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A circulação de veículos na zona do Hogiwa, um importante nó rodoviário na EN 100, a cerca de 70 quilómetros da vila de Porto Amboim, província do Cuanza - Sul, continua a ser feita sob graves restrições, com muitas viaturas, sobretudo as pequenas, a não conseguirem a travessia.
Sombo é um rio situado a seis quilómetros da vila com o mesmo nome. Deriva, provavelmente, de uma árvore conhecida por mussombo, predominante na região, abençoada com campos férteis e uma fauna que requer a atribuição do estatuto de parque nacional.
A estrada de terra batida serpenteia pela selva como fita amarrotada. A areia é o principal inimigo, enfrentado apenas por condutores ousados, num troço de 136 quilómetros, dos mais de 170 que separam a sede comunal do Sombo e o município e a capital da província, Saurimo, na província da Lunda-Sul.
O conforto da viagem na via asfaltada termina aos 46 quilómetros da saída do casco urbano. O tapete infinito de areia aconselha uma condução prudente, cujo grau de dificuldade aumenta desafiando a potência das viaturas e a perícia de quem segura o volante.
A conversa entre três passageiros a bordo de uma viatura Suzuki Jimmy está animada. O roncar suave do motor e o chiar de pneus no contacto com o pavimento transmitem confiança, e os prognósticos apontam para uma viagem de quatro horas.
Estamos em Sacazanga, primeira comunidade a 66 quilómetros da vila do Sombo. Para trás ficou um percurso impiedoso transposto mediante recurso obrigatório e repetido do sistema de tracção às quatro rodas e senso de orientação, em meio às "teias de escapatórias” para contornar perigosos bancos de areia.
Alto, franzino, barbinha meio grisalha, chapéu à cabeça, rosto endurecido pelo sofrimento e peso da idade, o soba José André Sacazanga, sentado numa cadeira de plástico, lamenta o isolamento provocado pela degradação da via.
"Este é o principal de todos os problemas”, começou por dizer o representante da autoridade tradicional, tratado com "muito respeito” pelos mais de 160 residentes, herdeiros de um legado de valores passados pelos seus ancestrais. Estão sem água há mais de quatro anos por causa de uma avaria no sistema de bombagem instalado no furo artesiano.
Lavando descontraídas a roupa numa "piscina natural”, as jovens Zita Nela e Justa Ipanga correspondem, simpáticas, à saudação, durante uma constatação ao rio Canjamba. O esforço de escalar o troço durante 25 minutos é, para elas, um exercício de rotina, tal como pisar o bombó à mão, num pilão, como fez a adolescente Francisca Eugénia, que aos 14 anos já vive com marido, apesar de partilharem a mesma mesa com os pais.
O aspecto cristalino da água esconde o poder da ferrugem que o consumidor desvenda no reservatório cheio. "A água ganha tonalidade castanha, como se fosse chá”, notou a administradora, enquanto sacia a sede por alegadamente estar habituada.
A gestora da comuna acredita que com a "visita recente” de uma equipa da empresa MCA, integrada por uma supervisora da EPAL, a comuna pode, nos próximos tempos, reactivar o abastecimento de água.
Rio
dos jovens
Enquanto a situação prevalece, os habitantes buscam água de qualidade duvidosa, na baixa de Txamucolo, a partir de um riacho. O acesso à fonte é um desafio de equilíbrio, resistência e coragem. Inicialmente leve, descai acentuado depois de 300 metros. A fase imediata do percurso "gera arrependimento”.
A escavação feita para regularizar o pavimento exibe lances de degraus rudimentares. Fértil em ribanceiras carcomidas pela chuva, o percurso culmina numa baixa lamacenta, com um espaço de travessia coberto por paus estendidos. A partir de um tubo colector os moradores tiram água para o banho e enchem recipientes para de seguida escalarem a montanha.
"É o rio dos jovens”, afirma a administradora, com um leve sorriso, antes de apontar para o "rio dos mais velhos”, assim designado por conta do menor grau de dificuldade para aceder ao local.
Fernanda Mingas enaltece, entre os vários apoios que recebe da Administração Municipal, "a normalização da merenda escolar à base de bolachas e sumos”, para alunos da iniciação à segunda classe, entre 650 alunos matriculados até à décima classe.
Beneficia
também de verbas para a compra de medicamentos, combate às doenças diarréicas
agudas, dores lombares e de coluna, que dominam as queixas dos pacientes. O nível
de atenção permitiu a empresa Catoca incluir nos seus projectos/programas,
financiamento à mulher rural, jovem empreendedor e apoiar alunos e outras iniciativas.
Gerador de 80 KVA inoperante
Uma torre de ferro, alta e pintada em branco, suporta uma base sobre a qual quatro reservatórios plásticos com capacidade de dez mil litros cada, inoperantes, desponta vaidosa ao lado de dois geradores de energia de 80 e 60 KVA.
Tentativas de recuperar o maior gerador fracassaram, em consequência de duas descargas de que foi vítima. O seu "irmão menor” aguarda silencioso pela reposição de um alternador. A falta de água, energia e o mau estado da via de acesso reuniram consenso na lista de dificuldades apresentadas pelo soba de Muacongolo, Joaquim Agostinho Txicosso, e pelo morador Domingos Muhangi.
O comandante da esquadra local da Polícia, Artur Baptista, caracteriza o território do Sombo como "calmo, com uma população modesta, que sobrevive à base da agricultura”.
Na hora da conversa, a administradora local, Fernanda Mingas, confirma, sem rodeios, a dificuldade de acesso nos mais de 130 quilómetros, dos 172 que ligam a comuna à sede municipal de Saurimo, capital da província da Lunda-Sul.
Acrescenta que uma avaria no principal gerador impede, há cerca de seis anos, o bombeamento de água a partir de uma ETA instalada junto ao rio Canjamba, a mais de dois quilómetros. É a mesma razão que impede o fornecimento de energia eléctrica para os 220 populares, dos mais de 3.600 controlados na comuna.
Armazém abandonado
No antigo Sombo Sul, um armazém e uma espécie de escritório ao lado resistem ao tempo. Para o armazém espaçoso, com paredes praticamente intactas, erguidas à base de blocos queimados, aportavam toneladas de produtos agrícolas, resultantes do tributo que as famílias rurais davam pela semente distribuída por agentes ao serviço da administração colonial, em cada início de época agrícola.
Em Cazar, localidade a seguir, situada a poucos quilómetros, na mesma via, um posto de saúde, escola e tanque aéreo para o abastecimento de água sinalizam o início de um processo de urbanização, que aguarda por outras realizações.
Entre manobras complexas e derrapagens forçadas, a "picada” oferece uma trajectória rica em desníveis. O amarelo atraente de maboques comestíveis expressa a generosidade da natureza, selvaticamente atacada pelo fogo que altera o aspecto e sabor do fruto silvestre.
Na entrada para a vila do Sombo, o visitante avista um bairro organizado, em que os pátios abertos das casas confundem os limites da via. As crianças saúdam os visitantes, gesticulando, alheias ao olhar curioso de adultos sentados ou a circularem pelo bairro.
Dezenas de mangueiras floridas, devidamente alinhadas, formam o verde que empresta à vila do Sombo, habitualmente calma e limpa, um ar acolhedor. Vila adentro, o visitante experimenta alguma dificuldade para caminhar, devido à presença de muita areia.
A conservação do edifício da Administração local, seis casas geminadas, o centro de saúde, uma escola de 12 salas, esta última erguida com fundos do PIIM, ao lado da antiga, de três salas, valorizam os investimentos realizados.
Terra que tudo produz
Nascido em Sacazanga e a viver do cultivo da terra, que "tudo produz”, Pedrito Txihinga está a preparar 70 sacos de bombó. Os seus contemporâneos, Loriano Manhica, com seis sacos de bombó, e Adilson Txuma, com oito, "imploram aos céus”, há uma semana, por transporte, para viajarem para Saurimo, a fim de venderem os produtos no
mercado informal. Habitualmente, o transporte custa ao passageiro o valor de 3000 kwanzas. Por cada saco de 50 quilogramas pagam o valor de 2000 kwanzas.
O sal, óleo alimentar, peixe e sabão são os produtos de eleição na lista de compras, para abastecer a dispensa de casa, numa localidade onde a venda de bebidas alcoólicas, principalmente os famosos "pacotinhos”, é a fonte de "prosperidade” para alguns.
Extensas zonas planas com vegetação dizimada por queimadas anárquicas permitem, ao viajante, enxergar a natureza a uma profundidade de dezenas de metros, para resgatar o sentimento de segurança beliscado por horrorosos cenários de avistamento de leões, onças e outras feras.
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