Por conta de algum ajuste da pauta aduaneira, concretamente relacionada com a taxação dos produtos de uso pessoal, nos últimos dias, a Administração Geral Tributária (AGT) esteve, como se diz na gíria, na boca do povo. A medida gerou uma onda de insatisfação e, sendo ou não apenas a única razão, foi declarada a suspensão daquela modalidade de tributação, nova na nossa realidade.
Persigo, incessante, mais um instante para privilegiar o sossego. Para a parte maior da raça humana, pondero tratar-se da necessidade que se vai evidenciando quando a tarde eiva as objectivas da vida. Rastos de águas passadas há muito direccionam o moinho para a preciosidade do tempo.
Num mundo repleto de contrastes, onde a luz e a sombra entrelaçam-se na tapeçaria da existência, destaca-se uma verdade com uma claridade inquietante: “A ignorância do bem é a causa do mal”. Este aforismo, simples na sua formulação, desvenda uma complexidade profunda que toca o âmago da condição humana.
A ignorância, neste contexto, não se refere somente à falta de conhecimento ou à ausência de informação, mas a um estado de inconsciência sobre a essência do bem, sobre aquilo que verdadeiramente enriquece a alma e fomenta a harmonia. Quando os indivíduos desviam-se do conhecimento do bem, abrem, sem saber, as portas para que o mal se instale.
O bem, na sua forma mais pura, é um farol que orienta a humanidade através dos mares agitados da vida. É o amor incondicional, a compaixão sem distinções, a justiça que procura equilíbrio e a sabedoria que ilumina os caminhos. Contudo, quando esse farol é eclipsado pela ignorância, os navios da existência humana navegam às cegas, colidindo frequentemente contra os recifes do ódio, do egoísmo, da injustiça e da violência.
A ignorância do bem cria um vácuo, um espaço sombrio preenchido pelo mal nas suas várias manifestações. Como terra fértil sem sementes, esse vazio anseia por ser preenchido, e na falta do bem, o mal encontra o seu terreno para prosperar. É um ciclo vicioso, onde a ignorância perpetua o sofrimento, afastando ainda mais os seres da verdadeira essência do bem.
Todavia, a esperança reside na capacidade inata ao ser humano de procurar conhecimento, de ansiar pela luz mesmo nas profundezas da escuridão. A educação, no seu sentido mais lato, apresenta-se como uma ferramenta poderosa para dissipar a ignorância, revelando o bem em todo o seu esplendor. Não se trata apenas de adquirir informação, mas de cultivar a empatia, reforçar os laços de solidariedade e promover um sentido de justiça que ultrapassa as fronteiras pessoais.
Confrontar a ignorância do bem exige uma viagem introspectiva, uma exploração interior em busca da luz que reside em cada ser. Ao iluminar as trevas da ignorância com o conhecimento do bem, cada indivíduo pode transformar-se num ponto de luz, contribuindo para um mundo onde o mal perde a sua força, não por ser combatido directamente, mas por ser suplantado pela presença radiante do bem.
Assim, a luta contra o mal transforma-se numa celebração do bem, uma reafirmação da capacidade humana de transcender as suas limitações e atingir um estado de existência marcado pela compreensão, pela paz e pela luz. O desafio está lançado: reconhecer a ignorância do bem como a verdadeira causa do mal é o primeiro passo para edificar um futuro onde a luz prevaleça sobre as sombras.
Mário Ndala
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