O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas anunciou, ontem, a chegada do primeiro carregamento de bens à região sudanesa de Darfur, seis meses depois de negociações com as autoridades locais, numa região onde o conflito armado impede o abastecimento de alimentos à população.
Dois comboios com alimentos e outros bens atravessaram a fronteira do Chade para Darfur, no final do mês passado, para permitir assistência a cerca de 250 mil pessoas das regiões central, norte e oeste, indica a agência da ONU.
O PAM lamenta o tempo perdido em negociações prolongadas após as autoridades sudanesas de Port Sudan City terem revogado, em Fevereiro, as autorizações para estabelecer corredores humanitários a partir do Chade.
Mais de 3,4 milhões de pessoas necessitam, "urgentemente" , de uma resposta humanitária no Chade, segundo a organização Acção Contra a Fome (ACF), devido ao afluxo maciço de refugiados que fogem da guerra no Sudão e ao "subfinanciamento".
"Cerca de 3,4 milhões de pessoas encontram-se, actualmente, numa situação crítica de insegurança alimentar no Chade. As províncias de acolhimento no Leste estão entre as zonas mais vulneráveis do país, com fraco acesso aos serviços básicos, e a chegada de refugiados está a agravar, drasticamente, as necessidades", disse a ONG num comunicado de imprensa, divulgado pela AFP.
O Chade, um dos países mais pobres do mundo, alberga cerca de 1,4 milhões de pessoas deslocadas internamente, ou refugiadas, em consequência de conflitos no interior do país e entre os seus vizinhos. De acordo com a ONU, antes do início de uma nova guerra civil no Sudão, em meados de Abril de 2023, o Chade já albergava mais de 400 mil refugiados que fugiram da guerra que devastou o Darfur entre 2003 e 2020. Actualmente, são quase 900 mil, 88% dos quais, mulheres e crianças.
A
ACF alerta que "o número de casos de desnutrição aguda grave previsto,
entre Outubro de 2023 e Setembro de 2024, é de 480.000 crianças", um
aumento de 15%. Em Novembro de 2023, a Organização Não-Governamental (ONG)
Médicos Sem Fronteiras já estava preocupada com o facto de a taxa de
desnutrição aguda grave entre as crianças refugiadas sudanesas em alguns campos
ter atingido 4,8%, "o dobro do limiar de emergência determinado pela
Organização Mundial de Saúde (OMS)".
Reforço do financiamento humanitário
O director da ACF para o Chade, Henri-Noël Tatangang, disse ser "urgente que os doadores garantam um financiamento sustentável para a resposta humanitária", estimando que o plano de resposta se situa, actualmente, em "apenas 4,5%".
A ONG receia que a situação se agrave com "a chegada da estação das chuvas e das vacas magras", o que "aumentará as necessidades e, ao mesmo tempo, tornará muito mais difícil o acesso às comunidades vulneráveis, em todo o território".
Em meados de Fevereiro, o Presidente de transição, Mahamat Idriss Déby Itno, declarou o "estado de emergência alimentar e nutricional" no vasto Estado centro-africano, sem, no entanto, especificar as acções a empreender ou a população afectada. No mês seguinte, o Programa Alimentar Mundial anunciou a suspensão da ajuda para o mês de Abril", devido a restrições financeiras" e lançou um apelo aos doadores para evitar "uma catástrofe total".
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