser um projecto meu, passou a ser um projecto de família, em quecada
um faz a sua parte e está sempre aí para servir de alarme em relação à minha
conduta e a mostrar como devo proceder no caso de alguma coisa correr mal.
Enquanto artista, quais são os seus objectivos?
Internacionalizar a minha carreira, levando principalmente a música de raiz.
O que
diria para os jovens que querem seguir uma carreira na música?
Em
primeiro lugar, saber o que realmente querem ser. Músico ou famoso? Assim que
definirem isso, precisam seleccionar o seu grupo alvo. Esta medida
facilita-los-á posicionarem-se. Desde o que cantar, que palavras utilizar, o
que defender, como se apresentar e muito mais. Poderá alguém perguntar:
trabalhar para um público alvo não limita? E a minha resposta é simples.
Ninguém no mundo segue uma pessoa desorganizada, com ideias indefinidas.
É
importante também ter uma base emocional sólida por intermédio da família. E se
é cristão tal como eu, pedir sempre auxílio ao Criador.
Como a
sua família e os amigos apoiam a sua carreira musical?
A
partir do momento em que a minha carreira deixou de ser um projecto meu e
passou a ser um projecto de família, cada um assume um papel. Desde o cuidado
com a minha saúde, com a minha casa e filhos quando preciso de me ausentar, a
composição das músicas, a minha segurança… E o principal, o meu marido... Ele,
sim, é a Edna Mateia. Eu sou apenas uma representação.
Tenho
um grupo de pessoas disponíveis para embarcar comigo para qualquer missão. A
destacar o Castelo Ekuikui, o Van-Kembe, o Atanagildo Paulo, o Hermenegildo
Filipe, o Estêvão Ngundia (Vany Musik), entre outros.
Existe
alguma causa social ou projecto comunitário com o qual se identifica ou apoia?
Tenho
apoiado, sim, vários projectos sociais na província. Durante muito tempo fui
madrinha do Lar El Betel. No Centro Okutiuka, tinha o compromisso de fazer
parte do grupo carnavalesco, ou cantando a música da apresentação ou
desfilando.
Hoje,
não estou ligada a nenhuma instituição, porém, tenho muitos filhos na cidade,
alguns meninos da praça das Cacilhas, outros que têm família, porém com
dificuldades. E vou dando o suporte na compra de material escolar, facilitar o
tratamento de documentos para os que não têm. Muitas vezes, em caso de doenças,
ajudando com medicamentos.
Como
se mantém conectada com os seus fãs?
Mantendo
as minhas contas de redes sociais actualizadas. Sempre que possível, respondo
ou reajo aos comentários. Uma vez ou outra faço, entrevistas em rádios e canais
de televisão, e, quando tenho a oportunidade de estar com eles em actividades,
procuro ter aquele momento de fotografias, beijos e abraços.
Parceria com Hander Dube
Nas
suas apresentações, Edna Mateia tem alguém inseparável, o guitarrista Jeremias
Handa Bonifácio, de nome artístico Hander Dube. A parceria dura há uma década:
"Já deixou de ser parceiro musical, passou a ser um irmão mais novo”, assim
descreve a cantora.
Edna
reconhece o "super talento” de Hander Dube, uma figura presente no auxílio à
produção das suas músicas. Reconhece, igualmente, o carácter do guitarrista
pela paciência que tem consigo, pois, como ela mesma assume, "não sou uma
pessoa fácil (risos), sobretudo nas apresentações ao vivo”, onde o guitarrista
tem sido o seu chip.
Por
tudo quanto já trilharam, Edna Mateia não esconde a sua gratidão: "Sou grata
por partilhar comigo o seu talento” agradece a artista que, sem dúvida, neste
momento é a "Diva do Huambo”.
"Justino Handanga era o meu orientador”
No seu perfil numa rede social, há vídeos e fotos de momentos seus com o falecido músico Justino Handanga. O que ele representou para si?
Justino
Handanga foi e continuará a ser para mim a referência da música da Região Sul
do país e a estrela que brilhou pelo mundo sem precisar de se deslocar. Para
falar da minha relação com ele, precisaríamos de uma página. Era o meu
orientador, amigo de comer pirão com as mãos, pessoa que me dava bafo sempre
que fosse necessário e aplaudia quando estivesse certa. Fez parte de vários
momentos bons e maus da minha vida e vice-versa... Tinha sempre uma piada para
contar, não importava o momento (risos).
Conhecemo-nos
por intermédio da música, criamos laços fortes de amizade, e mais tarde fiquei
a saber que havia também laços familiares.
A
ferida é nova, ainda dói... Mas precisamos de prosseguir.
Perfil
Nome
Edna
Chinofila Canguende Mateia Carvalho Portela
Pai
Alfeu
Mateia
Mãe
Margarida
Ernesto
Data
de Nascimento
10 de
Dezembrode
1984
Estado
Civil
Casada
há 15 anos
Filhos
Três
(dois meninos e uma
menina)
Comida
preferida
Pirão
com qualquer verdura, peixe seco ou chouriço assado, ovo estrelado e sumate
(salada picada). Obs.: comer com os mãos, sentada no chão (risos)
Bebida
preferida
Kissângua
de Mbundi
Um
sonho
Levar
a minha arte pelo mundo a fora
Um
amigo(a)
Meu
marido
Uma
cidade angolana
Huambo
Uma
música
"Ndumbalu”
de Justino Handanga
Um
músico
Michael
Jackson
Um
lugar turístico em Angola
CV
Lodje (Baía-Farta, Benguela)
O que
gostaria que as pessoas soubessem sobre si que talvez não saibam
Que
sou Ministra da Cultura do Reino do Bailundo. Juntando-me assim aos demais 37
Ministros da Corte, com a responsabilidade exclusiva de trazer os nossos
hábitos e costumes para esta geração, por intermédio da música.
O que gosta de fazer nos tempos livres, além de cantar
Quando se é mãe, quase que não temos tempos livres. No pouco tempo que sobra, estamos com os filhos (risos). Gosto de estar com a família, aproveitar para reforçar laços, gosto de ver filmes e séries, gosto de trabalhar na terra, tenho plantas e uma horta em casa, e enquanto empreendedora, faço arranjos florais para comercializar no estabelecimento. Mas quando há mesmo tempo, este fica para o chefe (o marido).
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