Sociedade

Um malanjino que venceu as dificuldades e se licenciou

Rui Ramos

Jornalista

Arlindo Luís Dala, filho de Luís Albano Dala e de Vitória Luciano. nasceu em Malanje, mas diz-se “naturalizado” luandense pois aos seis meses os seus pais decidiram rumar para a capital do país à procura de melhores condições de vida.

10/01/2021  Última atualização 16H48
A infância de Arlindo Luís Dala foi muito conturbada © Fotografia por: DR
Sem local para habitarem, foram hospedados em casa de um tio, no meio de enormes dificuldades financeiras, pois o novo agregado familiar trouxe um aumento de pessoas a viver debaixo do mesmo tecto sem que houvesse um aumento de rendimentos nem de espaço.

Mas o pai de Arlindo Luís Dala não se ficou pelos lamentos e procurou trabalho sem desfalecimento, numa luta desesperada por conseguir proventos e consegue entrar na Refinaria de Luanda (Total Fina EFL, agora Sonangol), em 1985, onde trabalhou durante muitos anos, encontrando-se hoje reformado com a categoria de auxiliar de laboratório, enquanto a esposa continua doméstica.

Arlindo Luís Dala começou a estudar em 1993, primeiro na escola Heróis de Kangamba (Samba), onde concluiu a 5ª em 1997.
Em 1998, porém, fruto da desestruturação familiar e a quase ausência de rendimentos, e sendo o primeiro filho, teve de encontrar uma fonte de subsistência para ajudar nas despesas de casa. Assim, começa a vender sacos na antiga praça Angochula, no Prenda, e foi cobrador de táxi.

Mas Arlindo Dala não desistiu. No ano seguinte matricula-se no Colégio Adventista do 7° Dia, onde fez a 6ª e concluiu a 8ª no Colégio Sossego. Em 2002 estuda no Instituto Médio Industrial "Simione Mucune", tendo concluído o ensino médio em 2005, no curso de Electrónica e Telecomunicações.

"Por ironia do destino”, lembra, começou a viver maritalmente e teve de ir à luta ainda com mais sacrifício, a fim de dar sustento à sua nova família. Em 2006 consegue o seu primeiro emprego no Hotel Califórnia (Ilha de Luanda (SS Catering Seevice), com a função de ajudante de cozinha e chefe de sala, mas a sua passagem por este emprego foi curta, durou apenas 5 meses.

Arlindo Dala vai novamente à luta e, no ano de 2007, começou a trabalhar na Ghassist, como auxiliar de placa, foi crescendo profissionalmente, passou pelo Gabinete de Load Control e pelo Gabinete de Qualidade e Auditoria como técnico administrativo.
Enquanto trabalhador não baixou a cabeça e foi sempre à luta pela sua formação, em 2010 decidiu matricular-se na Universidade Independente de Angola, tendo feito apenas o primeiro ano do curso de Electrotecnia, pois teve que cancelar o ano lectivo porque o salário não cobria sequer as despesas de casa.

O jovem malanjino, quase desesperado mas nunca desistente, decide então ficar dois anos em estado de reflexão. "Fui-me preparando lendo muitos livros e tive o ensejo de ganhar gosto pela leitura e assim, no ano de 2013, decidi fazer os testes de admissão na Universidade Agostinho Neto para ingressar na Faculdade de Direito, tendo obtido a nota de 12,5 não fui admitido.”

Neste ano, não fica parado, as dificuldades financeiras eram extremas mas Arlindo Dala não desiste e reabre a matrícula na Faculdade de Direito da Universidade Independente de Angola.

"Durante o meu percurso académico foi despertando em mim o desejo de liderança, tendo sido delegado do 1º ao 4º ano, e neste período fui eleito secretário-geral da Associação dos Estudantes da Universidade Independente de Angola e em 2015 tornei-me presidente interino da associação”.

No ano seguinte cria, com ajuda dos seus colegas da Universidade, a Associação ABC Alfabetizar, para alfabetizar as vendedoras nos mercados, e é actualmente seu presidente. Fruto do seu bom desempenho académico, após a conclusão da sua formação em 2017, foi convidado pelo reitor Filipe Zau para leccionar na Universidade Independente.

Em 2018 começou uma nova viragem na sua vida. No mundo da docência, depois de um curso de agregação pedagógica, participou no concurso público para ingresso de professores no sector da educação, sendo admitido como professor do segundo ciclo.
No ano passado Arlindo Dala foi convidado por Tomás Bica, então administrador do Distrito Urbano do Sambizanga, para trabalhar no gabinete jurídico.

Arlindo Luís Dala define-se a si mesmo como "um jovem irreverente e ousado" e já foi músico no estilo Rap.
"A minha infância foi muito conturbada, cresci no bairro da Samba. uma zona onde tinha todas as possibilidades de ser um delinquente, cresci entre oito irmãos sendo eu o mais velho”, recorda, para acrescentar: "A mãe dos meus filhos faleceu quando eu estava a fazer o segundo ano da faculdade, fiquei com dois filhos menores para tratar sozinho, continuei a trabalhar por turnos e a estudar e, com muito sacrifício, terminei os meus estudos”.

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