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Portugal: Ex-líder do CDS-PP pede espaço para o Governo de centro-direita

Numa altura que Portugal tenta normalizar a actividade política, após passar por uma curta “crise governamental”, o antigo líder do CDS-PP Paulo Portas sublinhou ser preciso deixar o novo Governo de centro-direita trabalhar, rejeitando alimentar qualquer polémica que possa prejudicar o actual exercício da coligação AD.

23/04/2024  Última atualização 11H41
Portas disse que era preciso dividir o sacrifício dos tempos difíceis por todos os portugueses © Fotografia por: DR

"Estamos em 2024, acabou de chegar um Governo de centro-direita, não vejo qual seria a utilidade de contribuir para essa polémica”, comentou Portas, ao falar dos momentos sombrios da era Passos Coelho, dando nota que considerava a troika "um mal necessário, enquanto o então Primeiro-Ministro encarava-a como "um bem virtuoso”.

Portas e Coelho abraçaram uma coligação governamental para superar a crise económica e financeira que deixou Portugal à beira da bancarrota. Nessa altura, a TSU dos reformados era dos temas mais difíceis, confessa o então líder do CDS-PP. Num quadro político não muito diferente, a coligação AD tenta convencer a oposição a deixar passar medidas essenciais para tirar os portugueses da aflição financeira, sob pena de empurrar, novamente, o país às urnas, quase dois meses das últimas legislativas.  

"Às vezes Passos Coelho achava ou dava a entender que achava a ‘troika’ um bem virtuoso, eu achava a ‘troika’ um mal necessário”, afirmou Paulo Portas, domingo, no seu espaço de comentário televisivo na TVI, em resposta às declarações do então Primeiro-Ministro e parceiro de coligação governamental durante o período em que Portugal esteve sobre intervenção da União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional.

Na semana passada, em entrevista ao ‘podcast’ "Eu estive lá”, da rádio Observador, o antigo presidente do PSD, em conversa com a jornalista Maria João Avillez, revelou que durante o seu Governo com o CDS-PP, a ‘troika’ sinalizou "a partir de certa altura” que havia um problema de confiança em relação ao parceiro de coligação e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, e "passou a exigir cartas assinadas” por ele.

"Julgo que ele não sabe isto: para impedir uma humilhação do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, obriguei o ministro das Finanças a assinar comigo e com ele a carta para as instituições. Assinámos os três. A ‘troika’ exigia uma carta só dele. Porque não confiava nele”, contou Passos Coelho.

Questionado sobre se sabia desta exigência para que assinasse cartas, Paulo Portas disse que assinou várias cartas para a ‘troika’ e assinalou que "em democracia, quem dá mandatos de confiança são os portugueses”.

Afirmando que "quem não se sente, não é filho de boa gente”, Paulo Portas considerou que os comentários do antigo Primeiro-Ministro "não foram apropriados, nem justos”, mas recusou "usar conversas privadas entre líderes políticos” e entrar "em polémica pessoal” com Passos Coelho.

Paulo Portas lembrou que coincidia com Passos Coelho na necessidade de resolver o problema da insolvência de Portugal, em cumprir um memorando da "troika” que não tinham negociado e em procurar encontrar uma saída limpa de Portugal do programa de emergência, mas apontou a TSU dos reformados como uma das principais divergências e um "momento difícil” na coligação.

"Não raramente, Passos Coelho usava a expressão do "ir além da troika”. Sempre fui mais céptico sobre essa ideia. Para mim, para aguentar aquele programa que resolvesse a falência de Portugal e nos permitisse recuperar a nossa normalidade era preciso coesão social na sociedade portuguesa, que as pessoas sentissem que os sacrifícios eram equitativos, as restrições eram distribuídas e não passavam um certo limite”, disse.

"A TSU das pensões foi um dos momentos difíceis. A medida vinha como estrutural, portanto obrigatória de cumprimento e condição de financiamento. Depois dessa tensão, essa medida passou a opcional e deixou de ser condição de financiamento. Eu achava que era uma penalização dupla sobre os pensionistas, que passava os limites e ia criar a ideia nos idosos de que estavam a ser escolhidos como alvo num programa. Acho que o tempo me deu razão”, afirmou, adiantando que seis meses depois a medida se revelou desnecessária.

Para Paulo Portas, se a medida não era necessária, "provavelmente era exagerada” e, para o agora comentador, com "um bocadinho mais de flexibilidade e um bocadinho menos de rigidez”, o programa poderia ter-se feito "sem desequilibrar em excesso socialmente a coesão do país”.

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