Reportagem

Talentos do jornalismo forjados na Huíla

César André

Jornalista

A província da Huíla, concretamente a cidade cosmopolita do Lubango, sempre foi considerada, nos tempos da outra senhora, um dos principais viveiros de profissionais da comunicação social, à semelhança das circunscrições do Huambo e Benguela. Considerada “berço” do rádio-jornalismo no país, a província da Huíla, concretamente a cidade do Lubango, foi durante muitos anos grande promotora da formação de quadros nessa área da comunicação social.

04/06/2023  Última atualização 10H05
© Fotografia por: Edições Novembro

A anteceder a independência nacional, a cidade do Lubango, então Sá da Bandeira, forjou grandes "penas” do jornalismo, que viriam a dar cartas além fronteiras, sempre na vertente da rádio.

Estamos a falar de Emídio Rangel, grande profissional de rádio, nascido a 21 de Fevereiro de 1947, na cidade de Sá da Bandeira, jornalista que fundou a rádio TSF e foi o primeiro director de informação e de programas da estação televisiva privada SIC, em Portugal.

Outras vozes se destacaram na antiga Rádio Clube da Huíla, com realce para Sebastião Coelho, Diamantino Pereira Monteiro, Leonel Cosme, Leston Bandeira, Arouca, Octaviano Correia,  José Roberto, entre outros.

Quando se abordam questões relacionadas com a criação da  Rádio Clube da Huíla, no tempo colonial, é incontornável falar de um dos seus "gurus”. Trata-se  de Horácio Sousa Reis, um profissional de mão cheia, nascido em Portugal, em 1948, e que veio para Angola em 1968 em companhia dos pais.

Notabilizando-se no Lubango, com crónicas apimentadas com críticas à governação local e a certos sectores da sociedade, Horácio Reis é por assim dizer um dos profissionais de rádio  mais cotados no Lubango. Ele por lá permanece, apesar das vicissitudes e agruras da vida.  

Um dos mentores da criação da Rádio 2000, em companhia do radialista Carlos Andrade, outro profissional de grande dimensão, poliglota e mestre de locução, Horácio Reis tem um historial em que consta que teve passagens airosas, ainda no tempo colonial, como estagiário em 1968/69 na Rádio Comercial de Angola, passando pela Rádio Clube do Moxico, e, posteriormente, pela Rádio Nacional de Angola na Huíla.

De resto, foi na região Sul, concretamente na Rádio Clube do Lubango, que emergiram, no período pós-independência, outras grandes vozes que animaram os programas de entretenimento,  noticiários e outros.

A primeira geração de profissionais da comunicação social, actualmente referência obrigatória, teve como primeiro director da Rádio Huíla, no período  pós-independência, o jornalista Carlos Caldeira, falecido nos anos 80 num aparatoso acidente de viação. É nesse período que a Rádio Huíla viu nascer outra nata de brilhantes jornalistas, profissionais bastante competentes, como foram os casos de Celso Valdemiro Ferreira do Amaral, Laurinda Santos, Joaquim Gonçalves, Emídio Gordo e  Mendonça (irmão mais velho de Trigo).

Nos anos 80 seguiram-se outros profissionais de rádio, que hoje são grandes referências do jornalismo radiofónico, como são os casos de Manuel Madureira, Horácio Pedro e Mateus Gonçalves. 

O veterano  jornalista Arlindo Macedo, proveniente da província do Huambo,  também teve uma passagem pelo Lubango, onde se forjou ou  "bebeu” da escola da antiga Rádio Clube da Huíla, tornando-se depois numa referência do jornalismo na área  desportiva.

Seguem-se outros profissionais, alguns já falecidos e outros reformados. Trata-se, por exemplo, de Santo António (Satyano Satiabeno), Pierry, Nazaré Diogo, Maria Fernanda, Aurora Guerreiro, Rosa Gonçalves, Rui de Sousa (Xibeca), José da Nóbrega, Nogueira Júnior, Pepé António, Silas Silvestre, Prazeres dos Santos, Alexandre Neto Solombe, Pedro Paulo, Emerenciana da Cruz, Joaquim Armando, Rebelo Viegas, Eusébio Lino, Joaquim Almeida e Guilherme Edissanje.

A lista dos profissionais forjados na Rádio Huíla é extensa e constam dela ainda nomes como Sara Valdez, Mito Gaspar, Manuel César Categoria, Gizela Borges, Horvanda Andrade, Cristina Miranda, Nádia Camaty, Paula Miranda, José Roberto "Tio Zito”,  Domingos de Sousa, Pais Brandão e Alberto Sekeseke, este último proveniente da província do Huambo.

Os jornalistas António de Sousa e Manuel Esperança, provenientes da província de Cabinda e idos para o Lubango por motivos académicos, foram igualmente "contagiados” pela febre do rádio-jornalismo huilano. Hoje  dão cartas na Rádio Nacional de Angola. O primeiro é um dos pivot dos serviços noticiosos centrais, enquanto que o segundo é repórter presidencial.

A nova geração de jornalistas radiofónicos  começou a sobressair no ano 2000 com o surgimento da Rádio 2000 no Lubango, e não só. É assim que surgem novas referências de "escribas”, como são os casos de Manuel Vieira, Moisés Sachipangue, Gabriel Niva, Regina Reis, Lídia Marta Vindula, Esperança Java, Morais Augusto da Silva, João Baptista, entre outros.

Luanda sempre foi o refúgio dos jornalistas saídos do Lubango em busca de melhores condições de vida. E que normalmente conseguem afirmar-se por mérito próprio, dando  "cartas” e se estabilizando profissionalmente.


HORÁCIO PEDRO
"Uma grande escola”

Horácio Pedro, veterano jornalista da Rádio Nacional de Angola, diz que o Lubango sempre foi uma grande escola na vertente de radiodifusão.

"Temos boas referências no respeitante à dicção, à inflexão de voz… à musicalidade da voz, fruto da elaboração dos magníficos programas de rádio. E, sem complexos, aprendemos uns com os outros”, disse Cambole, como Horácio Pedro é tratado pelos mais próximos.

Grande referência do jornalismo radiofónico nacional, Horácio Pedro disse ainda que os jornalistas huilanos "são dotados de capacidade natural de fazer rádio, porque por lá passaram os grandes ‘dinossauros’ da profissão, como Leston Bandeira, Perestrelo, Leonel Cosme, Horácio Reis, Miguel Reis, Octaviano Correia... homens fortes do rádio-jornalismo e que a geração  subsequente sempre procurou prestigiar e honrar. O próprio Mesquita Lemos (que Deus o tenha) era huilano, natural dos Gambos”.

Antigo colega de Mateus Gonçalves e Manuel Madureira, grandes referências do jornalismo radiofónico, Horácio Pedro disse sentir saudades dos velhos tempo no Lubango, e recorda, com nostalgia, alguns profissionais amigos que já partiram para outra dimensão.

"Estou a falar do Celso Amaral, que tinha uma voz inconfundível, o grande sonorizador Perry,  o Nazaré Diogo, o Rio Alves, o  Santo António, enfim, é a vida”, disse o nosso interlocutor com uma lágrima no canto do olho.

Recordou que os testes de admissão e o seu período de estágio na Rádio foi acompanhado milimetricamente pelo antigo profissional Celso Amaral, que era o director, na altura. Conta Horácio Pedro, sublinhando: "Entramos para a Rádio no mesmo mês e em semanas diferentes: o Madureira, eu e depois o Mateus Gonçalves. O Gordo já lá estava”.

"Quando, em 1980, fomos admitidos na Rádio Huíla, os jornalistas Joaquim Gonçalves, Laurinda Santos e o Mendonça (irmão mais velho do  Trigo)  já estavam em Luanda a dar cartas na profissão”.

Para além desses profissionais, de acordo com Horácio Pedro, "a Rádio Huíla tinha outras figuras como o Gustavo Arouca, ido de Benguela, da Rádio Lobito, o José Luís, o Magalhães, o Nélson, irmão do Grelo, o Álvaro Dias e o Gabriel Avelino”.

O veterano jornalista disse mais adiante que, "de forma efémera, passaram pela Rádio Huíla o grupo do Nelson, o João  Pinto e o João Gonçalves ‘Yeyé’. O Alves da Silva  começou a fazer rádio na província de Benguela, passou pela Rádio 2000 Antena Comercial e depois partiu para Luanda, onde hoje é figura incontornável da Rádio Cinco”.

Horácio Pedro entende que os jornalistas da província da Huíla viajam e acabam por se instalar em  Luanda porque "se chega a um determinado nível que achamos que podemos dar mais, com a nossa capacidade de produção radiofónica, à nação, ao engrandecimento da rádio na sua extensão nacional”.

Assegurou que, fruto disso, estão aí, à vista, ou melhor, ao alcance dos ouvidos, "as inúmeras vozes que preencheram e preenchem  o mosaico radiofónico nacional. Bem haja Huíla por ser esse berço do rádio-jornalismo do país”.

A Rádio 2000 Antena Comercial tem vindo a dar o ar da sua graça, lançando profissionais de valia no mercado.  A instituição, que emergiu na febre dos rebentos dos meios de comunicação social privados, depois da adopção da democracia como sistema político na República de Angola,  em 1991, mediante a aprovação  da Lei Constitucional, apesar de algumas crises internas, tem se afirmado no mercado da radiodifusão nacional.


Cartas dadas também na imprensa

Não só do rádio-jornalismo vivem as populações huilanas. A imprensa escrita também deu o ar da sua graça nos anais do jornalismo na província, com a criação e implantação, em 1980, das delegações regionais da Huíla e Cunene do Jornal de Angola e da Angop.

Esse gesto positivo  do Governo Central veio dar um impulso considerado crucial para o desenvolvimento e expansão da comunicação social naquela região, e não só.

Nesta empreitada inicial, destacaram-se os jornalistas Francisco Costa "Tico Costa” -  primeiro delegado regional (Huíla e Cunene) da Angop - bem como Luconde Luansi, primeiro   delegado regional do Jornal de Angola. Ambos tiveram um papel importante na formação de jovens jornalistas nas duas províncias.

Nos anos subsequentes, a formação de novos talentos da imprensa escrita teve continuidade com a ida ao Lubango do jornalista e escritor David Mestre, pela Angop, e Leonel Libório, pelo Jornal de Angola, como responsáveis das respectivas delegações regionais.

A acção  formativa dos "escribas” não ficou por aí. Os jornalistas António Piçarra, que substituiu David Mestre na Angop, e Tico Costa, que saído da Angop transitou para o Jornal de Angola, onde rendeu Leonel Libório, deram continuidade ao projecto de formação, que, diga-se em abono da verdade, contribuiu para o surgimento de uma nova geração de jornalistas.

Profissionais como Gabriel Sobrinho, Fernando Raimundo, Manuel Fernandes "Mbek”, Miguel Filipe, Rui Perdiz, Leonel Kassana, José Fucato, David Filipe, José Gomes, Joaquim Neto, Carlos Mesquita, só para citar estes, tiveram como grandes mestres os jornalistas acima mencionados.

Era através desta geração de profissionais da comunicação social que a província da Huíla, e Angola inteira, através dos seus despachos informativos, ficavam a saber o que se passava naquela região Sul, durante o período da guerra desencadeada pela invasão do exército sul-africano do regime do apartheid.  Factos ocorridos nos anos 70/80, como o Massacre de Cassinga, o bombardeamento da fábrica Madeiras da Huíla, o ataque aos quartéis da SWAPO no bairro do Mutundo, bem como as incursões armadas do exército sul-africano à comuna de Tchamutete foram reportados pelos profissionais da comunicação social local.

Naquele período, os jornalistas não tinham tarefa fácil. As condições de trabalho e as tecnologias disponíveis em nada eram comparáveis às existentes hoje em qualquer redacção, onde a internet facilita a vida do profissional.

Para além do telex, que dava grandes dores de cabeça quando o assunto estivesse relacionado com o envio de trabalhos para a redacção central em Luanda (respectivas sedes), os constantes cortes de energia eléctrica completavam o "menu” das dificuldades.

Naquele tempo, outra situação que embaraçava sobretudo os novos jornalistas eram as máquinas de dactilografia, de marca Olivetti, que muitas vezes não "obedeciam” e as fitas, com uma clara divisão vermelha e preta, ficavam amiúde "encalhadas”. Era uma luta para ajustar o "linguado” e concluir a notícia.  Nada a ver com a facilidade que os computadores hoje proporcionam.

Com o surgimento dos serviços de correspondência do Jornal de Angola e da Angop, a província da Huíla viu nascer o seu jornal local denominado "Omukanda - Jornal da Huíla”, que era liderado pelo jornalista Anastácio de Brito, antigo delegado da Angop nas províncias da Huíla e Cunene.

Com uma redacção de conceituados jornalistas liderados pelo mestre Cristóvão Neto e o malogrado Paulo Maria, ambos, então, profissionais da Angop, o "Omukanda - Jornal da Huíla” tinha também como repórteres Manuel Fernandes "Mbek”, Leonel Kassana, José Gomes, José Fucato e Joaquim Neto, profissionais que se estavam a iniciar nas lides jornalísticas.

A publicação local naquele período contava também com a participação de colaboradores permanentes, como foram os casos de António Cebola e Conceição Luimbi.

Fundada em 1984 por um grupo de empresários privados, o "Omukanda - Jornal da Huíla”, com 24 páginas, tinha uma periodicidade mensal e uma tiragem de cinco mil exemplares. Produzido a "chumbo” pela gráfica local, era impresso em "offset”. O jornal abordava questões relacionadas com a província nas vertentes política, económica,  social,  cultural e desportiva. O seu foco estava virado para os hábitos e costumes das populações Nhaneca-Humbe.

O jornal era bastante procurado e tinha como principais clientes, em termos de publicidade, os grandes fazendeiros e criadores de gado da região Sul. Em  cada edição, os exemplares esgotavam num ápice. Depois de cinco anos em circulação, o jornal fechou as suas portas, pelo facto de  o director, o Anastácio de Brito, ter se transferido para Luanda, a fim de  assumir outros compromissos profissionais.


Surgimento e evolução da televisão na região Sul

O cineasta Óscar Gil Amaral Pereira foi o primeiro correspondente  da TPA na região Sul, onde trabalhou juntamente com o jornalista José Manuel Rodrigues. 

Profissional nascido em 1953 no município da Chibia, província da Huíla, Óscar Gil, na condição de repórter de guerra, com a sua câmara registou pormenores de algumas das batalhas mais famosas do país, como a célebre batalha de Kifangondo, a Norte de  Luanda, em 1975, a detenção, em 1978, dos mercenários ao serviço da FNLA e do exército de Mobutu,  e as imagens colhidas logo após o massacre de Cassinga aos 4 de Maio de 1978.

Óscar Gil  filmou batalhas na região Sul de Angola entre as  FAPLA e o exército sul-africano, nas localidades da Kahama, Mulondo, Mupa e Kuvelai. As imagens foram transmitidas no programa "Opção” da Televisão Pública de Angola.

Cineasta com mais de 40 anos de carreira,  pertencente à primeira geração do cinema  angolano,  a filmografia de Óscar Gil contribui para a perpetuação da memória e a documentação da História  de Angola.

Nos anos 90 Óscar Gil foi substituído por José Manuel Rodrigues, que por sua vez, depois de dois anos, cedeu o cargo de responsável da TPA/Huíla a José da Graça Mendes.

A delegação da Televisão Pública de Angola, naquele período, localizava-se no último andar do antigo edifício da Direcção Provincial de Investigação Criminal, na Rua 1º de Agosto.  Jornalistas como Benjamim Faro, Luís Garrido, Sérgio Rodrigues, Nelito Kundi, Salvador Cagi, Saleth Gonçalves, Filomena Reis, José Kristima, Pais Brandão, Francisco Gordo, e tantos outros, foram forjados naquela estação televisiva. 

A seguir a esta fornada de profissionais, aquela estação de televisão acolheu e formou outros jornalistas, como foram os casos de António Frazão, Eusébio Penofina, Miguel Tito, Germano Adriano, Jaime Pedro, Domingos José, Sara Frazão, Mendes Mário, e outros. 

Importa realçar que, como é próprio do ciclo da vida, muitos dos profissionais nascidos e forjados no Centro de Produção da região Sul, alguns dos quais aqui mencionamos, já são falecidos, e outros estão reformados.


"Fuga” de profissionais para Luanda 

Luanda sempre foi considerado o principal porto seguro para qualquer jornalista singrar, atingindo os mais altos patamares da profissão. É assim que muitos jornalistas formados na Huíla, tanto da imprensa como da rádio e da televisão, se instalam frequentemente em Luanda, onde sonham encontrar melhores oportunidades de emprego e condições de vida. Sobretudo a partir de 1992,com o eclodir do conflito armado pós-eleitoral, assistiu-se a uma grande migração de profissionais da Huíla para Luanda. Grandes vozes da rádio e da televisão e "penas refinadas” da imprensa "invadiram” e mergulharam de corpo e alma na capital do país, onde se impuseram, conseguiram dar cartas e estabilizaram-se profissionalmente.

A título de exemplo, a  Rádio Nacional, a Rádio Ecclesia, a Rádio Mais,  o Jornal de Angola,  a Angop e  a Televisão Pública de Angola, só para citar estes órgãos, continuam a receber, até aos dias de hoje, profissionais oriundos daquelas paragens. Considerado "decano” dos profissionais saídos da Huíla, João Pinto é um jornalista que já passou por vários órgãos de comunicação social. Quadro sénior da Rádio Nacional de Angola, João Pinto conta que veio a Luanda através de um pedido de um colega.

"Para além de passar pela RNA na Huíla, fui, durante muitos anos, correspondente da Rádio Ecclesia no Lubango. Foi através desta Rádio que fui convidado a trabalhar em Luanda, na mesma estação. Com uma certa influência minha,  decidi, posteriormente, chamar talentos que despontavam na Rádio  2000 Antena Comercial do Lubango. É assim que vieram para Luanda, sob minha indicação, os jornalistas Manuel Vieira, Gabriel Niva e Moisés Sachipangue. Este trio revolucionou, na altura, a Rádio Ecclesia - Emissora Católica de Angola”, disse.

Questionado do porquê que os jornalistas da Huíla vêem  Luanda como um porto seguro,  João Pinto sublinha que em Luanda há mais oportunidades. "As condições são outras, razão pela qual os profissionais correm para aqui”, frisou.

Leonel Kassana, profissional que já chefiou a delegação regional Sul (Huíla e Cunene) do Jornal de Angola, actualmente   é o Grande Repórter deste jornal. Ele conta que naquele período não era tarefa fácil trabalhar nas outras províncias. O veterano jornalista diz que havia dificuldades de toda a ordem, sublinhando que quando as comunicações não estivessem estáveis, era necessário deslocar-se ao aeroporto local para contactar um piloto ou aeromoça para que fizesse chegar a Luanda, à redacção central, a carta com os textos noticiosos produzidos. 

Esse tipo de episódio acontecia na maioria dos órgãos de comunicação social instalados na Huíla. A TPA, por exemplo, enviava cassetes, e, às vezes, a pessoa que se prontificava a fazê-las chegar à direcção da estação central em Luanda o fazia dois dias depois, com os conteúdos noticiosos já sem actualidade.

À beira da reforma, LK, como é tratado pelos mais próximos, conta que veio a Luanda não só por causa do eclodir do conflito armado em 1992, mas também a pedido/convite de um familiar. O veterano jornalista conta ainda que muito lhe valeu a experência adquirida ao longo do tempo que trabalhou na província. "Não foi fácil andar mais de duzentos quilómetros em cima de um camião em tempos de guerra para ir reportar a vida das populações afectadas pela seca”, diz.

Aconselhou a nova geração de jornalistas a perceber o quanto foi penoso viver aqueles momentos. "Os jornalistas têm que ser sérios, humildes,  responsáveis, e estar preparados para qualquer situação. E não aparecerem, como se vê hoje, a andar pelas redacções enfatuados, com gravatas e sapatos bico fino, todos vaidosos, feitos funcionários de uma agência tributária”.


Breve historial do Rádio Clube da Huíla

Em Angola, o movimento de rádios era bastante forte ao longo da década de 50. Para debater problemas organizativos dessas estações, o Rádio Clube da Huíla (em Sá da Bandeira, actual Lubango)  chegou a promover um encontro nacional de Rádios Clube. O Jornal de Notícias (da cidade do Porto, Portugal) deu eco aos preparativos dessa reunião, que aconteceu de 20  a 26  Maio de 1957. O encontro, denominado "Primeiro Congresso da Rádio Angolana”, teve como objectivo discutir a  legislação  aplicável às estações emissoras particulares, bem como os problemas administrativos de uma estação emissora particular de radiodifusão.

O evento decorreu no anfiteatro da Rádio Clube da Huíla e abordou, também, temas relacionados com  as relações entre dirigentes e profissionais, definição do profissional de rádio e sua ética  e a defesa dos interesses da classe.

De resto, o Rádio Clube da Huíla admitiria, no começo da década de 1960, profissionais importantes para o seu futuro, como Diamantino Pereira Monteiro, Leonel Cosme e Celestino Leston Bandeira, este que se manteria à frente da estação quase até à independência de Angola.

Dos programas  musicais de então, destaque para os relativos ao fado de Lisboa e de Coimbra, ao folclore do Minho, música ligeira portuguesa e dos festivais da Eurovisão, música orquestral de Glen Miller, Paul Mauriat e James Last. Dados oficiais indicam que a cidade do Lubango foi fundada no dia 19 de Janeiro de 1885, com a denominação  de  Oluvango, nome de um antigo soba da região. Os portugueses já estavam neste território desde 1768. Em 1884 e 1885 chegaram ao Lubango 222 portugueses, mandatados para povoarem o Vale do Lubango. A sua ascensão à vila ocorreu em 1909 e à categoria de cidade em 31 de Maio de 1923.

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