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Tunísia: Detida figura política impedida de concorrer as eleições

Safi Said, opositor político tunisino que, em 2014, desistiu da candidatura às eleições presidenciais, foi detido e acusado de atravessar ilegalmente a fronteira com a Argélia, divulgaram, ontem, fontes judiciais citadas pela Reuters.

26/08/2024  Última atualização 09H10
Safi Said, um dos políticos da oposição, foi condenado, em Junho, a quatro meses © Fotografia por: Direito Reservado

O antigo deputado e escritor Safi Said, de 70 anos, foi condenado em Junho a quatro meses de prisão, acusado de ter falsificado apoios para apresentar a sua candidatura às eleições presidenciais de 2014.

Meios de comunicação social tunisinos noticiaram que o tribunal de Kasserine (centro-oeste) determinou "a detenção do activista político Safi Said e de um acompanhante por atravessarem ilegalmente a fronteira para um país vizinho", a Argélia. A 9 de Agosto, este antigo jornalista explicou que desistiu de concorrer às eleições presidenciais de 6 de Outubro, contra o actual Chefe de Estado, Kais Saied, queixando-se de "desigualdade de oportunidades, grandes obstáculos e falta de clareza nas regras do jogo".

A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) destacou que "pelo menos oito potenciais candidatos foram acusados, condenados ou presos" e, de facto, "foram impedidos de concorrer". Entre estes, incluem-se os líderes da oposição Issam Chebbi e Ghazi Chaouachi e, no outro extremo do espetro político, Abir Moussi, líder do Partido Destouriano Livre (PDL) - que agrupa os nostálgicos do antigo regime de Bourguiba e Ben Ali.

A Tunísia "está a preparar-se para realizar eleições presidenciais num contexto de crescente repressão da dissidência e da liberdade de expressão e na ausência de controlos vitais sobre os poderes do Presidente Saied", acrescentou a HRW, em comunicado. Saied tem sido acusado de viragem para um regime autoritário desde o golpe de 25 de Julho de 2021, pelo qual atribuiu a si todos os poderes.

Contra Saied, que procura um segundo mandato, apenas dois candidatos viram as suas candidaturas aceites: Zouhair Maghzaoui, de 59 anos, antigo membro da esquerda pan-árabe, e um industrial de 40 anos, Ayachi Zammel, líder de um partido liberal. A autoridade eleitoral rejeitou outros 14 pedidos, alegando um número insuficiente de apoios, enquanto vários opositores queixaram-se de requisitos demasiado exigentes para avançarem com uma candidatura.

O Sindicato Nacional dos Jornalistas Tunisinos (SNJT) condenou ontem a decisão do órgão eleitoral de retirar a acreditação de uma jornalista para cobrir as eleições presidenciais depois de questionar a sua imparcialidade e alertar para intimidações contra a imprensa. A afectada, Khaoula Boukrim, editora-chefe do meio digital Tunez Media, publicou nas suas redes o e-mail enviado pela instituição no qual justificou a referida decisão considerando que não tinha prestado "cobertura objetiva, equilibrada e neutra do processo eleitoral" e "não respeitou o código eleitoral nem a ética da sua profissão".

Desde que chegou ao poder, o Presidente Kais Saied tem sido apontado como principal obstáculo ao regresso à normal política e constitucional que a Tunísia deixou de viver desde 2021, quando o actual Chefe de Estado decidiu dissolver as instituições, optou por um por Governo de iniciativa presidencial e deu início ao que chamou de "respostas vitais” para salvar a Tunísia de um Executivo de influência islâmica. A oposição anda dividida  entre os que defendem diálogo com o poder e os que alegam a necessidade de pressão popular por via de manifestações pelas ruas.

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