Para narrar estes factos históricos, a equipa de reportagem do Jornal Metropolitano de Luanda ouviu António Januário, catequista da comunidade da vila, que considerou que a Paróquia está intimamente ligada ao município e que o seu surgimento deriva da transformação da antiga comunidade cristã local, num esforço de Baptista Peixote, um angolano natural da província do Huambo que veio trabalhar nas Salinas em companhia de outros três elementos, nomeadamente Horácio, António e Manuel, todos naturais do Huambo.

António Januário conta que transferido para actual vila de Cacuaco, na condição de trabalhador das Salinas, Baptista Peixote que chegou a Luanda já convertido pela palavra de Deus, empenhou-se na fé e, nos seus tempos livres, passou a evangelizar, de casa em casa, a população, constituída, maioritariamente, por pescadores que residiam no espaço onde está o actual Mercado Municipal. Era a denominada aldeia.

Como bom fiel, Baptista Peixote realizava os cultos com os fiéis, inicialmente, ao ar livre e depois numa capela de pau-a-pique. O facto chegou aos ouvidos da comunidade católica de Luanda. Comovido com a informação, o então padre Avelino, de nacionalidade portuguesa, que residia na Paróquia de São Domingos, em Luanda, e que vinha ao Cacuaco, apenas, aos domingos para a celebração da missa, reuniu com os fiéis pescadores para que indicassem o nome do padroeiro e erguer a capela, à qual foi atribuída o nome de São João Baptista.

Para dar maior dinâmica à comunidade católica, o padre Avelino voltou a manter um encontro com os locais, pedindo-lhes que contribuíssem com um valor monetário para trocar a imagem de São João Baptista, que veio a se tornar o pa-droeiro da paróquia.

Em 1954, ano Mariano, os padres capuchinhos construíram a capela da vila de Cacuaco que é, até agora, a primeira estrutura definitiva classificada como igreja.

Adoração e conversão de fiéis

A partir do momento da chegada da imagem do referido padroeiro, os fiéis passaram a adorá-la e durante a celebração de cada missa, colocavam-na numa mesa e no período da manhã ajoelhavam-se diante da mesma para rezar.

"Depois de um certo tempo, vários populares foram convertidos e baptizados. Criaram a primeira comunidade que deu surgimento da igreja a nível da comuna que ensinava a doutrina da igreja ao povo”, disse António Januário.

Segundo o nosso entrevistado, a ideia do povo pescador era de que  São João Baptista tinha vindo do deserto para abençoar o mar e o desempenho da actividade piscatória na circunscrição, razão pela qual, no momento das festividades do padroeiro, os pescadores levavam e continuam a levar a imagem do Santo ao mar para peregrinação.

Da mesma forma, lançavam e ainda lançam ao mar dinheiro, alimentos, bebidas e vários adereços com cânticos como gesto de agradecer e ver aumentada a pescaria na zona.

Fiéis saídos de vários pontos de Angola

O catequista António Januário referiu que a capela de São João Baptista, por ser um templo histórico, é frequentada por fiéis nacionais e estrangeiros saídos das 18 províncias do país. Os peregrinos que procuram a capela afirmam sonhar com revelações que os indica que devem vir à igreja para fazer o trabalho de oração, no sentido de ultrapassar qualquer problema que os aflija.

Segundo conta António Januário, patologias como perturbação mental, infertilidade, problemas familiares, laborais e doenças tradicionais têm sido as maiores ocorrências, mas que são curados desde o momento que o devoto coloca os pés dentro da igreja, acontecendo naturalmente o milagre

" Um dos vários milagres que tivemos foi o de uma senhora, da Igreja Universal do Reino de Deus, que chegou, por indicação de alguém, nessa capela de São João Baptista com o filho num estado muito grave. Vinha de um hospital onde não apresentava melhoria”, testemunhou.

Quem foi João Baptista

João Baptista nasceu milagrosamente em Aim Karim, cidade de Israel, que fica a 6 quilómetros do Centro de Jerusalém. Seu pai era um sacerdote do templo de Jerusalém, chamado Zacarias, e sua mãe foi a Santa Isabel, que era prima de Maria, mãe de Jesus. Ele foi consagrado a Deus desde o ventre materno. Em sua missão de adulto, ele pregou a conversão e o arrependimento dos pecados, manifestos através do baptismo. Ele baptizava o povo, daí o nome João Baptista, ou seja, João, aquele que baptiza.

 
Primeiras congregações

A primeira Congregação em Cacuaco foi a das Irmãs Salesianas. Chegaram no dia 1 de Outubro de 1988, seguidas pelas Irmãs da Santíssima Trindade, que chegaram no dia 15 de Setembro de 1999, enquanto a igreja passou a Paróquia em 2008, sendo o seu primeiro pároco, André, da Congregação de Verbo Divino.

A Paróquia do São João Baptista tem aproximadamente 16.500 servos e conta com 13 comunidades de fé, que estão sob responsabilidade  da Diocese de Caxito.

Testemunhos

Maria Filipe, devota de São João Baptista há mais de trinta anos, referiu que anteriormente quando se aproximavam as festividades do padroeiro, vinham devotos de todos os municípios de Luanda. Pernoitavam fora do recinto da igreja e, ao longo da noite, rezavam o terço, faziam orações individuais e entoavam cânticos.

De acordo com a devota, dentro da igreja já houve registos de pessoas que foram a óbito pelo facto de chegarem já com a saúde muito degradada. Mas, acreditavam que teriam o milagre da cura.

Outra devota é Margarida Sonhi, de 86 anos de idade. A anciã disse ao Jornal Metropolitano de Luanda que tem participado em todas as festas para clamar a favor de sua família, para que alcance a prosperidade e a saúde do corpo e da alma.

"Sou natural da província do Moxico, vivo no município de Cacuaco há mais de 40 anos. Tenho a lembrar que no passado, as missas de domingo eram realizadas na casa das madres, que fica no bairro dos Pescadores. Mas com o passar do tempo, mudou-se para a igreja da vila”, disse.

Há muito tempo nas peregrinações, Margarida Sonhi explicou, ainda, que os devotos que vinham de outros municípios e de outras províncias traziam o seu farnel, enquanto os munícipes de Cacuaco cozinhavam fora da igreja.

Os cristãos traziam ainda valores monetários, bebidas, como refrigerantes e bens alimentares para dar à Paróquia no momento do ofertório que acontece durante a celebração da Santa Missa.

Por sua vez, a anciã Conceição Lourenço, 84 anos, devota do grupo de legião de Maria, da mesma Paróquia, disse que vai ao santuário em busca de paz, saúde, protecção divina e para apresentar as dificuldades do quotidiano.

No entender dessa idosa, " ao louvar  São João Baptista, os fiéis colocam-se sob a sua protecção e inspiram-se nele como modelo para as suas vidas, tendo em conta o seu percurso histórico como homem bastante humilde, caridoso e forte”, manifestou.

Conceição Lourenço já não consegue caminhar por conta da idade avançada. Quando era mais nova, contou à reportagem do Jornal Metropolitano de Luanda, trabalhava na Igreja com outras irmãs que já não fazem parte do mundo dos vivos.

"Nós limpávamos a igreja toda e rezávamos o terço todos os dias com as irmãs”, revelou.

Tal como as figuras acima citadas, Teresa Elias é devota da referida Paróquia e vendedora de artigos religiosos, como bíblias, terços, camisolas, panos e perfumes. A senhora, além de contribuir para a expansão do evangelho, é da comercialização desses artigos que busca, muitas das vezes, o sustento para a sua família.

 Teresa Elias é também catequista da Paróquia, de onde afirma ter recebido muitas bênçãos de cura e libertação, tendo em conta que não gozava de boa saúde, mas que, desde que começou com a devoção, no ano de 2007, tem registado melhorias na sua vida.

A catequista revela que a grande vantagem que teve na igreja está ligada à sua formação profissional, pois, concluiu com sucesso os cursos de Catequista, Bíblico, Administração, Pastelaria e Decoração.