Opinião

Uma só China: um caminho irreversível

Osvaldo Mboco

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

Para uma melhor compreensão deste artigo de opinião, afigura-se forçoso um recuo histórico, ainda que telegráfico, à Guerra Civil chinesa, que decorreu entre 1927 e 1949, entre comunistas sob a liderança do Chairman Mao Tsé-Tung, que defendiam uma revolução socialista, o fortalecimento do poder dos trabalhadores e camponeses, contra os nacionalistas sob a liderança de Chiang Kai-Shek, que defendiam a ditadura burguesa do proprietário e capitalismo, onde os primeiros venceram a guerra e os segundos foram forçados a se refugiarem na ilha de Taiwan.

17/05/2024  Última atualização 13H20

Taiwan é uma ilha insular localizada no Oceano Pacífico Ocidental, a aproximadamente 160 km da costa Sudeste da China continental. Com cerca de 394 km de extensão Norte-Sul e 145 km no seu ponto mais largo, possui reservas de carvão, cobre, ouro e outros minerais, possui diversos rios importantes para geração de energia hidroeléctrica, hoje com uma população estimada em 23,7 milhões, com um PIB nominal de 617 biliões, e um PIB per capita de 26.300 dólares, segundo dados do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.

O desenvolvimento inicial de Taiwan pelo povo chinês pode ser rastreado há mais de 1000 anos. Após meados do século XII, os Governos centrais de todas as dinastias da China exerceram jurisdição administrativa sobre Taiwan. Em 1895, o Japão lançou a guerra de agressão contra a China e anexou Taiwan. Em 1943, a Declaração de Cairo estipulou, claramente, que os territórios chineses anexados pelo Japão, incluindo Taiwan, deveriam ser devolvidos à China, o que foi reiterado na Declaração de Potsdam em 1945. Para além das suas implicações históricas e culturais profundas, a reunificação assume um papel crucial na construção do futuro da RPC na ordem global, devido à importância geoestratégica da ilha.

Afirmar que Taiwan faz parte da China não se trata de mera opinião ou ideologia, mas sim reconhecer os factos históricos que provam e sustentam essa afirmação, e pelo reconhecido internacional por grande parte dos países, sendo mais que 180 membros da ONU, nesta ordem de ideias, o princípio de "Uma Só China” constitui a base fundamental para a resolução da questão.

A par deste elemento é importante descrever o famoso princípio "Um país, dois sistemas” que é essencialmente o compromisso de não ingerência no sistema capitalista, adoptado quer pela Declaração Conjunta de Hong Kong de 1984, que previa a devolução desta ilha à China pelos britânicos, que se concretizou em 1997, e quer pela situação idêntica com Macau, cuja transferência da administração passou dos portugueses para a RPC, que se concretizou em 1999 e esta estratégia que o Governo chinês pretende adoptar na questão de Taiwan.  

O princípio de Uma só China é um dos vectores da política externa da RPC e serve de base para relações diplomáticas com outros Estados, daí que uma das exigências da China para com os países que mantém relações diplomáticas, económicas e políticas seja o corte das relações com Taiwan por se tratar de um território que pertence ao Estado. Esta posição da RPC é um instrumento de defesa dos seus interesses nacionais relativamente à ilha.

Por meio de instrumentos pacíficos, a China busca construir pontes de diálogo e cooperação para o caminho da reunificação. A visão da China, quanto ao desfecho da integração de Taiwan à China continental, privilegia a via do diálogo, mas não descarta  uma intervenção militar em último caso. Este facto, a eventual opção militar traria consequências do ponto de vista de instabilidade regional, uma crise humanitária, um conflito de grande escala apesar de a capacidade combativa da China ser muito superior ao de Taiwan. Este provável conflito teria um impacto negativo na economia mundial, tendo em atenção que Taiwan é o maior produtor de semicondutores e um conflito poderia levar a escassez e aumento dos preços no comércio internacional, conjugado a estes factores não interessaria a RPC um conflito militar.

A reunificação da China representa mais do que a mera união territorial. Significa a correcção da História e a união do mesmo povo com o mesmo sangue, a mesma História, língua e entre outros factores. É um caminho histórico inevitável, impulsionado por laços históricos e culturais profundos, pelo desejo de unidade nacional e pelo compromisso da China com o bem-estar do povo chinês.

 

*Professor de Relações Internacionais e mestre em Gestão e Governação Pública, na especialidade de Políticas Públicas

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