Reportagem

Obras na estrada reanimam esperança de vida dos munícipes

Manuel Fontoura | Ndalatando

Jornalista

De Golungo Alto a Ngonguembo, a circulação rodoviária pode melhorar nos próximos dias, com o fim das obras dos 34, 2 quilómetros de estrada que separam os dois municípios da província do Cuanza-Norte.

07/06/2023  Última atualização 08H15
Construção de uma ponte © Fotografia por: Edições Novembro
As obras da primeira fase do projecto, avaliadas em mais de 21 mil milhões de Kwanzas, arrancaram em Fevereiro de 2022, na comuna de Cambondo, município de Golungo Alto, no âmbito do Programa de Reabilitação e Construção de Infra-Estruturas de Transportes Rodoviários.

Um dos responsáveis da empresa Tiesju Civil Engineering Group CO Limitada (CTCE), contratada para executar a obra, disse que, inicialmente, o troço de 36 quilómetros foi reduzido para 34, 2 quilómetros, com a eliminação de algumas curvas em quase todo o seu percurso.

De acordo com He Li Ming, neste momento já estão concluídos 23 quilómetros da referida estrada, depois de receber obras de desmatação e decapagem dos solos, "e decorrem trabalhos de conclusão da estrutura inferior da ponte sobre o rio Zenza, que terá mais de 60 metros de comprimento e seis de largura”. O projecto contempla também obras de asfaltagem de todo o percurso, desde a vila comunal de Cambondo (Golungo Alto) à vila de Quilombo dos Dembos, na sede municipal do Ngonguembo, além da construção de 30 passagens hidráulicas e valas para a macrodrenagem das águas pluviais.

Até ao final dos trabalhos, o projecto de construção da estrada Golungo Alto/Ngonguembo poderá proporcionar 374 empregos temporários directos aos jovens das duas circunscrições administrativas. Entretanto, a empreiteira Tiesju Civil Engineering Group CO Limitada (CTCE) já recrutou mais de 40 trabalhadores angolanos, sobretudo residentes no Golungo Alto.

Para garantir maior celeridade nos trabalhos, o chinês He Li Ming explicou que o projecto avança em duas frentes. "Construímos um estaleiro na localidade de Cambondo e outro junto à ponte sobre o rio Zenza", indicou o encarregado de obras da empreiteira chinesa. Nos locais onde decorrem os trabalhos, homens manuseiam máquinas e equipamentos de um lado para o outro. Abrem valas e alargam os trilhos. Neste momento, o mau estado das vias de acesso que ligam o município do Ngonguembo às restantes localidades da província do Cuanza-Norte continuam a condicionar a livre circulação de pessoas e bens. Apesar de estarem já asfaltados cerca de 18 quilómetros, desde a sede do Golungo até à comuna de Kiluanje, ainda faltam concluir cerca de 28 quilómetros na via, além dos 34, 2 quilómetros, contabilizados a partir do desvio da comuna de Cambondo, que nesta altura tem sido o principal empecilho para quem por ali viaja, devido à quantidade de buracos e ao volume de lama produzida em vários pontos da rodovia.

Naquele troço rodoviário, a viagem é demorada e muito cansativa. A marcha dos veículos (jipes, carrinhas e camiões) é lenta. Devido às péssimas condições do terreno, não é possível acelerar acima dos 80 quilómetros hora. O cansaço também é causado pelas subidas e descidas acentuadíssimas e muito perigosas, com árvores enormes que atravessam as picadas e reduzem o ângulo de visibilidade dos automobilistas.



Faltam 15 quilómetros de desmatação

Para quem vai ao Ngonguembo, saindo do Golungo-Alto, respira de alívio ao percorrer os 18 quilómetros já reabilitados e, pelo contrário, respira fundo quando começa a odisseia a partir do ponto da via ainda não intervencionado.

De acordo com o administrador municipal de Ngonguembo, Constantino dos Santos, "nesta via, no tempo chuvoso tudo se torna mais difícil. O lamaçal invade a estrada e, os veículos, mesmo traçados, são vencidos pela inércia.

Portanto, camionistas e maquinistas ficam dias com os meios estacionados, sem fazerem absolutamente nada, à espera que a chuva pare e o terreno fique endurecido, para voltarem ao trabalho ou seguirem viagem.

Segundo Constantino dos Santos, as obras da ponte sobre o rio Zenza caminham para a sua fase terminal. Avançou que já estão concluídas as fundações e pilares de sustentação e que, neste momento decorrem trabalhos de preparação das vigas e outros subsequentes, a exemplo das acções de melhorias dos pontos de acesso e colocação de manilhas ali onde for necessário.

"As obras parecem demorar mais do que o previsto, mas precisamos saber que esta via nunca recebeu tapete asfáltico e que, neste momento, a luta é procurar eliminar da melhor forma possível as suas curvas. É um trabalho árduo que está a ser feito nesta via, para reduzir os perigos que ela apresenta”, disse.

Faltam aproximadamente 15 quilómetros para que sejam finalizados os trabalhos de desmatação, enquanto decorrem acções de aplicação de manilhas e de solos emprestados para, finalmente, ser feita a terraplanagem propriamente dita e, aplicado, mais tarde, o tapete asfáltico.

Constantino dos Santos disse, ao Angoleme (jornal quinzenário do grupo Edições Novembro), que a Administração Municipal do Ngonguembo tem feito a sua parte na fiscalização e acompanhamento das obras. "A nossa maior preocupação é o acesso à comuna de Camame. Para chegar até lá, as pessoas passam pela vila municipal do Golungo Alto, caminhando mais de 110 quilómetros a pé, contra os 45 quilómetros a contar da sede municipal de Ngonguembo", disse.

Acrescentou que, fruto do pacote financeiro aprovado recentemente pelo Presidente da República, João Lourenço, nos próximos tempos as duas vias de acesso ao Camame serão intervencionadas.

Por enquanto, o administrador municipal do Ngonguembo, Constantino dos Santos, aguarda ansioso pela conclusão das obras do troço Golungo-Alto / Ngonguembo, bem como das vias que ligam as localidades da Cerca, Cavunga, Camame, Ngonguembo (Cuanza - Norte) ao Bula-Atumba (Bengo).




Opinião dos munícipes

Moradores do bairro Velho Yango e da vila municipal do Ngonguembo disseram que, quando chove, passam por enormes constrangimentos para poderem se deslocar de um lado para outro, devido ao acentuado grau de degradação das vias de acesso à zona.

"Estamos agastados com esta situação, pedimos a quem de direito para intervir, porque as estradas estão totalmente degradadas e têm provocado muitos danos às viaturas e transtornos à população em geral”, disse o automobilista José Adão.

"Em época chuvosa, circular no interior do Ngonguembo é um martírio", afirmou o soba do bairro "Velho Yango", Kiacumo Domingos, de 76 anos. "Estamos cansados disso. O governo deve colocar aqui, rapidamente, um bom pavimento e construir sistemas de drenagem das águas", apelou.

Outra autoridade tradicional da zona, Francisco Sumba, defende que desta vez o trabalho realizado no troço deve ser definitivo, para não ser invalidado, em tão pouco tempo, pelas chuvas. "Gostam de fazer trabalhos paliativos, mesmo sabendo que isso em nada resolve o problema. Basta chover e volta tudo como antes”, criticou.

Já o automobilista Osvaldo Mingues aplaude as obras em curso. Segundo ele, apesar dos trabalhos que ainda decorrem, a circulação já é feita com alguma fluidez. "Os comerciantes e outras pessoas já conseguem atingir mais facilmente o Ngonguembo. Espero que, quando as chuvas voltarem, a via esteja em óptimas condições de circulação. É o período que mais nos preocupa, porque a vila fica totalmente isolada do resto do território da província”, disse.

 

Obras do PIIM

Com a expansão dos principais serviços sociais às comunidades, como sistemas de água potável e de energia eléctrica, escolas e unidades de saúde, além de infra-estruturas socioeconómicas, a Administração Municipal do Ngonguembo cria as condições necessárias para desenvolver a localidade.

Actualmente, o Ngonguembo apresenta uma imagem mais agradável e acolhedora, fruto da execução de várias obras de construção e reabilitação de infra-estruturas, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção Municipal (PIIM) e do Programa de  Combate à Pobreza, que dão outra dinâmica à região, melhorando as condições de vida das populações locais.

A então vila do Quilombo dos Dembos dispõe, agora, de um sistema de abastecimento e distribuição de água e furos artesianos, que beneficia milhares de cidadãos. Na sede municipal de Ngonguembo e bairros periféricos como "Velho Yango", Salafunda e Kifunza, pelo menos 925 famílias já consomem energia eléctrica da rede pública.

Ainda no âmbito do PIIM, a população da localidade beneficia da construção de duas escolas novas de sete salas de aula cada. Outros projectos inseridos no Programa de Combate à Pobreza, como a reabilitação das instalações da Direcção Municipal da Educação e da Biblioteca Municipal, construção de uma escola de sete salas na comuna de Camame, reparação de uma casa protocolar de tipologia T-7, construção de jardins e criação de espaços verdes e de lazer, também são executados em Ngonguembo.

Segundo o administrador Constantino dos Santos, o seu pelouro recebe anualmente um valor estimado em 386 milhões de Kwanzas para dar suporte às despesas de desenvolvimento integrado e combate à pobreza.

"É na base deste financiamento que temos implementado projectos e outras acções que estão a causar impacto social à vida dos cidadãos”, salientou.

Dentre as obras concluídas na localidade, o destaque recai para a construção de 100 fogos habitacionais, que já está habitado, do Posto Policial Municipal e residências para o comandante municipal e adjunto, casas protocolares, edifício da Administração Municipal de Ngonguembo, Palácio Municipal, instalações do Balcão Único do Empreendedor (BUE), espaço de cultura (Clube) e o parque infantil.

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